Os dados divulgados pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024 indicam que somente 24% das escolas tem bibliotecas, 13% possui quadra de esportes e apenas 5% tem laboratório de ciências
(Arquivo/AC)
Os dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, divulgados nesta quarta-feira (13), mostram que a maioria das escolas públicas do Amazonas não têm estruturas adequadas para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. A Nível nacional, um em cada três professores não possuem formação adequada para a disciplina que leciona.
Os problemas estruturais das 5.081 escolas públicas no Amazonas são divididos em dois grupos gerais, o de infraestrutura básica e o de espaços de aprendizagem e equipamentos. No primeiro, o dado mais alarmante, segundo o levantamento do anuário, é a falta de esgoto nas instituições de ensino, a cobertura alcança apenas 7,3% do total das unidades. Já no segundo grupo a situação é ainda mais critica: só 24% tem bibliotecas (ou sala de leitura), 13% possui quadra de esportes, e apenas 5% tem laboratório de ciências.
O diretor de Políticas Públicas da Fundação Santillana (uma das responsáveis pela pesquisa), André Lázaro, chamou atenção para a o contexto em que essas instituições de ensino estão inseridas dentro do processo educacional. Uma vez que a falta de estrutura limita os horizontes de aprendizado para os alunos e, como consequência, exige dos professores muito mais esforço para fazer com que o que é lecionado seja absorvido com qualidade.
“Fica sobre os profissionais um peso e uma responsabilidade que não é devidamente compartilhado com pelo sistema de ensino e pelas condições de trabalho” disse o diretor.
Perfil do estudante
Os dados do anuários foram captados de levantamentos do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) e também do Ministério da Educação (MEC), todos são referentes ao ano de 2023. No Amazonas, o número de estudantes matriculados chegou a 974.394. Dentro desse contexto, a distorção da idade-serie (atraso da formação escolar) é crescente conforme o avanço do nível de escolaridade, a cada 100 estudantes do Ensino Fundamental Anos Iniciais, 95 concluem a série aos 12 anos; 10% de distorção. No caso do Ensino Fundamental Anos Finais, 81 concluem aos 16 anos; 23,6% de distorção e no Ensino Médio 66 terminam aos 19 anos, com 29,4% de distorção.
A pesquisa também sugere que o ambiente em que eles vivem é determinante para o desempenho acadêmico deles. O IBGE divulgou na sexta-feira (08) que na lista das 20 maiores favelas do Brasil, em número de habitantes, seis estão em Manaus, mais precisamente nas zonas Leste e Norte da capital do Amazonas. 34% da população do estado vive em favelas e a maior dentre as locais ocupa o quarto lugar no ranking, trata-se da Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, com 55.821 moradores.
Esses locais geralmente carecem, em algum nível, de infraestrutura e de opções culturais e de lazer para os habitantes. Um dos impactos causados por essas ausências é também sentido dentro das escolas, em especial na falta do que é chamado de currículo cultural, um conceito que abarca os traços tradicionais das comunidades para dentro do processo de ensino. O objetivo dele é tornar todo o caminho em busca do conhecimento muito mais atrativo e personalizado junto a quem se propõe ensinar.
As dificuldades para quem ensina
Pelo menos um em cada três professores não tem formação adequada para a disciplina que leciona no Brasil. Os dados do anuário mostram que apenas 68% dos educadores da rede pública possuem formação adequada no Ensino Médio; já nos Anos Finais do Ensino Fundamental, a situação é ainda pior: 59%. Outro ponto que chama muito atenção é na Educação Infantil, onde dois em cada dez docentes sequer possuem graduação.
Os levantamentos do anuário indicam ainda que 80% do copo docente é composto por mulheres e que há muita precarização no trabalho que elas exercem ora pela falta de estruturas e condições de exercer a atividade dentro das escolas públicas, ora pela falta de acesso a um planejamento bem claro e consolidado de carreira. André lembra que essa professora, por muitas vezes, sequer tem qualquer tipo de vislumbre de crescimento pela inércia do desenvolvimento profissional.
O diretor defende que melhorar as condições das unidades de ensino é essencial, criar laboratórios equipados e funcionais e ter materiais didáticos de qualidade também uma vez que o Brasil investe no aluno um valor menor do que a metade de países como a Finlândia (dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE). Mas o que não pode ficar de fora é a mudança na maneira como o processo de ensino é tratado no país. Os investimentos também precisam ser direcionados para a cultura, o esporte, a interação com a comunidade