Cinema

Adanilo integra elenco de ‘O Último Azul’, produção selecionada para renomado festival na Alemanha

Confira a conversa exclusiva com o ator amazonense e o diretor da obra sobre o filme

Gabriel Machado
02/02/2025 às 14:48.
Atualizado em 02/02/2025 às 14:48

(Foto: Divulgação/Gustavo Paixão)


Do Amazonas para a Rede Globo; Cannes, na França; e, agora, para Berlim, na Alemanha. Com essa trajetória de sucesso, Adanilo se prepara para, mais uma vez, levar a Amazônia para além dos muros do nosso estado. Isto porque "O Último Azul", novo longa do ator amazonense, foi selecionado para participar da competição oficial do Festival de Berlim 2025, que ocorre na capital alemã entre os dias 13 e 23 de fevereiro.

Em entrevista exclusiva ao BEM VIVER TV deste fim de semana, Adanilo revela que, apesar do anúncio só ter sido feito neste ano, ele ficou sabendo da novidade ainda em dezembro.

“O Festival de Berlim faz um anúncio meio secreto, não era o anúncio público ainda. Então, em dezembro, o Gabriel Mascaro [diretor] me ligou, a gente se falou, conversei com parte da equipe e oficializaram que o nosso filme ia estrear no evento. No entanto, a informação só se oficializou esses dias, dia 21 de janeiro, se eu não me engano, quando a coordenação do Festival fez a divulgação com todos os outros filmes participantes.”

Dirigido por Gabriel Mascaro ("Boi Neon" e "Divino Amor"), "O Último Azul" conta a história de um Brasil quase distópico, no qual o governo interna idosos em uma colônia habitacional. A trama acompanha Tereza, uma senhora de 77 anos, que embarca em uma jornada para realizar seu último desejo pelos rios da Amazônia. No filme, o ator interpreta Ludemir, um dos personagens com quem a idosa se esbarra. Ela mora na beira do rio, em uma casa que, outrora, foi mais frequentada por turistas e interessados em conhecer mais do Amazonas.

As cenas de Adanilo foram todas gravadas em Manacapuru, Região Metropolitana de Manaus.

“Filmar no Amazonas é jogar em casa. Para mim, é sempre um prazer enorme voltar e reencontrar os amigos. Eu tenho estado muito fora, né? Nós filmamos no ano passado e foi muito bonito reencontrar o pessoal da técnica, o pessoal do elenco e estar nesse território também. A minha parte do filme foi feita toda em Manacapuru, que é um lugar que eu conheço e frequento bastante, um lugar onde tenho família. Então, é uma honra em dobro: poder estar nesse festival e estar nesse festival com esse filme que foi feito na nossa terra”, completa o ator.

Honra

Durante o bate-papo, Adanilo se disse honrado em fazer parte do elenco de "O Último Azul" – por diversos motivos.

“Já estive em outros festivais, estreei 'Marighella', em 2019, no Festival de Cinema de Berlim também; ano retrasado, estive no Festival de Cannes com 'Eureka', o filme dirigido pelo argentino Lisandro Alonso; e, este ano, vou voltar lá com 'O Último Azul'. Dessa vez, com um filme feito no Amazonas, cheio de atores e atrizes amazonenses, pessoas da equipe amazonenses também, um filme dirigido pelo Gabriel Mascaro, um diretor renomado e muito conhecido internacionalmente, principalmente por sua linguagem. Me interessa isso, poder estar num filme feito por ele, mais um filme feito no Amazonas, um filme repensando a nossa sociedade, pensando os caminhos da sociedade amazônica e brasileira.”

Falando em Gabriel Mascaro, o ator é só elogios.

“É um cara incrível. Uma das coisas que eu mais gosto em fazer cinema é experimentar diferentes processos e o Gabriel tem o dele. Tem um tempo de trabalho, um olhar diferente para as coisas, um apuro técnico, um desejo de inovação, de uma perspectiva diferente para uma coisa que pode até ser banal ou já conhecida. Isso tudo me interessava muito nele, sou muito fã desde outros trabalhos. Amo 'Boi Neon', é referência para mim em vários sentidos. Gosto muito de 'Divino Amor', de 'Ventos de Agosto'. O trabalho [dele] me interessava bastante desde já. É um diretor com quem eu tinha vontade enorme de trabalhar.”

Para Adanilo, inclusive, Mascaro figura entre os grandes diretores dessa geração, considerada, por ele, mais contemporânea.

“Me interessava muito a linguagem dele e o Gabriel é um cara incrível, muito parceiro, muito atencioso, ouviu muito as minhas sugestões, as minhas provocações. Ele, por ser um cara de Recife, já tem um olhar diferente, menos estereotipado, mas ele gostava muito de ouvir as nossas questões sobre a Amazônia e isso com certeza é um dos acertos. Inclusive, o filme estar repleto de amazonenses no elenco e na equipe faz com que ele tenha uma visão mais assertiva, mais realista, mais próxima do que é a Amazônia ou próxima do que a gente gosta de discutir sobre a Amazônia.”

"O Último Azul" ainda não possui data de estreia nos cinemas brasileiros ou plataformas de streaming. Porém, a previsão é que o longa chegue às telonas ainda neste ano – após rodar por outros festivais.

“Estou doido para que os brasileiros assistam a esse filme logo”, finaliza Adanilo.

Amazônia

Na trama de Tereza, a Amazônia é muito mais que um plano de fundo. Segundo o diretor Gabriel Mascaro, a região passou a ser um personagem próprio e ganhar vida nas revisões de roteiro.

“Já conhecia a Amazônia a partir de um projeto de formação de realizadores indígenas que fiz parte, o 'Vídeo nas Aldeias', quando era mais jovem. Recentemente, tive a oportunidade de ir a um festival de cinema na Índia, na cidade de Goa, quando vi um imenso barco cassino de apostas em meio a um enorme rio. Eu já tinha o argumento deste filme sendo desenvolvido, e aquilo me fez lembrar que a Amazônia seria um lugar muito especial para pensar um ‘estado de mundo’ muito próprio e singular para abrigar e complexificar a narrativa do filme, que tem uma cena muito relevante onde a protagonista põe seu futuro à prova e aposta tudo que tem, e até o que não tem, nesse cassino flutuante.”

Mascaro acha curioso que a Amazônia consumida no cinema e na TV, fora do Brasil, seja tão idealizada.

“Queria desafiar a representação romantizada conservacionista, e o filme explora uma Amazônia simultaneamente mágica e industrial, quase surreal, mas profundamente política. A história especula sobre um sistema político marcado por um fascismo tropical populista e um desenvolvimentismo agressivo, colocando a Amazônia não no espaço idealizado de ‘pulmão do mundo’, mas como uma região no seio das contradições do planeta.”

Segundo o diretor, a inspiração para o filme veio da sua própria história.

“Morei em uma casa onde morava muita gente e convivi toda minha infância e juventude com meus avós. Minha avó aprendeu a pintar aos 80 anos, após o falecimento do meu avô, e isso mudou minha perspectiva sobre o envelhecimento, mostrando-me como os idosos podem se tornar protagonistas de sua autodescoberta e de grandes mudanças.”

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