jovens talentos

Estudantes com alto potencial intelectual são acompanhados desde cedo pela família e escola

Crianças e jovens com altas habilidades/superdotação podem se destacar em diversas ou apenas uma área, desde que tenha a educação correta

Lucas Motta
cidades@acritica.com
20/01/2024 às 17:54.
Atualizado em 20/01/2024 às 17:56

Luan Gama conquistou destaque nacional e acesso à universidade. (Foto: Hudson Fonseca/Aleam)

Setenta estudantes com altas habilidades/ superdotação já foram identificados pela rede pública de ensino no Amazonas até a primeira quinzena do mês de janeiro. Os jovens talentos ganham destaque na área acadêmica, mas para garantir um futuro brilhante é preciso que sejam acompanhados desde cedo pela escola e pela família

No ano passado, o Amazonas conheceu a história do Luan Gama. O pequeno gênio ganhou notoriedade no Brasil ao participar de um programa de TV em rede nacional. Para muitos dos fãs do jovem não foi surpresa quando ele conquistou, ainda em 2023, uma vaga na Universidade do Estado do Amazonas para o curso de licenciatura em Matemática, com apenas 11 anos de idade

A mãe, Lara Gama, conta que percebeu o potencial do filho quando ele tinha apenas três anos.

“Ele começou a ler cedo, fazer cálculo sozinho aos três anos. Ele já estudava, né? E eu pensava que era a professora quem ensinava ele, enquanto ela pensava que quem o ensinava era eu, em casa. Depois disso, ele foi evoluindo muito rápido”, declarou a mãe.

Em meio a tanto sucesso, o pequeno também despertou a curiosidade da população sobre as crianças superdotadas e diversas dúvidas acabaram surgindo. 

Termo correto

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o termo correto para descrever esse público é “pessoas com altas habilidades/superdotação”. Ele é usado para definir quem demonstra ter um alto potencial intelectual, acadêmico, de liderança, psicomotor e artístico, de forma isolada ou combinada, além de apresentarem grande criatividade e envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse.

O conceito é muito abrangente, mas para ajudar na identificação a neuropsicopedagoga Flávia Milon explica que três características devem ser observadas: 

“Se a criança se destaca na sala de aula entre os demais alunos, se ela possui um envolvimento muito forte com o que é ensinado, se tem um nível de criatividade alto, é possível que seja uma criança com superdotação. O diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar com psicólogos e pedagogos, por exemplo”, afirmou.

Neuropsicopedadoga Flávia Milon disse que há maneiras de identificar um aluno potencial. (Foto: Junio Matos/ A Crítica)

Lapidando os talentos 

As pessoas com altas habilidades/superdotação podem se destacar em diversas ou apenas uma área, mas para que alcancem todo o potencial que possuem precisam da educação correta

“No caso deles, a gente precisa de uma educação que seja suplementar. É preciso que eles tenham acesso a um conteúdo, a uma didática correspondente a capacidade de aprender que eles têm”, disse a neuropsicopedagoga.

Com o acesso ao ensino adequado garantido, falta apenas mais um ingrediente para a receita de sucesso estar completa: o apoio da família. 

Acompanhamento dos pais é fundamental

Flávia Molin destaca que os pais precisam se aproximar dos filhos e assumir a responsabilidade pela educação que vem de casa. Ela alerta que, na audiência deste acompanhamento, a criança pode crescer com a mentalidade de que é melhor do que as outras e isso pode ser prejudicial tanto para o superdotado quanto para quem está ao redor. 

“Tem a necessidade dos pais trabalharem o comportamento moral, o viver em sociedade. Ensinar que ele não pode achar que o colega de escola é burro, mas deve saber que todos tem ritmos diferentes e se propor a ajudar aqueles com dificuldades”, explicou a neuropsicopedagoga. 

Os pais também precisam evitar as cobranças contínuas de alto desempenho dos filhos. 

“É preciso saber estimular sem sobrecarregar. Seja criança, adolescente ou jovem o efeito é o mesmo. A sobrecarga gera aversão. É muito comum que o superdotado perca o interesse naquilo que antes era prazeroso, e pela cobrança excessiva, se torna exaustivo”, disse Flávia.

Gente como a gente

O forte desempenho, a grande criatividade e a facilidade pra entender assuntos considerados complexos demais por muitas pessoas também pode passar a ideia de que as pessoas com altas habilidades/superdotação aprendem de tudo instantaneamente. 

Mas são pessoas com como todas as outras, e que precisam de um tempo fora do mundo acadêmico. A neuropsicopedagoga Flávia Milon defende que devem amadurecer naturalmente, sem que haja aceleração ou acúmulo de responsabilidade de adultos em mentes preparadas, mas jovens demais. 

“A gente não deve colocar eles numa bolha! Na minha concepção, eles devem passar por todos os processos. Precisam se desenvolver socialmente, experimentar. São crianças, são jovens e sentem assim, reagem assim. Podem estar anos a frente academicamente, mas estão presos em seus corpos, que estão em desenvolvimento. Isso precisa ser respeitado”, complementou.

Centro de referência com ensinos fundamental e médio

O Governo do Amazonas tem uma unidade de referência para esses alunos. É a Escola Estadual Mayara Redman Abdel Aziz, localizada no bairro Adrianópolis, zona Centro-Sul de Manaus. Desde 2006 ela abriga o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S). 

Criado pelo Plano Nacional de Educação, em 2004, o projeto funciona como um centro de desenvolvimento para os estudantes

“Eles fazem aqui a suplementação, vem pra cá para ter acesso a aquilo que a escola normal não oferta. Eles querem mais, estão em busca de mais. Temos estudantes com aulas agora em janeiro, mesmo que o calendário só comece oficialmente em Março” destacou a gestora da escola, Adriana Magalhães. 

Gestora da Escola Estadual Mayara Redman Abdel Aziz, Adriana Magalhães. (Foto: Junio Matos/ A crítica)

O Núcleo atende a educação básica, fundamental e o ensino médio. As aulas acontecem três vezes na semana e são divididas em cinco grupos: artes, música, língua portuguesa, matemática e ciências. Os estudantes são encaminhados através das escolas onde estão matriculados, sejam elas públicas ou privadas. 

“Existe um formulário de encaminhamento que as escolas já conhecem. Elas preenchem esse formulário e também enviam a validação dos pais. Aqui a gente identifica qual a área que ele [o aluno] se destaca. E nossa escola atende todo o Estado do Amazonas”, disse a gestora da unidade. 

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