ENTREVISTA

‘Pé-de-Meia para jovens e adultos foi muito salutar’, diz titular da Seduc

Arlete Mendonça afirma que o Amazonas está pronto para enfrentar os efeitos das mudanças climáticase estudantes devem ser menos prejudicados durante o período de subida e descida dos rios neste ano

Lucas dos Santos
politica@acritica.com
04/01/2025 às 09:02.
Atualizado em 04/01/2025 às 09:02

A titular da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas (Seduc-AM), Arlete Mendonça (Fotos: Junio Matos/A Crítica)

A titular da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas (Seduc-AM), Arlete Mendonça, afirmou para A CRÍTICA que o programa Pé-de-Meia, do governo Lula (PT), foi excelente para o combate à evasão escolar no Amazonas, mas especialmente importante para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O programa concede R$ 200 mensais e R$ 1 mil ao fim do ano com aprovação aos estudantes do ensino médio. Em agosto, o incentivo foi estendido  para alunos do EJA.

À frente da Educação desde janeiro do ano passado, a secretária afirmou ainda que o estado está preparado para lidar com os impactos das mudanças climáticas na vida dos estudantes em 2025. Confira a entrevista.

 A senhora assumiu a pasta no ano passado e já teve um ano de gestão. Pode fazer um balanço do que mudou, do que conseguiu ser feito ao longo desse último ano de 2024?

Assumimos dia 22 de janeiro de 2024, tínhamos estado dois anos e meio na secretaria da capital, depois para a secretaria pedagógica e recebemos o convite para assumir a titularidade. E demos continuidade nos projetos e os programas que nós já vínhamos desenvolvendo na secretaria, visto que quando você assume a titularidade você tem, lógico, um compromisso muito maior na questão das entregas, no sentido de que não somente esse trabalho que é realizado na capital, mas no interior do estado, e nós demos continuidade nos projetos que são vinculados ao programa Educa+ Amazonas. 

Esse programa é todo o marco da nossa gestão nesse período todo de 2019 até agora, no sentido de que é um programa onde ele acolhe 13 projetos, projetos esses que vêm desde o Jovem Bilíngue, que é o Na Ponta da Língua, até a Fazenda Escola, onde nós temos a oportunidade de levar os nossos estudantes até uma fazenda, através desse projeto, a Fazenda Santa Rosa, que fica aqui próximo, onde eles têm todo um conhecimento, uma aproximação com o que realmente é a vida no campo, e isso é trabalhado na questão corretada, na questão do meio ambiente, sustentabilidade. E teve algo muito importante nesse ano de 2024, que foi a inauguração da primeira Escola da Floresta, que não só foi a primeira escola do Amazonas, mas do Brasil.

 Como funciona essa escola?

 Essa escola nós tivemos o privilégio de inaugurar no mês de julho. Onde essa escola foi construída? Dentro de uma reserva de conservação sustentável no município de São Sebastião do Uatumã. Essa escola foi construída toda num projeto sustentável, onde a energia é fotovoltaica. Nós temos todo um trabalho de reaproveitamento da água, da chuva, nós temos um trabalho com aqueles estudantes que são daquela reserva, são moradores dali. O que é importante destacar é que também através da mediação tecnológica essa escola também funciona no turno noturno com alunos da comunidade e pais de alunos nossos durante o dia na Escola da Floresta, e à noite eles estão ali para estudar também. É um projeto totalmente inovador no sentido de levar o conhecimento da sustentabilidade, tem um currículo próprio voltado para a educação ambiental e escola do campo ali nessa escola.

 Há pretensão de expandir esse projeto para outros municípios do interior?

 Sim, inclusive nós temos mais uma para ser iniciada, que foi uma doação que recebemos. Tem também um projeto do Padeam II [Programa de Aceleração do Desenvolvimento da Educação do Amazonas] de construção de mais duas escolas da floresta, e isso tudo depende dessa identificação dos terrenos, das áreas, porque elas têm que ser construídas nessas áreas de conservação, justamente para que nós possamos ali levar para aqueles estudantes a ideia da conservação mesmo, da sustentabilidade e essa preservação do meio ambiente.

 Como estão os índices da educação no Amazonas em comparação ao início de 2024 até o final do ano?

 Nós tivemos em 2021 a nossa prova, que foi realizada ainda naquele meio de um pós-pandemia, essa avaliação de larga escala através do Saeb [Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica], mas em 2023 nós tivemos a oportunidade de também realizar as avaliações com as turmas de quintos anos, nonos e ensino médio. E nós tivemos um avanço no ensino médio, coisa que para nós é motivo de muita satisfação saber, porque o ensino médio por si só já é uma modalidade. Nós lidamos com jovens, na maioria das vezes pessoas que já estão na sua idade adulta, e há um problema muito sério no que diz respeito a essa questão da permanência na escola. Então nós tivemos um acréscimo, um crescimento que foi muito importante para a rede no que diz respeito ao ensino médio, no entanto no fundamental 1 e 2 nós mantivemos [os índices]. Eu sempre costumo dizer que não só crescer, mas também manter é algo muito importante, porque o que nós não queremos é  descer de onde estamos.

