Vida

Projeto 'Coleção de rua' dinamiza produção literária

Escritores se preparam para apresentar o projeto durante o 6º Fórum Social Pan-amazônico, na Bolívia

Rosiel Mendonça
29/07/2012 às 19:18.
Atualizado em 13/03/2022 às 06:06

(Autopublicação é uma alternativa que tem mudado a trajetória de escritores)

Surge em Manaus mais uma iniciativa com o objetivo de suprir as demandas dos artistas independentes da cidade. É o selo Coleção de Rua, criado com a proposta de ser uma alternativa de publicação para os escritores que estão à margem do mercado editorial. Ainda em fase laboratorial, o projeto já viabilizou a publicação de 12 títulos de cinco autores. Na última quarta-feira, Dia do Escritor, reportagem de A CRÍTICA conversou com três desses autores: Jeovane Pereira, Márcio Santana e Rojefferson Moraes.

A Coleção de Rua começou há cerca de quatro meses por iniciativa do maranhense Jeovane Pereira. Filho adotivo de Manaus há dois anos, Pereira circulava pela cidade vendendo seus livretos do selo quando conheceu o também escritor Márcio Santana, que se interessou pela proposta.

Adepto de uma escrita visceral e urbana, Santana afirma que a descoberta do selo de Pereira deu um gás à sua produção. “Foi numa época em que eu estava meio desmotivado. A Coleção de Rua me deixou mais animado porque vi que é um projeto sério, em que a gente não sai só pra vender a publicação. Resolvi abraçar a ideia”, contou.

Para passar adiante

A Coleção de Rua segue a cartilha do “faça você mesmo”, mas o diferencial do selo está na apresentação visual dos livretos. Em formato A5, eles são diagramados no programa PageMaker pelos próprios autores, que também arcam com os custos de impressão.

A tiragem atual fica entre 100 e 200 exemplares, e o produto final é vendido a R$ 2 ou R$ 3. Os autores defendem que as publicações não são feitas para ficarem guardadas, e sim serem passadas adiante, “esquecidas” num banco de praça. Segundo Santana, uma tônica do selo é a sintetização dos textos, que não chegam a 30 páginas. “É para ler no ônibus ou entre uma golada e outra de cerveja”.

De acordo com Pereira, escritor autodidata desde 2002, a Coleção é uma iniciativa coletiva, que não fere a individualidade do autor. Moraes confirma que a diversidade da escrita é valorizada pelo selo independente. “Eu vim da ‘Sirrose’, e lá havia liberdade para os escritores imprimirem seus estilos aos textos, sem amarras ou preocupação em agradar ninguém. Já percebi que na Coleção vou poder ter a mesma liberdade”, disse o escritor.

Parcerias

“A ideia (do Coleção de Rua) é entrar nas instituições, fazer oficinas nas escolas, ocupar praças e pontos da cidade, levar o projeto para o interior e outros Estados. Foi isso que me seduziu, essa dinâmica intrínseca”, adiantou Santana, que é professor de Língua Portuguesa.

Segundo os três autores, o selo apresenta uma proposta que tem como pano de fundo a preocupação com a formação de escritores e leitores em Manaus. “Tem muito jovem que escreve, mas nunca teve contato com fanzines ou com uma revista literária independente. Quem sabe eles não estejam precisando apenas de um incentivo? Quando você desenvolve o gosto pela escrita, você causa uma modificação intelectual e social. É essa a proposta que o selo também traz: a de renovar a criação literária dentro das escolas, através dos jovens e crianças”, afirmou Moraes.

O próximo passo da Coleção é conseguir a licença literária de todas as obras do catálogo. Os autores ainda pretendem concretizar a ideia da Tenda Literária Itinerante, para dar mais visibilidade e ajudar na circulação dos trabalhos.

Rua e praça são vitrines

O escritor Rojefferson Moraes já passou por uma experiência frustrada de divulgação do seu trabalho em local público. Ele relata ter sido expulso do Largo de São Sebastião, em 2002, acusado de pedir esmola e importunar o público. “Foi constrangedor. Vi ruir toda a ideia de liberdade de expressão. É triste saber que você produz algo autoral e é tratado assim”, contou. “Conheço 20 Estados e nunca tinha visto isso. Eles confundem o escritor com o vendedor ambulante que promove a pirataria”, acrescentou Jeovane.

De acordo com o secretário de Cultura, Robério Braga, não há esse tipo de orientação proibitiva por parte da SEC. “No próprio Largo existe uma placa com o que pode e o que não pode ser feito. O objetivo da praça é ser usada pelos artistas. Mas, também não vão fazer do Largo um mercado persa”, declarou. No caso do Largo, o secretário orienta que qualquer problema do tipo deve ser comunicado à Casa das Artes, onde funciona a administração da praça.

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