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China aposta na marca ‘Amazônia’ para ampliar parceria com a Zona Franca de Manaus

Novas fábricas da BYD e Livoltek se juntam a mais de 30 empresas com capital chinês que já atuam no Polo Industrial

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
16/06/2024 às 11:51.
Atualizado em 16/06/2024 às 11:51

Livoltek pertence ao grupo chinês Hexing. Objetivo da companhia é produzir os inversores em Manaus para atender a demanda do Brasil e América Latina. (Foto: Divulgação)

Somente neste ano, duas novas empresas chinesas anunciaram a instalação de fábricas na Zona Franca de Manaus, somando-se a outras cerca de 30 fábricas com capital chinês que já estão no Polo Industrial.

Longe de uma coincidência, o movimento é lido por especialistas como o fortalecimento da parceria entre Brasil e China em um momento em que o país asiático caminha para se tornar a maior economia do mundo. 

Em março, a chinesa BYD, fabricante de carros elétricos, já havia anunciado que produzirá baterias na Zona Franca de Manaus. Nesta semana, foi a vez da empresa Livoltek, do grupo chinês Hexing, que divulgou para a imprensa a construção da primeira fábrica de inversores de energia solar da América Latina. Ambas apostam em negócios lidos como sustentáveis em um momento em que essa pauta ganha ainda mais relevância mundial. 

Diretor comercial da Livoltek Power Brasil, Mateus Gomes destaca que um ativo considerado pela companhia foi a marca ‘Amazônia’, associada no mundo todo com a biodiversidade característica do bioma. O conceito não é novo na Zona Franca, que já exporta há décadas produtos com o selo ‘Produzido no Polo Industrial de Manaus - Conheça a Amazônia’.

Mateus explica que no caso da Livoltek, a associação principal é ao fato de a empresa produzir inversores de energia solar, uma maneira sustentável de geração de energia. “A Amazônia tem tudo a ver com o que nós produzimos, com a nossa finalidade. Isso também foi algo considerado”, afirma. A companhia também pretende, até o fim do ano, iniciar a fabricação de baterias de lítio e carregadores de veículos elétricos.

A reportagem não conseguiu o contato da BYD no Brasil, que anunciou a produção de baterias para carros elétricos no Polo Industrial. Vale mencionar, porém, que o uso de automóveis elétricos tem sido apresentado como uma das principais soluções para reduzir a poluição da atmosfera com gases do efeito estufa. 
Momento ideal 

O interesse das duas gigantes pela geração de energia sustentável se encaixa no contexto de uma atenção maior ao tema em nível global. Um relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia (IEA), dos Estados Unidos, revelou que a capacidade de energia renovável adicionada aos sistemas energéticos do planeta cresceu quase 50% em 2023, na comparação com 2022. O principal país a contribuir para esses dados foi justamente a China, conforme o mesmo levantamento.

Secretário executivo de Desenvolvimento Econômico da Sedecti, do governo do Amazonas, Gustavo Igrejas afirma que o momento, mais do que nunca, é apropriado para ampliar as parcerias entre China e Zona Franca.

“A China está crescendo muito com as próprias tecnologias, como com a energia solar. Mais do que nunca, é o momento de manter essa parceria com a China e até tentar trazer empresas que estão hoje por lá, como de circuito impresso e outros componentes importantes para a produção do Polo Industrial”, defende ele.

Produção

Conforme anúncio, a Livoltek prevê gerar mais de 600 empregos diretos e 2 mil indiretos no médio e longo prazo. O evento para celebrar o início das operações em Manaus está marcado para o dia 24 de julho e contará com a presença de autoridades, associações do setor, integradores, imprensa e influenciadores do mercado fotovoltaico.

A nova fábrica da Livoltek em Manaus ocupará 18 mil m² de área.  A empresa iniciará suas atividades com a produção de inversores string e híbridos. A expectativa é oferecer inversores fabricados no Brasil ao mesmo custo dos importados à medida em que as etapas produtivas forem sendo nacionalizadas.

Desde 2011, a empresa já aportou mais de R$ 200 milhões em investimentos no território brasileiro, contando as futuras instalações da Livoltek e as fábricas da Eletra Energy em Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza (CE), que soma mais de de 1,4 mil colaboradores, entre contratações diretas e terceirizados.