 O programa federal Pé-de-Meia ajudou na diminuição da evasão aqui no estado? Como foi a avaliação de vocês?

Com certeza, e o que é mais importante dizer desse programa é que veio justamente na modalidade que nós precisávamos, no sentido de fazer com que esse aluno entendesse que era importante ele permanecer, no caso do ensino médio, e nos ajudou bastante. Para nós foi muito mais salutar já agora no final do ano entre a Educação de Jovens e Adultos (EJA), que também faz parte agora do programa Pé-de-Meia, então é um programa muito positivo, eu tenho uma avaliação muito positiva. Não foi fácil trabalhar toda essa questão da frequência no estado do Amazonas, porque nós estamos falando não só da capital, mas também das escolas que estão no interior, então é excelente. Eu posso dizer que o programa foi excelente e aquilo que era necessário ser ajustado nós trabalhamos diretamente com o Ministério da Educação, com a Secretaria de Educação Básica, onde nos apoiou muito a respeito do programa nos aspectos técnicos, na questão do sistema e tudo mais.

No panorama da educação do ano passado, o Amazonas aparece com um alto número de professores temporários. No que o estado consegue contribuir para atenuar essa realidade?

 Nós temos, acredito que desde 2022 para cá, todo o trabalho de buscar implementar no estado, através dessa parceria, o regime de colaboração. Inclusive nós estamos trabalhando para criarmos um departamento dentro da Secretaria de Educação para trabalhar o regime de colaboração com os municípios do Amazonas. O que isso quer dizer? Nós já temos essa parceria em estar apoiando os municípios no que diz respeito às questões pedagógicas, mas também nessa orientação à questão da realização dos concursos públicos. O último concurso que nós fizemos foi em 2018, onde nós conseguimos, em detrimento da pandemia, até ano passado estar concluindo as últimas candidatas a serem chamadas através dessa aprovação. E nós já estamos trabalhando no edital para também realizarmos o concurso público tão logo nós possamos estar divulgando à sociedade.

O estado está saindo de duas secas históricas seguidas. Como o estado apoiou os estudantes na seca?

 O que ocorre: quando nós fomos pegos naquele momento de surpresa com a pandemia, nós aprendemos muita coisa meio que construindo o avião em movimento. Isso nos trouxe algumas experiências no sentido de que, hoje, nós conseguimos lidar com os impactos climáticos, com a seca, com a cheia, até temos resoluções já pelo Conselho Estadual de Educação, onde esse ano de 2024, no mês de abril, nós já iniciamos um trabalho de organização através de um comitê intersetorial aqui dentro da secretaria, vinculado ao Comitê de Crise na questão dos impactos climáticos, fazendo todo esse trabalho de organização dos cadernos pedagógicos para nós só no período da entrega do Merenda em Casa, esse aluno também receber esse material apostilado onde ele tinha condições de ter suas aulas pelo Aula em Casa, através da TV ou até mesmo nas plataformas digitais. 

Então agora para 2025 a Seduc já está melhor estruturada para lidar com essa questão?

Com certeza, inclusive com resoluções aprovadas no Conselho Estadual de Educação, onde dá esse respaldo a esse estudante no sentido dele poder ter as atividades ou remota ou de forma dirigida ao estudo para que ele não perca o ano que ele teve em detrimento dos impactos.

Quais vão ser as prioridades da Seduc para 2025, o que está sendo planejado?

A nossa equipe, na verdade, começa o trabalho em setembro quando começamos a elaboração do calendário escolar que é lançado no final do ano para o início do outro. Nosso trabalho maior vai ser voltado para esse foco em língua portuguesa e matemática, nessas disciplinas e nessas turmas não somente para fazer a prova, mas onde nós tenhamos essa dificuldade, para que eles possam ter um resultado melhor nessas duas disciplinas, e que nós possamos dar continuidade no Educa+ Amazonas não apenas na questão do que já está posto, mas também fortalecendo a questão das escolas de tempo integral. 

Nós tivemos em 2024 um aumento de quase 4 mil estudantes para iniciar no tempo integral. Sem contar as escolas bilíngues que nós também estamos reforçando, visto que nós temos o Jovem Bilíngue que deu a oportunidade de mil estudantes do ensino médio refazerem o seu curso de inglês no ICBEU e, ao final desses três anos, eles vão poder fazer o intercâmbio. 

Nos moldes do antigo Ciência Sem Fronteiras?

Mais ou menos isso, só que nós vamos trabalhar não somente com os alunos que estão na língua inglesa, mas também levando para os nossos estudantes das escolas bilíngue. Temos o japonês, o francês, também dá essa oportunidade para conhecer outros países.

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