Problemas estruturais

Anuário da Educação aponta que escolas públicas do Amazonas tem estrutura inadequada para ensino

Os dados divulgados pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024 indicam que somente 24% das escolas tem bibliotecas, 13% possui quadra de esportes e apenas 5% tem laboratório de ciências

Lucas Motta
online@acritica.com
14/11/2024 às 14:25.
Atualizado em 14/11/2024 às 14:25

(Arquivo/AC)

Os dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, divulgados nesta quarta-feira (13), mostram que a maioria das escolas públicas do Amazonas não têm estruturas adequadas para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. A Nível nacional, um em cada três professores não possuem formação adequada para a disciplina que leciona. 

Os problemas estruturais das 5.081 escolas públicas no Amazonas são divididos em dois grupos gerais, o de infraestrutura básica e o de espaços de aprendizagem e equipamentos. No primeiro, o dado mais alarmante, segundo o levantamento do anuário, é a falta de esgoto nas instituições de ensino, a cobertura alcança apenas 7,3% do total das unidades. Já no segundo grupo a situação é ainda mais critica: só 24% tem bibliotecas (ou sala de leitura), 13% possui quadra de esportes, e apenas 5% tem laboratório de ciências. 

O diretor de Políticas Públicas da Fundação Santillana (uma das responsáveis pela pesquisa), André Lázaro, chamou atenção para a o contexto em que essas instituições de ensino estão inseridas dentro do processo educacional. Uma vez que a falta de estrutura limita os horizontes de aprendizado para os alunos e, como consequência, exige dos professores muito mais esforço para fazer com que o que é lecionado seja absorvido com qualidade. 

“Fica sobre os profissionais um peso e uma responsabilidade que não é devidamente compartilhado com pelo sistema de ensino e pelas condições de trabalho” disse o diretor. 

Perfil do estudante

Os dados do anuários foram captados de levantamentos do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) e também do Ministério da Educação (MEC), todos são referentes ao ano de 2023. No Amazonas, o número de estudantes matriculados chegou a 974.394. Dentro desse contexto, a distorção da idade-serie (atraso da formação escolar) é crescente conforme o avanço do nível de escolaridade, a cada 100 estudantes do Ensino Fundamental Anos Iniciais, 95 concluem a série aos 12 anos; 10% de distorção. No caso do Ensino Fundamental Anos Finais, 81 concluem aos 16 anos; 23,6% de distorção e no Ensino Médio 66 terminam aos 19 anos, com 29,4% de distorção. 

A pesquisa também sugere que o ambiente em que eles vivem é determinante para o desempenho acadêmico deles. O IBGE divulgou na sexta-feira (08) que na lista das 20 maiores favelas do Brasil, em número de habitantes, seis estão em Manaus, mais precisamente nas zonas Leste e Norte da capital do Amazonas. 34% da população do estado vive em favelas e a maior dentre as locais ocupa o quarto lugar no ranking, trata-se da Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, com  55.821 moradores. 

Esses locais geralmente carecem, em algum nível, de infraestrutura e de opções culturais e de lazer para os habitantes. Um dos impactos causados por essas ausências é também sentido dentro das escolas, em especial na falta do que é chamado de currículo cultural, um conceito que abarca os traços tradicionais das comunidades para dentro do processo de ensino. O objetivo dele é tornar todo o caminho em busca do conhecimento muito mais atrativo e personalizado junto a quem se propõe ensinar. 

“O saber popular, o da comunidade, da ancestralidade… eles são muitos desprestigiados e eles têm que ter lugar na escola, não para fazer prova, mas para que a criança, ao entrar na escola, se sinta num lugar que é seguro pra ela para que ela comece a fazer um diálogo entre o mundo em que ela vive e o que a instituição de ensino oferece” explicou André.

As dificuldades para quem ensina 

Pelo menos um em cada três professores não tem formação adequada para a disciplina que leciona no Brasil. Os dados do anuário mostram que apenas 68% dos educadores da rede pública possuem formação adequada no Ensino Médio; já nos Anos Finais do Ensino Fundamental, a situação é ainda pior: 59%. Outro ponto que chama muito atenção é na Educação Infantil, onde dois em cada dez docentes sequer possuem graduação. 

Os levantamentos do anuário indicam ainda que 80% do copo docente é composto por mulheres e que há muita precarização no trabalho que elas exercem ora pela falta de estruturas e condições de exercer a atividade dentro das escolas públicas, ora pela falta de acesso a um planejamento bem claro e consolidado de carreira. André lembra que essa professora, por muitas vezes, sequer tem qualquer tipo de vislumbre de crescimento pela inércia do desenvolvimento profissional. 

“O que vai ser da professora quando tiver 25 anos de carreira? Vai continuar dando aula pras mesmas turmas. Não tem a ideia de ela pode ser mentora de quem está chegando, criar um ambiente de aprendizagem diferente. A gente precisa olhar pro profissional da educação e ajudar a construir uma perspectiva de carreira em que os investimentos pessoais e intelectuais sejam gratificados ao longo do tempo” pontou.

O diretor defende que melhorar as condições das unidades de ensino é essencial, criar laboratórios equipados e funcionais e ter materiais didáticos de qualidade também uma vez que o Brasil investe no aluno um valor menor do que a metade de países como a Finlândia (dados da  Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE). Mas o que não pode ficar de fora é a mudança na maneira como o processo de ensino é tratado no país. Os investimentos também precisam ser direcionados para a cultura, o esporte, a interação com a comunidade

“A educação é sentar, durante quatro horas, olhando a nuca do colega e ouvindo um professor falar. Tem um tradicionalismo do ponto de vista metodológico e de conteúdo que estreitam muito a formação” explicou André.
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