BR-174

Rodovia Manaus-Boa Vista é mortal para animais da floresta

Mais de 18,9 mil animais silvestres foram mortos por atropelamento nos 125 quilômetros da Terra Indígena Waimiri Atroari da BR-174 nos últimos 27 anos

Thiago Monteiro
18/01/2025 às 10:19.
Atualizado em 18/01/2025 às 10:19

Segundo dados do Programa Waimiri Atroari, cobras, pacas, macacos, cutias, sapos, ratos e dentre outros são as principais vítimas dos condutores de veículos (Foto: Divulgação)

Nos últimos 27 anos, mais de 18,9 mil animais silvestres foram mortos por atropelamento nos 125 quilômetros da Terra Indígena Waimiri Atroari (Tiwa), localizada na BR-174. 

Segundo dados coletados de 1997 até 2024 do Programa Waimiri Atroari (PWA), cobras, pacas, macacos, cutias, sapos, ratos e dentre outros são as principais vítimas dos condutores de veículos, que trafegam na região da reserva pela  rodovia federal.

Em 2024, os dados do PWA também revelaram que 964 animais foram mortos por atropelamento na Tiwa. Nos quinze primeiros dias de 2025, 32 animais já morreram por conta dessa problemática antiga da rodovia.

O coordenador do PWA, Marcelo Cavalcante, explica que campanhas periódicas são realizadas durante feriados e dentre outras datas comemorativas, período que aumenta o fluxo de veículos na reserva indígena, porém, os atropelamentos dos animais ainda são constantes na rodovia.

“Paramos carros, distribuímos folders e tudo mais. Temos a restrição noturna na reserva, então, temos feito trabalhos educativos, mas as carretas que andam a mais de 100 quilômetros por hora não deixam de atropelar os animais, é complicado”, disse Cavalcante.

Conforme o coordenador do PWA, passarelas também foram construídas para evitar e minimizar acidentes com os animais nas áreas da reserva.
 

Taxas elevadas

Para o professor e advogado Yuri Fernandes Lima, que é um dos autores do livro “Panorama do Direito Animal Brasileiro”,  e sócio do escritório Bruno Boris Advogados, o Brasil é um país de dimensões continentais, biodiversidade grande e os casos de atropelamentos de animais consequentemente têm taxas elevadas.

“Cerca de 90% dos animais atropelados são pequenos, entre os anfíbios e répteis, o 1% são grandes mamíferos como onças. O que causam esses acidentes são as faltas de políticas públicas, educação ambiental, falta de medidas mitigadoras, então, ainda não temos no Brasil de forma majoritária e importantes essas medidas”, afirma Lima.

Yuri Lima destaca que normalmente as pessoas pensam em passagens subterrâneas e suspensas são medidas necessárias para reduzir esse problema, porém, estudos revelam que os animais demoram muitos anos para aprender e se adaptar a usar essa metodologia. 

“A principal medida para combater esses atropelamentos é por meio de educação ambiental, redutores de velocidade e termos maiores fiscalizações”, conclui.

O Centro Brasileiro de Estudos de Ecologia de Estradas (CBEE)  estima que mais de 15 animais morrem nas estradas brasileiras a cada segundo.  Diariamente devem morrer mais de 1,3 milhão de animais. E ao final de um ano mais de 475 milhões de animais selvagens são atropelados no Brasil.

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