Aniversário

60 anos de Mafalda: fãs do Amazonas falam sobre o legado da personagem

A menininha dos quadrinhos argentinos, criada pelo cartunista Quino, sempre questionou o mundo ao seu redor e reúne diversos adoradores pelo mundo

Gabriel Machado
online@acritica.com
05/10/2024 às 12:55.
Atualizado em 05/10/2024 às 13:09

Para o cientista político Alexandre Lins, Mafalda e suas tirinhas seguem atuais (Divulgação)

No último dia 29 de setembro, a icônica personagem Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino, celebrou 60 anos de reflexões afiadas e críticas sociais que transcenderam fronteiras. Desde sua primeira aparição nas tirinhas, a garotinha de cabelos negros e olhar inquisitivo se tornou a voz de uma geração, questionando o mundo ao seu redor com humor e profundidade. Neste aniversário, o BEM VIVER TV revisita a sua trajetória pelos olhares de alguns dos seus maiores fãs de Manaus.

A estrategista de marketing Aline Postigo lembra bem qual frase de Mafalda a fez prestar atenção na personagem. "Ela diz bem assim em uma tirinha: 'Para onde vão os nossos silêncios quando eles não são falados?'. Houve uma identificação minha com essa frase, para onde vão os nossos silêncios? A partir daí, comecei a consumir mais a Mafalda, acho que muito lá pelos anos 2000, quando já tinha Internet também, ali pela adolescência", revela Aline.

Com o tempo, foi vendo que ela era um símbolo da Revolução Argentina - e achou absolutamente criativo fazer uma "revolução por meio de quadrinhos". "Isso foi me deixando muito mais próxima daquela menina inteligente que não se continha em ser igual a todo mundo. Ela tinha sempre uma contestação à realidade. Aquilo parecia muito comigo".

Para Aline, o que mais chama a atenção em Mafalda é a capacidade criativa que a personagem tem de contestar as coisas sem ignorância, com diplomacia. "Sem a necessidade de armas e tudo, é pela inteligência. Isso é o que eu acho mais fantástico", completa.

Ela acredita que as opiniões de Mafalda mostram que, ao tempo em que a humanidade avança em questões tecnológicas, as pessoas não conseguem "se revolucionar" em questões de comportamento. "Talvez seja uma característica humana e isso faz com que as tirinhas da Mafalda sejam muito atuais, porque elas refletem que o ser humano não evolui com a mesma velocidade da tecnologia", explica.

Aline recorda de uma viagem que fez à Argentina, país onde é possível encontrar Mafalda por todos os lugares. "Foi muito especial para mim, conhecer aquele lugar. Tenho muitas coisas da Mafalda em casa e muitos ímãs de geladeira que me trouxeram a vida toda. Aí, eu pude estar lá, no berço de onde ela foi criada, e isso foi muito legal. Muito emocionante para mim, foi um sonho realizado", declarou.

Mãe de duas meninas, Olívia e Helena (de 12 e 10 anos, respectivamente), Aline procura passar o interesse por Mafalda para elas. "Quero que elas cresçam com essa consciência crítica", frisa a estrategista de marketing.

"A Mafalda ultrapassou as paredes de ser uma personagem portenha, uma personagem argentina. Acho que ela traz muitas reflexões, inclusive de autoconhecimento, que são necessárias de contestação da sociedade. Ela traz uma inteligência, uma perspicácia. Acho que em tempos de inteligência artificial, você construir uma narrativa criativa, contestadora e que cria um efeito de tirar as vendas da sociedade de uma forma lúdica e divertida é a leveza que a sociedade precisa para olhar as coisas que acontecem com um pouco mais de consciência", finaliza.

Diplomacia

Mesmo tendo lembranças remotas de Mafalda, foi somente mais recentemente que a personagem passou a ter um espaço maior na vida do cientista político Alexandre Lins. Isso porque, por alguns anos, ele dedicou suas pesquisas às relações diplomáticas entre o Brasil e a Argentina. "Foi nesse período que passei a conhecer mais o trabalho do Quino e, consequentemente, da Mafalda. O impacto que a personagem trouxe para a minha vida foi, certamente, de ver a importância da utopia para seguir em frente", disse.

De acordo com ele, Mafalda é uma criança questionadora; no entanto, a personagem carrega consigo certa paixão pelas causas que acredita. "O que, sem dúvidas, é um traço muito presente nos argentinos, especialmente daquele período. Admiro muito o desejo de mudar as circunstâncias da vida em que ela está inserida e, claro, a necessidade quase filosófica em buscar respostas", acrescenta Alexandre.

Para o cientista político, Mafalda segue atual e isso se deve, em boa parte, ao fato de que muitos fatos políticos que ocorriam na Argentina, na América do Sul e no mundo ainda estão em processo de solução - ou apenas ganharam novas roupagens. "Desta forma, as mensagens constantes nos quadrinhos seguem plenamente atuais".

"Os quadrinhos da Mafalda nos fazem pensar, e não pensem que digo isso de uma forma arrogante. Como dito anteriormente, Quino conseguiu fazer com que a personagem fosse quase uma militante política, mas manteve a inocência da criança. Acho que recomendaria que as pessoas lessem Mafalda com este olhar. A intenção da personagem não era de impor uma visão, mas de questionar os porquês de todas as visões, principalmente, aquelas que mostravam a maldade humana", finaliza.

Infância

Desde novinho, o personal trainer Márcio Andrade se pegava lendo Mafalda e comprando as suas obras, até que começou a notar semelhanças consigo mesmo. "Tirando que ela odeia sopa e eu gosto um pouco, mas amamos os Beatles e o desenho do Pica-Pau. Citei, inclusive, ela no meu TCC da faculdade", conta Márcio.

Ele analisa a personagem como sendo uma garotinha de personalidade bem esclarecida, contestadora, revolucionária, curiosa e irônica. "Isso me admira muito nela", destacou.

Conforme Márcio, os questionamentos e críticas sociais de Mafalda são completamente atemporais. "As preocupações dela com o desenvolvimento da sociedade ainda são pertinentes nos dias de hoje para aqueles que assim, como eu, também se preocupam com a evolução do mundo", analisa.

"Nos dias de hoje, gostaria de ver as indagações dela sobre algumas coisas que a sociedade vive atualmente, como saúde mental, ditadura da beleza e outras coisas que vêm, cada vez mais, sendo vistas nos dias atuais", completa Márcio.

Para aqueles que pretendem buscar sobre a personagem após esse material, ele faz um alerta: "A primeira coisa é não olhar apenas uma personagem fofa, um desenho. Tem que entender ela. Mafalda é complexa, ler as tiras e refletir, que é justamente o que a personagem promove: reflexão", conclui.

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