Dia do Quadrinho

Quadrinistas amazonenses partilham suas histórias e desafios no universo das HQs

Mário Adolfo, criador do Curumim; Romahs Mascarenhas, roteirista da Turma da Mônica; e Sâmela Hidalgo, idealizadora do projeto Norte em Quadrinhos, deixam suas contribuições nos quadrinhos para a cultura brasileira

Gabrielly Gentil
30/01/2025 às 17:48.
Atualizado em 30/01/2025 às 18:10

Mário, Sâmela e Homahs compartilham suas experiências, desafios e perspectivas sobre a indústria de HQs (Foto: divulgação)

Hoje, 30 de janeiro, é celebrado o Dia do Quadrinho Nacional, uma data que homenageia a história e a contribuição dos quadrinhos para a cultura brasileira. Para marcar essa ocasião, conversamos com três personalidades que revolucionaram os quadrinhos na região: Mário Adolfo, criador do icônico personagem Curumim; Romahs Mascarenhas, roteirista da lendária Turma da Mônica; e Sâmela Hidalgo, idealizadora do projeto Norte em Quadrinhos. Eles compartilham conosco suas experiências, desafios e perspectivas sobre a indústria de HQs.

A história do jornalista e quadrinista amazonense Mário Adolfo com os quadrinhos começa ainda na infância. Naquela época, o acesso às revistas era difícil devido ao alto custo e à falta de disponibilidade em Manaus. Então, ele escolhia uma revista por mês e trocava com amigos para ler outras. Com o tempo, começou a desenhar suas próprias histórias em quadrinhos com o amigo Simão Pessoas. "Mas não copiávamos ninguém. Criávamos nossos próprios heróis. Eram revistinhas desenhadas em folhas de caderno com caneta Bic preta", recorda.

Mário Adolfo conta como começou a desenhar charges no jornal A Crítica, onde trabalhava como repórter. Em 1983, criou o Curumim. "Chegou um dia em que seu Calderaro resolveu investir mais no segmento infantil. — Faz uma 'boneca' do suplemento e me traz! — desafiou o grande nome da imprensa. Apareci com um jornalzinho que já vinha com personagem e slogan próprios: Curumim, o Último Herói da Amazônia", recorda o quadrinista, que atribui a defesa do meio ambiente como o grande sucesso do Curumim, que circulou de 1983 a 2020.

"São 37 anos. Até merecia o Guiness (risos). Mas quando os jornais impressos começam a morrer - alguns deles, como o Em Tempo, a última casa do Curumim -, nem circulam mais. E aí eu percebi que de certa forma perdeu um pouco a força. 90% do público infantil hoje busca na internet outros conteúdos. Mas a grande prova de que o Curumim deixou sua grande marca, e está mais vivo do que nunca, foi quando lançamos o Parque Aldeia do Curumim, no Shopping Manauara, e aproximadamente 18 mil crianças visitaram e brincaram no espaço. Depois lançamos o musical 'Curumim em Busca da Flor da Vida', e lotamos o teatro da Instalação e o Teatro Amazonas. A fila foi tão grande que ficou gente de fora".

Sobre o futuro dos quadrinistas, Mário acredita que “tem muita gente gente boa desenhando por aí, meninos com talento e garra”. E acrescenta: “Tomara que a consciência dos donos do poder mude, para que artistas locais sejam valorizados e não precisem deixar sua terra natal para fazer milagre na terra dos outros”.

O grande desafio

Sâmela é idealizadora do “Norte em Quadrinhos”. A autora percebeu que era uma das poucas representantes da região no mercado nacional de quadrinhos. Então, em 2019, durante a CCXP, anunciou seu desejo de criar um projeto para dar visibilidade aos artistas do Norte. Em 2020, durante a pandemia, ela criou o projeto para representar e promover os talentos nortistas. 

