Entrevista

‘O Polo Industrial de Manaus é um sucesso’, diz secretário de Alckmin

Ao A CRÍTICA, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC, Rodrigo Rollemberg, elogiou o PIM, considerando a Zona Franca como importante para o desenvolvimento da região amazônica

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
19/05/2023 às 23:19.
Atualizado em 20/05/2023 às 08:34

Rollemberg é filiado ao PSB e já foi governador do Distrito Federal (Divulgação)

Nesta semana, esteve em Manaus o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, Rodrigo Rollemberg. O cargo integra a estrutura do Ministério do Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O titular da pasta se reuniu com o empresariado local e reforçou a posição do governo federal em defesa da Zona Franca. Para A CRÍTICA, ele tornou a elogiar o modelo de isenção fiscal e ressaltou o potencial da região para atividades ligadas à bioeconomia. Confira abaixo:

A discussão sobre regulamentação do mercado de carbono está travada na Câmara, aguardando a criação de Comissão Especial para analisar o PL 2148/2015 e projetos apensados, que tratam do tema. O governo está atuando para fazer avançar essa discussão no Congresso?

A discussão da regulamentação do mercado de carbono no âmbito do Governo Federal está sendo feita por dez ministérios e tivemos a oportunidade de ouvir o setor produtivo e organizações da sociedade civil para construir uma posição do governo.

Depois de encerrado esse processo, que deve se encerrar ainda esse semestre, o núcleo político do governo decidirá se encaminhará uma proposta ou se vai, através da relatora de alguns dos projetos tramitando no Congresso, apresentar, negociar um substitutivo que incorpore as teses do governo.

Nós entendemos que o mercado de carbono é uma grande oportunidade para o Brasil. Segundo estudos da Câmara de Comércio Internacional e da Way Carbom, o Brasil pode movimentar em torno de US$ 120 bilhões no mercado de carbono até 2030 e é importante que a gente regulamente esse mercado, preservando a competitividade das nossas empresas e trazendo benefícios para o conjunto da população brasileira.

Como o Brasil pode ser beneficiado com esse mercado, especialmente a região amazônica?

O Estado do Amazonas, como os demais estados brasileiros, pode se beneficiar bastante do mercado de carbono. No caso do Amazonas eu vejo uma grande possibilidade com os sistemas agroflorestais, com o reflorestamento de áreas que já foram antropizadas e com isso promovendo o sequestro de carbono, e fazendo essa interligação do mercado voluntário com o mercado regulado de carbono.

A ideia é que se defina limites de emissões para empresas e sendo que elas poderão compensar parte dessas emissões que elas têm que reduzir com o mercado voluntário. É nesse sentido que projetos de reflorestamento e sistemas agroflorestais no Estado do Amazonas podem se beneficiar no mercado de carbono como até aqui tem sido pensado no âmbito governo.

O governo tem a reindustrialização do País como uma das metas do  governo. Qual o papel dos bionegócios - especialmente do Centro de Bionegócios da Amazônia - nesse processo?

O Brasil tem uma oportunidade gigante de se transformar numa liderança mundial, numa economia verde a partir da sua imensa biodiversidade. O que o CBA deve fazer, e essa é a missão do CBA, que deixa de ser um Centro de Biotecnologia para ser também um Centro de Bionegócios, para transformar o conhecimento já existente nas diversas instituições de ciência e tecnologia, da sabedoria das comunidades tradicionais, das comunidades indígenas, extrativistas, ribeirinhas, em produtos, em negócios que gerem riqueza para o país e gerem benefícios e melhoria da qualidade de vida dessas comunidades.

E com isso, promovendo novas rotas de desenvolvimento, a interiorização do desenvolvimento e da qualidade de vida nos diversos municípios da região amazônica.

O governo federal tem algum plano para criar uma representação no Amazonas (ou em outro estado da Amazônia) para captar investimentos especificamente em bionegócios para a região ou isso pode ser feito por meio da Suframa, CBA ou outro órgão já presente aqui?

Eu desconheço qualquer decisão do governo federal de criar qualquer outro órgão na região amazônica. Eu entendo que a Suframa cumpre um papel extremamente importante. O Polo Industrial de Manaus é um sucesso. Permitiu o desenvolvimento da região, o aumento do PIB, os números são realmente extraordinários e esse desenvolvimento contribuiu par a preservação de grande parte da floresta amazônica, especialmente no estado do Amazonas.

