A artista foi citada numa lista que celebra os talentos promissores da música preta brasileira para 2025
Karen Francis já foi indicada ao Prêmio Multishow (Foto: Dieghetto)
A Vogue Brasil acaba de lançar uma lista que celebra os talentos promissores da música preta brasileira para 2025. E, entre as seis cantoras selecionadas, se destaca a artista amazonense Karen Francis. Ao lado de nomes como Ajuliacosta, Bebé, Melly, Nara Couto e Tássia Reis, Karen é uma das vozes mais representativas da nova geração de cantoras negras brasileiras que estão revolucionando a cena musical do País.
Com sua música, ela não apenas reafirma a importância da cultura musical amazonense, mas também contribui para a promoção da diversidade e da inclusão na sociedade brasileira. Para Karen, essa menção é um bom reflexo do trabalho que ela vem construindo ao longo de sete anos de carreira.
“Eu penso a música não só para dentro da minha casa, dentro do meu bairro, cidade e região. Eu penso nela para o Brasil todo, para o mundo todo. Eu acho que as coisas que eu falo, as coisas que a gente fala na nossa região precisam ser ouvidas, conhecidas, reconhecidas mundo afora. E é assim que eu vejo essa menção. Eu vejo como um reflexo, um fruto do que eu venho construindo durante esses anos coletivamente também com quem trabalha comigo e também com o público que me escuta, que me dá um retorno, que constrói esse trabalho, essa carreira junto comigo”, diz ela.
Na cena
Para Karen, “a democratização da produção musical permitiu que artistas negros tivessem mais acesso ao cenário da produção fonográfica, rompendo com os contratos abusivos e a dependência das grandes gravadoras. Isso permitiu que artistas negros inovassem e criassem música que refletisse suas experiências e histórias”.
“A gente tem hoje em dia uma artista, que é a Liniker, uma artista trans negra que alcançou um patamar gigantesco. Anos atrás, não imaginávamos que isso seria possível: chegar a ser indicada ao Grammy, ganhar o Grammy e ter tanta abrangência, não só no cenário nacional como no cenário internacional. É algo muito difícil e inimaginável há um tempo atrás”, diz ela.
“Então, eu acho que hoje em dia a população negra conseguiu ‘hackear’ essas imposições do mercado e as imposições culturais para poder se colocar e falar sobre si mesmo. E eu sou uma dessas artistas; eu falo sobre a minha vida, minha vida pessoal, minha história, minha ancestralidade. E não vejo a ancestralidade como algo muito distante; eu falo sobre a minha mãe, sobre o meu pai, minha vivência, minha criação como uma mulher brasileira com ascendência moçambicana, nascida e pertencente à região Norte do País”, conclui Francis.
Visibilidade nortista
Francis defende que a música e a cultura da região são fundamentais para a construção da identidade brasileira. Para ela, não tem como falar do Brasil, sem falar do Amazonas.
“Não tem como pensar em música brasileira sem olhar o que está sendo feito no Amazonas, o que está sendo feito por artistas amazonenses, sabe? Eu acredito muito nisso! Eu também acredito que todo destaque que a região Norte, o Amazonas, a Amazônia brasileira, principalmente a Amazônia nortista, está tendo, é um destaque que infelizmente veio nos últimos anos porque a Amazônia está morrendo. A realidade é essa", lamenta.
"Então, é muito triste que, perante esse cenário, a gente perceba essa movimentação do eixo Sudeste, que tem esse pensamento de si mesmo como se fosse validador do que é Brasil. Mas é muito lamentável que essa validação, que eles pensam que têm, apareça agora para a gente justamente por conta da nossa morte. No meu ponto de vista como amazonense, não tem Brasil sem Amazonas. Então, pra mim, o papel da música amazonense no Brasil é fundamental. Não só a música, mas a cultura, o jeito de pensar, as ideias, as pessoas que estão no Amazonas, as pessoas que importam, o nosso bioma, tudo", complementa a artista.
Desafios
Segundo ela, artistas amazonenses enfrentam desafios como o apagamento estrutural, esteriótipos e falta de interesse em entender e conhecer a região.
“A gente recebe muito conteúdo sobre os lugares do Brasil e do mundo, mas o Brasil desconhece a si mesmo. Então, lidamos com esse apagamento, com essa falta de interesse. E o nosso desafio é justamente ‘hackear’ esse sistema, para que possamos ecoar a nossa voz e também comunicar-nos com os nossos da melhor forma, tendo esse acolhimento das próprias pessoas do nosso Estado”.
Influências
A artista cita o afrobeat (música pop contemporânea que veio do continente africano) como sua maior influência musical. O estilo musical de Karen é uma combinação de música preta, afrobeat e R&B, com uma ênfase em amor e estética pop.
“Eu faço muito love song, eu falo sobre amor nessa perspectiva do popular, do pop também. Eu gosto dessa estética. E o afrobeats, essa batida, essa coisa que faz você dançar, essa coisa que tu sente, é uma coisa completamente diferente de tudo, sabe? E eu acho que [o meu estilo] se diferencia de outros artistas da cena contemporânea, talvez porque cada artista tem a sua individualidade”.
Karen explica a sua individualidade. "Eu acho que o que diferencia o meu estilo é que eu consigo ouvir o que está rolando em termos de tendências dentro desse mundo de afrobeat, de música preta, e eu consigo colocar minha originalidade e aquilo que faz com que eu seja quem eu sou”.
“Falando sobre território, eu sou nortista, eu tenho ascendência moçambicana, sou imaginativa e consigo colocar minhas aspirações infantis, sonhos que eu tinha na infância, na minha música. Eu entrego muita sinceridade e muita verdade no que eu faço. Isso, de repente, me diferencia, porque eu não estou completamente preocupada com o que está sendo feito nas tendências; eu estou preocupada em fazer de uma forma estratégica e inteligente algo que faça sentido”, completa.
Carreira e projetos
Karen Francis (@karenfrancismusic) já se apresentou em diversos festivais, incluindo o Afro Punk Bahia. Além disso, teve a honra de compartilhar o palco com a renomada Luedji Luna. E, para coroar seu sucesso, foi indicada para o prêmio Multishow.
Embora esteja trabalhando em algo novo, a artista expressa o desejo de destacar os trabalhos que lançou no ano passado.
"Eles estão muito atuais. Eu lancei alguns singles no final do ano e é neles que eu vou focar agora, no início do ano, porque a arte precisa de tempo. Eu acho que nem consegui ainda digerir o que eu lancei no ano passado, nem meu público. Ainda há muita gente para ver o que foi feito. Enquanto isso, estou preparando algo novo, algo mais consolidado do que o que eu já fiz. Quero respeitar minha história, minha ancestralidade. Algo que talvez me posicione de uma forma melhor no mercado nacional. Então, estou trabalhando para isso”, conclui.