Reinvindicações por direitos dos trabalhadores se estendem há pelo menos dois séculos
Cientista avalia que essa mudança precisa ser acordada com todos os setores da sociedade e que uma mudança tão abrupta dificilmente seria aprovada no atual Congresso Nacional. (Reprodução)
A mobilização que pede o fim da escala de trabalho 6x1, que vem tomando conta do país desde a semana passada, não é um fato isolado na visão dos cientistas sociais Cleiton Maciel e Marcelo Seráfico, doutores em sociologia e professores do Departamento de Ciências Sociais (DCIS) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Na avaliação dos dois, essa movimentação é reflexo de uma série de lutas que se estende desde o século XIX por melhores condições de trabalho.
Cleiton Maciel relembra que as primeiras mobilizações foram para reduzir a jornada de trabalho de 16 horas para 12 horas nas indústrias, “até chegar nas oito horas que nós conhecemos e nos dias da semana que conhecimentos também”.
Marcelo Seráfico destaca que a redução da jornada de trabalho iniciou com o objetivo de garantir o direito à vida dos trabalhadores, que não suportavam cargas horárias exaustivas. A partir dessas lutas, se conseguiram outros benefícios como direito às férias e, “no caso do Brasil, ao 13º salário, ao FGTS”.
Seráfico relembra que a partir da década de 1990, vários direitos trabalhistas vêm sendo retirados, especialmente nas relações de trabalho por meio regularizações desvantajosas para os trabalhadores, criando processos de “terceirização, quarterização, pejotização, vários deles vinculados à incorporação de tecnologia nos processos de trabalho”.
Proposta benéfica
Os dois concordaram que a extinção da escala 6x1 é positiva para os trabalhadores, que teriam mais tempo para se dedicar a outras atividades como lazer, educação, consumo e tempo de qualidade com a família e pessoas próximas.
Cleiton Maciel afirma que “os trabalhadores vivem para o trabalho, no mundo do cansaço, de forma que a redução de jornada poderia impactar positivamente isso, para que eles pudessem ter mais tempo para sua vida”, enquanto Marcelo Seráfico destaca que essas horas fora do ambiente de trabalho geram uma perspectiva de “melhora, sem dúvida, nas condições de vida dos trabalhadores.
Apesar dos benefícios, Maciel avalia que essa mudança precisa ser acordada com todos os setores da sociedade e que uma mudança tão abrupta dificilmente seria aprovada no atual Congresso Nacional.
Para Marcelo Seráfico, a tramitação dessa proposta um aspecto negativo com conotação positiva: “revelar a extrema insensibilidade das camadas econômica e politicamente dominantes da sociedade brasileira para a condição de vida da maioria do povo”.