O Grupo Hexing possui escritórios no Peru, Holanda, África do Sul, Bangladesh, Argentina, Hong Kong, Indonésia, Nigéria e Senegal. Além de fábricas na China, Indonésia, Tunísia, Paquistão, Quênia, África do Sul e Brasil. A companhia é uma das principais fornecedoras de produtos e sistemas de medição inteligentes do mundo.

Segurança jurídica

Segundo o diretor comercial da Livoltek, os benefícios fiscais concedidos na Zona Franca de Manaus também foram essenciais para a escolha da região.

“Já investimos no Brasil há mais de dez anos enquanto grupo. Temos uma fábrica da Eletra, outra empresa do grupo, na região metropolitana de Fortaleza e optamos pela Zona Franca de Manaus pelas vantagens, pelos benefícios fiscais garantidos às empresas”, disse ele para A CRÍTICA.

Atualmente, empresas instaladas na Zona Franca recebem isenção, redução ou crédito dos seguintes tributos: Imposto sobre Importação (II); Imposto de Exportação (IE); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ); Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); IPTU e taxas de limpeza e licença de funcionamento. 

Mesmo com a extinção dos tributos acima, substituídos pelo novo modelo dual (um imposto federal e outro municipal + estadual), ainda em debate no Congresso Nacional, o diretor comercial da Livoltek, Mateus Gomes, diz que a empresa sente que há segurança jurídica no modelo Zona Franca. “Até porque, há grandes empresas instaladas em Manaus. Se não houvesse essa segurança, elas não estariam aqui. Por isso, também nos sentimos seguros”, comentou.

Saiba mais

Importação 

Em 2023, foram mais de U$ 4 bilhões de dólares (cerca de R$ 21 milhões) em mercadorias advindas da China e incorporadas aos processos fabris das empresas do Polo Industrial de Manaus, segundo a Suframa.

Suframa diz esperar mais empresas

Superintendente da Zona Franca de Manaus (Suframa), Bosco Saraiva diz que as empresas chinesas têm sido um dos focos da autarquia quando o assunto é divulgar os benefícios do Polo Industrial para atrair novos negócios.

“A partir de 2023, realizamos uma aproximação muito forte com a Embaixada da China no Brasil, o que nos abriu as portas para participarmos, pela primeira vez, de um evento ocorrido naquele país, que foi a China International Fair for Investment and Trade (CIFIT), em setembro de 2023 em Xiamen, província de Fujian. Tivemos um estande que apresentava nossos materiais promocionais e vídeos, além de termos realizado uma palestra para os investidores chineses em um seminário bilateral”, conta.

“Como resultado, já recebemos na Suframa empresas que nossos técnicos conversaram naquela ocasião e que seguem em tratativas para a instalação de fábricas no PIM, interessadas em produzir bens como televisores e monitores, pneumáticos, energias renováveis, telefones celulares e outros”, afirma o superintendente.

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Sedecti contabiliza dez fábricas chinesas

As empresas do Polo Industrial identificadas com capital majoritário chinês,  pela Sedecti, são: Byd, Livoltek, Gree, Futura, Nansen, Wasion, Todaytec, TPV, Hykvision, I-Sheng. Já segundo a Suframa, as companhias que são de origem chinesa ou recebem capital chinês, na Zona Franca, são mais de 30.

Blog

Gustavo Igrejas - Secretário-executivo de des. econômico da Sedecti

Sempre tivemos muito capital chinês na Zona Franca, mas era mais o periférico. Agora ele está começando a ganhar mais força por meio da presença de empresas chinesas. Tivemos algumas revoluções tecnológicas entre o século passado e este. Tivemos os japoneses no pós-guerra, depois os coreanos nas décadas de 70 e 80 e agora vivemos uma revolução de liderança chinesa. Os produtos japoneses eram considerados de má qualidade e depois foram vistos como de qualidade. Aconteceu isso com os produtos coreanos e agora acontece com os chineses. Acredito que vai ser cada vez mais comum termos, no Polo Industrial, empresas chinesas, fábricas com participação chinesas ou marcas chinesas sendo fabricadas por indústrias que fazem produção para outras marcas.

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