Mulheres que escrevem

Conheça a trajetória de escritoras do AM que conquistam o cenário literário nacional e internacional

A escritora e poeta manauara Rita Alencar Clark frequenta a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip, um dos maiores e mais importantes eventos literários do Brasil, há mais de 15 anos

Gabrielly Gentil
18/01/2025 às 11:36.
Atualizado em 18/01/2025 às 11:36

Myriam Scotti, Marta Cortezão e Rita Clark (Fotos: Divulgação)

Empoderamento feminino, inclusão e representatividade: conheça a jornada histórica das escritoras amazonenses que brilham nacional e internacionalmente, impulsionadas por uma nova geração que revoluciona a literatura brasileira. Nesta reportagem, exploramos suas trajetórias, perspectivas feministas e a importância da representação LGBTQIAPN+.

A escritora e poeta manauara Rita Alencar Clark frequenta a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip, um dos maiores e mais importantes eventos literários do Brasil, há mais de 15 anos. No entanto, sua primeira participação como escritora foi no ano passado, quando lançou o livro “In(-)versos do meu verso”.

 Escrita como resistência

 Para a autora, a escrita é uma forma fundamental de resistência e empoderamento feminino. “As mulheres que escrevem sobre o universo feminino querem ser lidas, obviamente, dividir com outras aquilo que nos é peculiar e ao mesmo tempo universal. Parafraseando Simone de Beauvoir quando ela diz que, ‘ao dividirmos a dor através da escrita, ela deixa de ser um exílio para se transformar em consolo da fraternidade, da sororidade’”. 

Clark defende a inclusão de perspectivas femininas e feministas em obras literárias. “A escrita canônica, por exemplo, espelha uma realidade inventada, na maioria das vezes, por homens a respeito do universo, vasto e diverso, feminino. Hoje, há um interesse maior de se ouvir a voz feminina por ela mesma. Um resultado de lutas dessas escritoras contra o silenciamento estrutural”.

Ela aconselha jovens escritoras amazonenses: “Que busquem leituras, leiam mulheres, canônicas ou contemporâneas, estudem filosofia, artes, culturas diversas e, principalmente, não desistam de escrever”. 

 A luta pela visibilidade

 Embora o cenário literário feminino no Amazonas esteja em progressão, Myriam Scotti, autora manauara, acredita que ainda há muito a ser conquistado. “Há pouquíssimo conhecimento sobre a produção literária feita por mulheres amazonenses. E digo isso não apenas em relação ao restante do País, mas dentro do próprio Estado”, lamenta.

Myriam enfatiza que, por muito tempo, mulheres foram silenciadas, escritas e descritas por vozes masculinas. Para ela, a importância de produções literárias de autorias femininas é indubitável, pois suas histórias precisam ser contadas por elas mesmas.  

“A literatura, bem como as demais artes, é uma maneira de se expressar no mundo. Mas, para além disso, a literatura pode provocar a identificação por meio da alteridade. Ou seja, quando escrevemos e/ou lemos um livro, temos a possibilidade de experimentar o lugar do outro e repensar as nossas certezas. No caso da escrita produzida por mulheres, existe a possibilidade de refletirmos, por meio da ficção, as tantas possibilidades de ser mulher na contemporaneidade”, diz ela.

Para Scotti, o Flip é um exemplo de vitrine da literatura brasileira. Sua participação no festival, com o lançamento de seu livro de crônicas ‘Tudo um pouco mal’ e rodas de conversa, permitiu que pessoas de todo o País descobrissem o talento das mulheres amazonenses. “Portanto, ter tido a oportunidade de participar desse momento abriu possibilidades de pessoas dos mais diversos lugares do País saberem que no Amazonas há mulheres que escrevem e que escrevem muito bem”, celebra a escritora.

 Literatura do Norte

 Marta Cortezão, escritora amazonense radicada na Espanha, observa um movimento de valorização das literaturas do Norte do Brasil, que vem se construindo pouco a pouco, com destaque para as obras que dão voz às culturas e às identidades amazônicas, a exemplo das obras “Como na prosa de ‘Flor de gume’ (Monique Malcher/PA), de ‘Tocaia do Norte’ e ‘A Secura dos Ossos’ (Sandra Godinho/AM), de ‘Terra úmida’ (Myriam Scotti/AM), de ‘Rasgada ao meio’ (Márcia Antonelli/AM), de ‘Feras Soltas’ (Lulih Rojanski/AP) ou na poesia de ‘In(-)versos de meu verso’ (Rita Alencar Clark).

Ela também cita ‘Para nascer poesia’ (Lucila Bonina Simões/AM),  ‘Português amoroso’ (Mayanna Velame/AM), ‘ABCdário Erótico’ (Giselle Ribeiro/PA),  ‘Desejo absoluto’ (Déborah Bacelar/AM),  ‘A noite em que a Lua caiu no açude’ (Francis Mary Alves/AC),  ‘Weiyami: mulheres que fazem sol’ (Sony Ferseck/RO),  ‘Mar de vidro’ (Gabriela Lages Veloso/MA),  ‘Africanua e outros poemas’ (Rosidelma Fraga/RR) e inúmeras outras produções literárias como referências.

Para a autora, a colaboração impulsiona a produção literária amazônica. “Esse avanço, ainda incipiente, mas com relevantes resultados, é fruto de esforços coletivos de escritoras, editoras independentes, coletivos literários e eventos culturais que lutam pelo destaque da produção literária na/da Amazônia”.

 Representação LGBTQIAPN+

 Marta destaca também a representação das mulheres LGBTQIAPN+ na literatura brasileira, manifestando otimismo quanto ao futuro. Ela observa que essa representação tem crescido nos últimos anos, apesar de ainda enfrentar desafios de visibilidade e reconhecimento. 

“Com o fortalecimento de movimentos sociais e literários, bem como o aumento da presença dessas narrativas em mídias digitais, há um potencial significativo para que a representação de mulheres LGBTQIAPN+ na literatura brasileira continue crescendo. Este é um passo fundamental para a construção de um cenário literário mais inclusivo, que reflita a riqueza e a diversidade do País”. 

Portanto, a visibilidade das escritoras amazonenses é um marco importante na luta pelo empoderamento feminino e pela diversidade literária no Brasil. A trajetória dessas mulheres inspira uma nova geração de escritoras, consolidando a literatura amazônica como uma força cultural relevante.

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