As apresentações de 'Antes do tempo existir' acontecem durante uma mini-temporada gratuita no Teatro TUSP Butantã, a partir do dia 30 de novembro
Lilly Baniwa passou a fazer parte do espetáculo neste ano (Foto: Divulgação)
Artistas indígenas sobem ao palco e compartilham suas vivências e saberes ancestrais no espetáculo teatral “Antes do tempo existir”. Sem roteiro ou falas decoradas, a indígena amazonense de São Gabriel da Cachoeira, Lilly Baniwa, é uma das artistas a contar sobre seus conhecimentos indígenas em cena. As apresentações acontecem durante uma mini-temporada gratuita em São Paulo, que inicia no dia 30 de novembro e vai até o dia 04 de dezembro (de quarta a domingo), às 20h, no Teatro TUSP Butantã.
A direção geral e concepção do espetáculo são assinadas por Andreia Duarte, com direção cênica e dramaturgia por Kenia Dias e Ricardo Alves Jr. Em cena nesta mini-temporada estão Andreia Duarte, Lilly Baniwa e Rosa Peixoto.
Temas
De acordo com Lilly Baniwa, além do conhecimento indígena, o espetáculo traz narrativas de atravessamentos – sobre quando os indígenas vão para a cidade e quando as pessoas da cidade vão para as comunidades – e fala também, entre outros assuntos, sobre tempo cronológico.
“’Antes do tempo existir’ é sobre esse tempo cronológico que a gente vive na cidade, né? Enquanto que nas aldeias, a gente tem outro tempo. Mas trazendo também esses tempos antigos, dos nossos antepassados – do tempo em que as pessoas eram gente, mas também eram onça; um tempo que gavião era gente, mas também era gavião. Na cidade, a gente tem muito essa vida programada, né? Chega a parecer um robô, tem horário pra tudo. E nas aldeias, a gente tem outra realidade, outras formas de viver. Então, trazemos essas narrativas também”, destaca.
Lilly comenta ainda sobre a relação dos corpos indígenas com a natureza, outro tema abordado no espetáculo. “Estamos vivendo num cenário crítico das mudanças climáticas, então, eu falo que é muito importante que comecemos a olhar para conhecimentos indígenas, para corpo indígena que tem essa conexão com a natureza, que é a comunicação de uma linguagem que fala com outros seres, como seres de natureza. A chuva, né? Que é o conhecimento indígena, que muitas vezes a gente não tem noção quando se mora na cidade. Ele [o espetáculo] traz um pouco desse tema também”.
Construção coletiva
A artista indígena do povo Baniwa destaca que o espetáculo parte de uma construção coletiva. Os artistas foram preparados a partir dos encontros que começaram a ser feitos ainda no ano passado: da vivência à preparação corporal.
“Eu sempre falo que é o jeito indígena de fazer arte cênica, né? Inicialmente teve os encontros pra ter vivência, pra construir junto, pra se pensar junto... Eu sempre falo que é uma pequena aldeia, a construção desse espetáculo. Ele se construiu de uma forma coletiva, trazendo suas vivências e também traz essas narrativas da memória muito forte, né? Onde a gente conta histórias das nossas experiências e das [experiências de] nossas avós. Nessas cenas, a gente traz memórias das nossas vidas. Então, eu sinto que muitas vezes sou eu mesma que estou lá trazendo as narrativas, memórias da minha avó, contadas pela minha avó, que são conhecimentos indígenas muito importantes pra esse mundo atual, desse cenário que vivemos”.
A cada vez que sobe ao palco, Lilly destaca que sente a presença de seus ancestrais. Para ela, estar em cena é uma conquista de protagonismo dos povos indígenas.
“É importante lembrar que o corpo indígena em cena traz todas essas memórias dos povos indígenas, das histórias indígenas, histórias das mulheres. Eu sinto muitas vezes, quando eu entro em cena, [que] são meus ancestrais que me encorajam a entrar na cena; que não é só por mim, mas por todas as mulheres que já passaram por aqui, por todas as mulheres que já lutaram por esse espaço de fala. Então, o teatro se torna uma ferramenta de nossas lutas, pra expressar nossa dor mesmo, pra expressar nossas ideias também e trazer o conhecimento pra uma realidade, pra um lugar que tanto precisa, que é na cidade”, conclui.
Serviço
O quê: Mini-temporada do espetáculo “Antes do tempo existir”
Quando: 30 de novembro a 04 de dezembro (de quarta a domingo), às 20h
Onde: Teatro TUSP Butantã em São Paulo
Quanto: Gratuito