Artes cênicas

O mundo das encantarias amazônicas é tema de nova obra do Grupo Jurubebas de Teatro

Espetáculo inédito 'Vila dos Vagalumes' estreia nos dias 13 e 14 de fevereiro e também reflete sobre os impactos da urbanização desenfreada

acritica.com
08/02/2025 às 14:58.
Atualizado em 08/02/2025 às 14:59

O Camaleão é um dos personagens do espetáculo (Alonso Jr./Divulgação)

Quando a construção invasiva de um parque de diversões – em meio a uma vila de vagalumes encantados – ameaça o corpo e o espírito, um curumim se transmuta em forma de bicho-gente para preservar o mundo de tais seres e salvar a espécie. Essa é a história de “Vila dos Vagalumes”, espetáculo inédito do Grupo Jurubebas de Teatro, que faz a sua estreia nos dias 13 e 14 de fevereiro, sempre às 19h30 no Buia Teatro Company (Rua Dona Libânia, 300, Centro, próximo ao Teatro Amazonas). A entrada é gratuita e a peça contará com LIBRAS  e acessibilidade como rampas e staffs de apoio. 

O processo criativo de “Vila dos Vagalumes” nasce a partir de um desejo do  grupo de se aproximar cada vez mais das narrativas amazônicas, o que aconteceu com a montagem anterior “Tucumã & Buriti – As Brocadas do Tarumã-Açu”. Desde então, Felipe Maya Jatobá e Robert Moura assumiram a direção e dramaturgia da obra e se embrenharam no meio das matas para entrar no universo sobrenatural das encantarias amazônicas, trazendo um olhar lúdico para a encenação deste espetáculo. 

A peça se passa numa cidade fictícia, onde um parque de diversões está sendo construído no lugar onde habitam vagalumes encantados. Desse modo, a peça nos faz refletir sobre como a urbanização descontrolada pode afetar não somente os ecossistemas, mas também o mundo das encantarias. Essas referências partem de uma vivência pessoal do diretor Felipe Maya Jatobá e sua relação próxima com o Tambor de Mina e a forma como essa religião entende o mundo pós-morte. 

“Algumas religiões espiritualistas acreditam que, após o desencarne, os seres humanos viram bichos da floresta e que são chamados de encantarias. Segundo alguns mestres de santo, essas encantarias possuem uma missão”, explica Felipe.

O Tambor de Mina é uma religião de matriz afro-amazônica nascida no antigo estado do Grão-Pará e Maranhão, onde nos atuais estados de Amazonas, Pará e Maranhão possuem suas representações ainda fortalecidas através do processo de reconhecimento histórico e cultural desta matriz. O Tambor de Mina é a religião por onde, por exemplo, as entidades Mariana, Erundina e Jarina, as três princesas turcas, chegam à Amazônia para sua missão espiritual. Dentro do espetáculo, essas entidades são representadas pela personificação das figuras imagéticas propostas pelo elenco. 

“O espetáculo bebe em fontes como o folguedo Cavalo Marinho, a religião Tambor de Mina, a manifestação cultural Coco de Roda e a expressão rítmica Gambá de Borba para falar de desmatamento, morte e desaparecimento, numa linguagem completamente acessível para todos os públicos”, destaca Robert Moura.

A peça é estrelada por Robert (Coruja Rasga Mortalha) - que dirige e atua no espetáculo – além dos estreantes Henrique Dias (Camaleão) e Henrique Campelo (Vagalume). Ao todo, são 45 minutos de um espetáculo repleto de música, dança e jogo cênico, além de formas animadas como o personagem José, boneco criado pelo artista plástico Orlando Rafael e manipulado por Robert Moura.  A peça possui assessoria rítmica de Otávio Di Borba, que realizou oficinas de Gambá para o grupo durante o processo criativo.

Linguagens artísticas

O espetáculo possui uma mistura de linguagens entre dança popular e teatro, o que se dá por meio de coreografias realizadas pelos protagonista do espetáculo, sob preparação da atriz e diretora Ana Caroline e suas referências e pesquisa em corpos periféricos, realizadas nos estado do Amapá e Piauí. Já a preparação de atores foi realizada por Jones Barsou,  que traz para o processo sua experiência com técnicas circenses no preparo do corpo dos atores. 

A cenografia do espetáculo remete aos terreiros de Coco de Roda, manifestação cultural afro-indígena que envolve dança, música e poesia e está bastante presente no interior do Maranhão e se assemelha em alguns casos com o Gambá.
 

“A sonoplastia assinada pelo premiado músico e ator indígena Leandro Paz é formada por ritmos afro-amazônicos e, principalmente, do ritmo do Gambá. A peça busca, de forma poética, resgatar uma narrativa musicada e coreografada a partir de uma dramaturgia sonora e escrita. As canções que compõem a obra também funcionam como uma narrativa da própria obra teatral”, dialoga Felipe Jatobá.

Já os figurinos remetem aos animais presentes no roteiro. Porco do Mato, Camaleão, Bicho Preguiça e Coruja são criados a partir de máscaras teatrais, assinadas por Henrique Dias. Os figurinos se inspiram nos designers de costumes como os presentes nas manifestações folclóricas como Carnaval, Boi-bumbá, Ciranda de Manacapuru, entre outros, conforme explica o diretor. 

“Esses figurinos trazem uma leitura futurista para a encenação que mistura o popular e a performatividade. São elementos que permitem ao espectador vislumbrar outras possibilidades criativas de apresentar esses animais que representam seres encantados da floresta amazônica”, explica ele.

O projeto foi contemplado pelo Edital N°03/2023 - Lei Paulo Gustavo - do Conselho Estadual de Cultura, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa pelo proponente Jorge Ribeiro. 

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