“Andei por vários eventos durante esses anos e dentro dos espaços para os mais de 1000 artistas, constatei que nenhum era do Norte. Então, em 2019, como convidada da CCXP e sendo entrevistada no palco do evento, anunciei que um dia eu iria criar um projeto que desse essa visibilidade para os nossos artistas, porque eu tava cansada de me sentir sozinha no meio e não me ver representada em nenhum espaço ou obra ali”, recorda.

Para Hidalgo, os desafios para promover cultura regional através de quadrinhos incluem visão regionalista, dificuldades geográficas e logísticas, e falta de infraestrutura. O Projeto Norte em Quadrinhos busca superar esses desafios, criando eventos, cursos, lojas, premiações, circuitos e divulgação, e, após 5 anos, já obteve resultados positivos na promoção da cultura regional “Justamente por sermos a região que tudo que produzimos é visto como regional, e não nacional, encontramos muitos problemas, porque sempre fomos e ainda somos vistos como um povo à parte do Brasil”, lamenta. 

“Poucas vezes lembram que a gente faz parte do país, e isso, somado às questões geográficas e logísticas, dificultam que as obras produzidas na região cheguem a outros lugares. É difícil produzir uma história em quadrinho – que envolve texto, arte e cor – em uma região que não tem gráficas especializadas para atender esse tipo de arte; cursos voltados para essa área que possam formar artistas; livrarias, lojas e pontos de vendas diversos que comprem e vendam os quadrinhos para distribuição dos produtos; e eventos focados em histórias em quadrinhos para escoar e apresentar aos leitores artistas independentes. Então, toda a cadeia de produção de uma história em quadrinho, desde o roteiro até a distribuição, é afetada”, completa a editora.

A força do Norte!

O cartunista, escritor e quadrinhista Romahs Mascarenhas começou a trabalhar com a Turma da Mônica em 2010, após um convite para participar de uma edição especial de 50 anos. Ele ganhou o prêmio HQ Mix com essa publicação e, posteriormente, se tornou roteirista da Turma da Mônica em 2011. Agora, após 14 anos no estúdio, ele anuncia uma grande novidade, que considera uma vitória para todos da região Norte.

"Agora saiu o filme do Chico Bento, que gira em torno do amor do Chico Bento pela Goiabeira. E o filme conta, em determinado momento, por que esse elo entre os dois: como nasceu o Chico Bento, como surgiu a Goiabeira. E que alegria a minha em saber que eles usaram a história em quadrinho, que eu criei sobre o assunto, chamada 'A Semente e o Vento', como parte do roteiro. Eu fiquei muito feliz por uma história criada por mim ter sido escolhida pelos roteiristas para fazer parte do filme. Ela é canônica agora para o universo da Turma da Mônica", celebra.

Para Mascarenhas, trabalhar com um material icônico como a Turma da Mônica traz uma grande responsabilidade. "Eu produzo um material que vai ser lido por milhões e milhões de pessoas, e vai estar sempre ali sendo relido por mais uma geração. Então, a gente tem um compromisso com o roteiro criado, com as informações que possamos, com o nosso posicionamento político. Eu estou sempre me manifestando através do meu roteiro. É uma grande responsabilidade passar coisas positivas para um público muito grande, crianças, jovens e adultos. Escrever para todos eles de forma coerente e de forma que todos se identifiquem."

O artista acredita que o quadrinho na região amazônica e Norte do Brasil está crescendo em força e qualidade. Segundo ele, a nova geração de quadrinistas não tem medo de correr riscos e está produzindo trabalhos de alta qualidade. Além disso, há uma participação crescente de mulheres no setor, o que é muito gratificante.

"Hoje eu estou trabalhando com um roteirista e um arte-finalista em Macapá. Estou no projeto com um grupo em Parintins. Tenho amigos quadrinistas em Belém (PA). Então, a gente está mais coletado, e isso só favorece o quadrinho da região Norte. Eu imagino que nos próximos dez anos, o quadrinho amazonense, a região Norte, será considerada um polo determinante de quadrinho brasileiro e mundial", celebra Romahs Mascarenhas.

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2025Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por