TALENTO BARÉ

Do Riacho Doce ao Brasil: por dentro da mente de O Dyego, novo produto do rap manauara

O artista ganhou destaque com rimas ácidas e faixas que retratam a vivência na periferia

Filipe Távora, Especial para A CRÍTICA
03/02/2025 às 17:29.
Atualizado em 03/02/2025 às 17:29

(Foto: Divulgação)

Cria da comunidade Riacho Doce 2, Zona Norte de Manaus, Dyego Gusmão Brito conquistou mais de 70 mil seguidores na internet. O rapper conversou com o jornal A Crítica, na tarde desta segunda-feira (3), a respeito do que motivou as rimas ácidas e o humor satírico com os quais ele conversa com os ouvintes da cena do hip-hop manauara.

No meio de sua trajetória, Dyego não deixou de se envolver em conflitos com outros artistas  — algo muito comum na cultura do rap, onde os músicos compõem faixas apelidadas de “diss”. Nelas, os rappers duelam entre si por meio dos versos. O público costuma decidir quem saiu vitorioso do confronto lírico.

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(Foto: Divulgação)

Como são as “diss” na cena do rap manauara?

Elas não são muito comuns na cidade. Já me envolvi em alguns conflitos contra outras personalidades da região. Houve motivos pessoais e publicamente expostos. Dei minha reposta através da música. Acabei ficando conhecido como “o cara das diss” aqui em Manaus. Como rappers, devemos transformar esses tipos de conflito em arte. As coisas precisam ser resolvidas no rap, não com violência.

Você é produto do underground. Como você o enxerga?

Acredito que a cena de Manaus, como um todo, ainda é bem underground, mas não por falta de qualidade. Temos grandes artistas aqui, como Kurt Sutil, Victor Xamã, Coletivo 333, DaCota, Lil Gix, Sem Apadreco, RU4$, Lil Pavan, 7RD, Andrewxx, Guima, Gaxpar, Dzalles, Igor Muniz,  dentre outros. Falta muito investimento e infraestrutura na área, o que nos impede de gravar constantemente. Somos muito desamparados pelo público, que muitas vezes não valoriza o que temos. Muitos preferem pagar para ver rappers paulistas de qualidade duvidosa do que os artistas da própria terra. A maior parte dos meus ouvintes mensais, e de outros rappers daqui, são de São Paulo e não de Manaus.

Tu já sofreste rejeição por causa das letras ácidas?

Não fui tratado com seriedade por algumas pessoas no começo da carreira. Depois que comecei a fazer mais barulho, o desdém cessou. Fiquei bastante conhecido como sendo o cara das músicas bizarras e engraçadas. O EP “Crônicas do Riacho Doce” tenta quebrar essa imagem e mostrar que consigo fazer um rap sério e com temas introspectivos.

(Foto: Divulgação)


(Foto: Divulgação)

 Como a vivência na Zona Norte de Manaus te moldou como artista?

O bairro onde moro é coberto de violência, insegurança, além de sofrer com falta de infraestrutura e saneamento básico. A maior parte do meu bairro é formada por barrancos com invasões. Durante minha infância, foi muito comum ver deslizamentos que provocaram a morte e perda de casas dos moradores. Todo esse ambiente me inspirou a retratar a realidade dessa região.

Quando você ganhou notoriedade na cena do hip-hop manauara?

Em 2022, quando a música “O Cara” explodiu no Instagram e YouTube. Ela pegou umas 15 mil visualizações no YouTube e me gerou uns 10 mil seguidores. Foi aí que comecei a colaborar com outros artistas da cena manauara.  O início de tudo começou no ensino médio, por volta de 2017, mas o desejo de levar a arte a sério surgiu só em 2021. A partir daí, lancei projetos como: “EP Dyário” (2021), “O Incrível Mundo de Dygão” (2023) e “Crônicas do Riacho Doce” (2024).

(Foto: Divulgação)


(Foto: Divulgação)

 Quais artistas influenciaram teu estilo musical?

Meu estilo pode ser classificado como Horrorcore e Acid Rap. Eminem é minha maior referência. Ele influenciou muito a forma como construo meus esquemas de rima e storytelling das faixas. Também experimentei influência de outros artistas como: Lil Wayne, Hopsin; Tyler, The Creator, Kanye West, Big L e Notorious B.I.G.

O que o futuro reserva para Dyego?

Com “Crônicas do Riacho Doce”, lançado em 2024, fiz algo mais realista do que o álbum anterior. No futuro, pretendo voltar ao personagem fictício que criei, Dygão, por meio do próximo álbum — “As Aventuras de Dygão”. Essa persona me permite escrever rimas com temas controversos, de forma cômica. Por outro lado, quando escrevo com meu nome artístico, O Dyego, posso falar de assuntos sérios e de forma sincera, sem exageros estéticos. O próximo álbum vai ser do Dygão.

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