O CBA pode, sim, cumprir um papel de integração com os demais de ciência e tecnologia. Muito importante essa integração com os demais institutos, com as universidades, com a Embrapa, com o setor produtivo para transformar essa biodiversidade e o conhecimento existente sobre ela em produtos e negócios que tragam benefícios para toda a população. E é muito importante o Governo Federal estar consciente disso, fortalecer os demais institutos de ciência e tecnologia da região.

É muito importante que toda a rede seja fortalecida ao longo dos próximos anos, como a Embrapa, como os institutos federais, universidades federais, como os institutos de pesquisa para, através de rede, sustentar um desenvolvimento econômico em toda a região. Nesse sentido, nós temos uma ótima notícia que é o compromisso do presidente Lula de resgatar os recursos do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, FNDCT, que terá um orçamento próximo de R$ 10 bilhões esse ano e que terá no desenvolvimento da bioeconomia uma das suas linhas prioritárias.

O secretário especial para a Reforma Tributaria, Bernard Appy, tem dito que a alteração no sistema tributário brasileiro irá considerar a Zona Franca de Manaus e ter um plano de "transição" para o modelo. O senhor já participou de encontros para tratar dessa 'transição'? Isso inclui fortalecer bionegócios na região?

Não participei de nenhuma reunião sobre Reforma Tributária. O que eu percebo é que há uma sensibilidade do governo em relação à importância dos incentivos dados à Zona Franca de Manaus e que há também, por parte do governo como um todo, do Ministério da Fazenda, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, um olhar especial para a economia verde, um olhar especial pra bioeconomia, e eu tenho convicção de que o governo saberá construir instrumentos importantes para alavancar esse estratégico setor da economia.

O governo também tem defendido a importância da transição energética como uma de suas bandeiras. Isso certamente passa pelo hidrogênio verde. O país tem um plano para dar maior atenção a essa fonte de energia limpa? Quais as metas e prazos?

O Brasil tem sim, uma grande oportunidade de promover uma neoindustrialização a partir da transição energética. Nós temos diversas rotas. O que vem acontecendo com o desenvolvimento da cadeia produtiva do etanol é impressionante. Começou com açúcar, depois com álcool de primeira, etanol de primeira e segunda geração, depois com a cogeração de energia elétrica, agora a produção de biogás através da linhaça e através dos processos de fermentação de alta precisão, uma infinidade de produtos estão sendo desenvolvidos.

Secretário esteve em Manaus nesta semana (Divulgação)

O Brasil tem um grande potencial de produção do diesel verde. Tem um grande potencial também de produção do SAF, que é o combustível [sustentável] de aviação. Há um interesse enorme de empresas de investimentos em eólicas offshore, que são energias através do vento em alto mar e, junto com essas eólicas, as eólicas onshore, que são em terra firme.

Temos também as energias, os parques de energia solar, a produção do hidrogênio, do hidrogênio verde não como uma commoditie simplesmente para ser vendida para o exterior, mas como um instrumento de atração da cadeia de suprimento e das indústrias intensivas em energia, e com isso promovendo a desconcentração do desenvolvimento industrial e permitindo que o Brasil desenvolva uma indústria com a baixa pegada de carbono, portanto, mais competitiva no cenário internacional.

Quais oportunidades se abrem com a realização de uma COP na Amazônia, em Belém? O governo já planeja como utilizar esse evento para atrair investimentos para a região? E o senhor vê possibilidade de o evento ter programações também no Amazonas, outro estado importante da região?

Entendo que a realização da COP em Belém é uma oportunidade extraordinária. Primeiro para o Brasil mostrar para o mundo todos os seus processos de desenvolvimento, como o Brasil vem avançando, está avançando nos seus compromissos assumidos no acordo de Paris.

É uma oportunidade de mostrar o enorme potencial brasileiro em desenvolver a economia verde. É um momento oportuno também para se discutir o reconhecimento da importância das florestas em pé, de termos instrumentos globais que reconheçam a floresta em pé e é claro que o Estado do Amazonas, que é o estado que exerce o fascínio sobre o mundo, um estado que tem 97% da sua cobertura florestal preservada, aí objetivo de atração. Não apenas de turistas interessados em conhecer a região, mas certamente interessados, de empresários do mundo todo, de grandes atores interessados em investir em bioeconomia, aproveitar as oportunidades que essa biodiversidade que temos na Amazônia pode oferecer.

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