'Fazer com, pensar junto'

Artista amazonense Alessandro Fracta integra exposição coletiva, no Rio de Janeiro

O manauara traz em suas obras a exaltação da identidade popular amazonense, raízes que remontam à sua família originária de Manacapuru (AM)

Gabrielly Gentil
06/02/2025 às 15:13.
Atualizado em 06/02/2025 às 15:13

Alessandro Fracta é artista visual de Manaus que atualmente reside e trabalha no Rio de Janeiro (Foto: divulgação)

O Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, é palco da exposição coletiva “Fazer com, pensar junto”, que promete levar o público carioca a uma jornada pela rica cultura e materialidade artística. Entre os artistas participantes, destaca-se o manauara Alessandro Fracta, que traz em suas obras a exaltação da identidade popular amazonense, raízes que remontam à sua família originária de Manacapuru (AM). 

A mostra, que segue até o dia 23 de março, também conta com obras de Ana Bia, Mayra Carvalho, Rafael Amorim, Rainha F. e Siwaju. A participação do amazonense na exposição parte do entendimento de que a arte é uma construção coletiva, um espaço de troca e aprendizagem mútua.

“O conceito da exposição se conecta profundamente com minha prática, pois meu trabalho se constrói a partir de saberes transmitidos geracionalmente e de uma relação colaborativa com o ambiente natural e cultural da Amazônia. Minhas obras são, portanto, um reflexo dessa escuta atenta aos rios, às narrativas ancestrais e às técnicas tradicionais que dialogam com a materialidade e a espiritualidade das águas”, diz ele. 

Processo criativo

Sua abordagem artística é profundamente enraizada em uma memória fluvial, na observação dos rios e das águas amazônicas. “Trabalho com materiais que carregam histórias da minha família e da região, como a juta, cultivada por muitas comunidades ribeirinhas. Meu processo criativo está ancorado na pesquisa sobre encantarias, fenômenos naturais e modos de vida ligados às águas, buscando traduzir visualmente essas vivências através de esculturas têxtis, fotografia e bordado, que evocam movimento, ciclos e espiritualidade”, destaca o artista. 

Fracta escolhe os materiais de forma intuitiva, buscando aqueles que carregam camadas de história e pertencimento. “A juta, por exemplo, tem um significado profundo para mim, pois minha família plantava essa fibra como forma de sustento em Manacapuru. Ao utilizar a juta em minhas esculturas têxteis, reinterpreto um material de trabalho e resistência em um meio de expressão artística, ressignificando sua presença e sua importância cultural”.

“Além disso, exploro técnicas do bordado que dialogam com a fluidez da água, criando texturas e formas que evocam os fenômenos dos rios. O processo envolve experimentação, escuta e respeito ao tempo dos materiais, permitindo que a obra revele suas camadas aos poucos, como um rio que se desdobra em correntes e movimentos inesperados”, complementa. 

Desafios

Seu trabalho com a tecelagem busca resgatar a ancestralidade desse material, criando elementos que remetem aos ciclos das águas e aos fenômenos fluviais, entrelaçando memória, materialidade e paisagem amazônica.

No entanto, Alessandro enfrenta dois grandes desafios em sua prática artística: traduzir visualmente a complexidade das histórias e fenômenos naturais que investiga, e superar a limitação de recursos e espaços que valorizem técnicas artesanais.

“Para superar isso, busco construir uma rede de trocas e aprendizado com outros artistas e pesquisadores, e também explorar formas inovadoras de apresentar meu trabalho, garantindo que ele permaneça fiel às suas origens sem perder a possibilidade de dialogar com diferentes contextos”. 

O amazonense espera que sua arte desperte um olhar mais sensível para as narrativas da Amazônia e para os fluxos invisíveis que conectam a região ao mundo. “Que minhas obras possam criar um espaço de escuta, de reencontro e de valorização das histórias que o rio carrega”, enfatiza.

Projetos futuros

Alessandro  tem planos ambiciosos para o ano: participará da Bienal Das Amazônias em Belém, aprofundará sua pesquisa artística em escultura têxtil e bordado com juta, e explorará relações entre materialidade, memória e espiritualidade.

Ele também busca participar de residências artísticas e exposições no Brasil e exterior, para trocar experiências e ampliar sua visão sobre a relação entre arte e natureza. “Acredito que essa imersão em diferentes contextos pode ampliar minha visão e fortalecer minha trajetória”, conclui. 

>> Sobre o artista

Alessandro Fracta (1997) é artista visual de Manaus que atualmente reside e trabalha no Rio de Janeiro. Focado em uma memória fluvial, aprofunda-se em práticas artesanais nas áreas de escultura têxtil, bordado e foto performance, realizando trabalhos vinculados à sua conexão, com o rio de sua origem. 

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