Economia

Novo ciclo da borracha no Amazonas impulsiona economia e sustenta comunidades ribeirinhas

Com iniciativas que integram sustentabilidade e tradição, seringueiros de Itacoatiara e outros municípios alcançam recordes de produção

Lucas Motta
online@acritica.com
01/12/2024 às 16:28.
Atualizado em 01/12/2024 às 16:28

Nonato Gomes, de 61 anos, é seringueiro há 49 anos no Amazonas (Foto: Lucas Motta)

Há 49 anos, o seringueiro Nonato Gomes sustenta a família com a extração de látex no Amazonas. Ele começou na atividade extrativista bem novo, aos 12 anos quando acompanhava o pai no mesmo ofício. Hoje, aos 61 anos, ele é responsável por produzir sete quilos da matéria prima de borracha, por dia.

“Meu pai cortava a seringueira e eu sempre do lado dele vi e aprendi. Quando eu estou fazendo o corte eu me lembro dele, de sair de casa duas horas da manhã para o seringal com lamparina na cabeça. É algo que eu gosto mesmo” explicou.

Nonato faz parte de um grupo de 30 seringueiros que atuam dentro da Aprocria, uma associação sediada no município de Itacoatiara (270 quilômetros de Manaus). Ela foi fundada em 2006 e atualmente consegue produzir 100 quilos de Cernambi Virgem Prensado (CVP) por mês - é um coágulo de borracha, primeira etapa antes do beneficiamento. Toda a produção é vendida para a empresa multinacional de fabricação de pneus e derivados, Michelin. O presidente da Aprocria, Adolfo Saunier, disse que meta é fechar o ano com 10 toneladas do material vendidas, número recorde dentro da parceria.

“A vontade é se estabilizar e continuar o trabalho da produção em cadeia, a tendência é padronizar o nosso produto, que todos os associados façam dentro de um tamanho único e assim possamos melhorar a qualidade do nosso material” comentou.

A Aprocria, por usa vez, faz parte de um projeto maior, chamado “juntos pelo extrativismo da borracha” idealizado pela WWF-BRASIL, Memorial Chico Mendes, Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Michelin e a Plataforma Parceiros pela Amazônia. A iniciativa está na terceira edição com 13 associações, na primeira remessa da atual safra (2024/2025) a produção chegou a 30 toneladas de borracha, o que representa uma renda de R$ 441 mil para os seringueiros e as associações de dois municípios: Manicoré e Itacoatiara.

Segundo o analista de sustentabilidade do Memorial, Jhassen Siqueira, o projeto está expandindo as atividades nativas de muitos ribeirinhos no Amazonas e proporcionando maior produtividade dentro desses seringais. Siqueira informa que a ideia é fazer com que esses locais, alguns dentro de áreas de conservação, possam funcionar como fonte de renda para toda a comunidade ao redor.

“Nossa intenção esse ano é passar das 150 toneladas e isso gera renda para seis municípios que tem índice de desenvolvimento muito baixo como Pauiní e Canutama. A gente tá falando de uma produção que é dentro da floresta, para os ribeirinhos que estão na beira do rio, é uma alternativa de geração de renda muito importante para eles e alimenta os fatores culturais” explicou.

Novo Ciclo

A Secretaria de Produção Rural do Amazonas (Sepror) entende que existe um novo ciclo da borracha surgindo no estado. No ano passado, o acumulado de toda a produção de seringueiros atingiu 288 toneladas, gerando um crescimento de 60% a frente de 2022, onde ocorreu uma cadeia de 3 mil empregos gerados e R$ 5 milhões de faturamento. Para incentivar esse tipo de extrativismo, uma das pastas dentro da secretaria (Idam) desenvolve programações de qualificação técnica para 14 grupos que são acompanhados anualmente.

A gerente de Apoio a Produção Florestal não Madeireira do Idam, Ana Paula Rebouças pontou que as iniciativas implementam cursos, palestras, oficinas e visitas.

“O quilo da borracha já chegou a ser comercializado por R$ 2,50 em anos anteriores, e ela ser comercializada hoje a R$ 14 e no próximo ano a R$ 15 é um grande avanço e estimula os seringueiros” explicou.
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