Rota do Queijo une sabores premiados, história e paisagens deslumbrantes no coração do Brasil, destacando a riqueza da culinária e das tradições mineiras
A Queijaria Paiol Velho é patrimônio familiar de três gerações. (Foto: Reprodução)
Belo Horizonte (MG) – Cultura, identidade, tradição. E muito, muito queijo. Minas Gerais é um daqueles destinos que você consegue sentir o cheiro antes mesmo de chegar. Entre a apuração do queijo e a doçura dos doces, o estado precisa ter lugar cativo na lista de viagens de quem é apaixonado por culinária e história. Por lá, cada sabor conta uma narrativa única. A mais recente é a do Queijo Minas Artesanal, declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO na última semana.
Belo Horizonte é o ponto de partida ideal para quem ama viajar, comer e mergulhar em novas culturas. Rica em história, a capital é considerada por muitos o coração cultural do Brasil, abrigando 62% do patrimônio cultural nacional. Em cada nova porta visitada, um pouco de doce de leite e uma aula sobre tradições. A Crítica percorreu parte da famosa ‘Rota do Queijo’ a convite da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
A verdadeira Rota do Queijo escorre pelas paisagens verdes de serra do interior mineiro. Seguimos por três horas para a região da Serra de Ibitipoca. Pelo caminho, é quase um pedágio: tem que pagar uma visita à famosa Roselanche, em Barbacena. Um paraíso de pães de queijo, goiabadas e sempre com um cafézinho quente.
Lima Duarte é o próximo capítulo dessa imersão na cultura e sabores mineiros. Lá é uma das principais regiões quando se fala da produção do Queijo Minas Artesanal. Para hospedagem, um dos cantos mais aconchegantes é a famosa pousada Arco-Íris, um refúgio com decoração curiosa e localização perfeita para quem planeja começar cedo o dia.
De tão boa que é a comida no Restaurante Rural Casinhas, no nosso tour ele ganhou repeteco na visita. Localizado a 2 km da BR-267, o sítio é mantido por uma família dedicada à tradição da região, com pratos que traduzem a essência da culinária mineira, com muito feijão tropeiro e um doce de leite que é a receita de segredo da família.
No segundo dia, agora, de fato, na rota do queijo, a saída é cedo para a famosa Queijaria Paiol Velho. De família tradicional da área, o negócio gira entre pais e filhos há três gerações, hoje preservada pelo médico veterinário André Modesto. Lá, além da paisagem bonita, o destaque é a produção artesanal dos queijos - feitos com leite cru e maturação cuidadosa, frutos de um processo que leva pelo menos 30 dias. De tanta dedicação e técnica, a fazenda já conquistou prêmios importantes, como medalhas no V Prêmio Queijo Brasil.
Entre a degustação de um queijo ou outro, a Fazenda Rancho Alegre é pit stop ideal para manter o roteiro rural. Fiel à culinária clássica da região, ela empolga pelos animais e decoração.
O modo de produção do queijo minas artesanal é patrimônio da humanidade
Uma das grandes referências na produção de queijos artesanais da região, a Fazenda Primavera é conhecida pelos queijos premiados - no cenário nacional e internacional. Na subida de um morro, decorada naturalmente por pedras históricas que dão ar único à fazenda, lá também conta um pouco sobre a história de amor de um casal de cariocas, Jorge Bezerra e Elisa Almeida, que decidiu se aposentar no paraíso que é a vista da Primavera.
O sítio faz parte de um movimento que valoriza as características únicas da região, como clima, relevo e qualidade da água, fatores que influenciam diretamente no sabor e na textura dos queijos. Lá eles mantém compromisso com a sustentabilidade e também abrem as portas para hospedagem.
Casal de cariocas escolheu a vida de produção de queijo na serra pra se aposentar
Para fechar o dia, vale a pena um desvio de rota para subir até a Cachoeira do Arco-Íris. De tirar o fôlego, ela esbanja uma queda de 40m e encanta pelos arco-íris - daí o nome - que se forma e ela dança da água e das brechas de luz.
O acesso é bem sinalizado, e a reserva oferece estrutura básica para quem deseja passar o dia explorando ou até mesmo acampar.
A jornada de Lima Duarte até Carrancas é um convite à contemplação, com cerca de 152 km de estrada que revelam o melhor da paisagem mineira. Em pouco mais de três horas de viagem, o caminho cruza cenários montanhosos e povoados tranquilos, onde o tempo parece desacelerar. Uma vez na famosa terra das cachoeiras, a primeira parada, claro, ainda assim vai ser queijaria.
A Queijaria Bicas da Serra é outra que é referência na produção de queijos artesanais em Minas Gerais. Já conquistou prêmios importantes em competições como o Mundial do Queijo, colocando a tradição mineira em evidência no cenário internacional. Sob o comando de José Orlando, a fazenda, situada a 12 km do centro de Carrancas, é uma aula para o entusiasta dos métodos de produção do queijo.
José Orlando éo dono da Queijaria Bicas da Serra
Antes de seguir para as cachoeiras, a dica é o Restaurante Magia da Terra. Além de super tradicional, é da mesma família que opera uma das maiorias companhias de turismo da região, a Poliana Turismo.
De lá, é comer e seguir para o Complexo da Fumaça. Carrancas é chamada de “terra das cachoeiras” com razão: são mais de 30 quedas d’água, piscinas naturais e trilhas. O Complexo da Fumaça, um dos mais famosos, possui trilhas fáceis e é ideal para um banho de final de tarde.
Entre fazendas e cachoeiras, na terra das Carrancas uma dica de hospedagem é a Pousada Além das Formas, localizada a 4 km do centro. Rodeada por verde e com uma arquitetura rústica-chique, é uma parada boa para recarregar as energias.
Com a mala recheada de queijos, a volta a Belo Horizonte é rápida. Em pouco mais de três horas na estrada, isso se você resistir a parar em cada cidadezinha pelo caminho, logo você está cercada pela paisagem urbana da capital.
* A jornalista viajou a convite da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais