Mudanças climáticas

Reino Unido e governo brasileiro em projeto milionário para entender o futuro da Amazônia

Governo britânico está contribuindo com 2 milhões de libras, e o FNDCT com R$ 32 milhões, para o programa de pesquisa pioneiro que pode revolucionar o futuro da floresta

Karol Rocha
online@acritica.com
23/05/2023 às 19:08.
Atualizado em 24/05/2023 às 16:47

(Foto: Divulgação)

Mudar a atmosfera para entender o futuro da floresta amazônica. Essa é a proposta do programa de pesquisa ‘AmazonFACE’ que contará agora com o investimento de 2 milhões de libras do governo britânico e R$ 32 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que integra o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do Governo Federal. 

O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira (23) pela ministra do MCTI, Luciana Santos, e o ministro das Relações Exteriores, Commonwealth e Desenvolvimento do Reino Unido, James Cleverly, durante visita ao perímetro de pesquisa localizada cerca de 70 quilômetros de Manaus. 

“Nos honra muito ter a presença do ministro da relações exteriores, o chanceler do Reino Unido, que vem agregar com uma contribuição científica e financeira a essa experiência singular”, afirmou a ministra, junto da autoridade britânica. 

“O estudo para nós terá uma contribuição inimaginável no que diz respeito às medidas que precisam ser tomadas contra impactos do aquecimento global”, disse ainda. 

(Foto: Inpa)

 O programa, em outras palavras, é um verdadeiro laboratório a céu aberto e tem como objetivo entender como a floresta amazônica se comportará, no futuro, com o aumento de emissões de gás carbônico. Com o valor anunciado nesta terça-feira, o Reino Unido soma 7,3 milhões de libras (R$45 milhões) de apoio ao AmazonFACE desde 2021.

“Uma das perguntas mais importantes é como a floresta vai reagir a essa mudança de temperatura em um mundo com mais dióxido de carbono na atmosfera”, afirmou um dos coordenadores do programa, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Carlos Alberto Quesada.

Além dele, o pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri / Unicamp), David Lapola, também está a frente do AmazonFACE, que teve início em 2014.

“A gente quer saber se esse excesso de estímulo vai favorecer a vidas das plantas e com isso, elas podem ficar mais resistentes ou não para essa mudança que vem vindo pela frente”, explicou ainda.

Estrutura do experimento

Atualmente, estão sendo construídos dois dos seis anéis em um território reservado para pesquisa na Floresta Amazônica. Cada estrutura será composta por 16 torres de alumínio, com 30 metros de diâmetro. 

“É um conjunto de torres e é um sistema que vai borrifar o CO2 na copa das árvores para imitar o que vai ser a atmosfera daqui a trinta ou quarenta anos. A ideia é ter um sistema a céu aberto em que a gente vai mudar a atmosfera para entender o futuro”, destacou o pesquisador do Inpa. 

Cada anel terá também um guindaste com cerca de 50 metros de altura que permitirá aos cientistas coletarem materiais e observarem o que acontece acima da copa das árvores. A previsão é colocar os seis anéis em operação no início de 2024.

Mudanças da floresta com o CO2

Enquanto a estrutura não fica totalmente pronta, os pesquisadores simulam grandes quantidades de CO2 sobre as medições nas duas estruturas já pre montadas. Os pesquisadores estudam as medidas de fotossíntese e transpiração nas câmaras de topo aberto; as dinâmicas de raizes de solo; monitoramento da fenologia e idade foliar, além da estrutura e composição da floresta. 

Nas câmaras localizadas na área experimental, por exemplo, a equipe já conseguiu ter uma ideia de como as plantas reagem a grandes quantidades de CO2. “Essas plantas tem uma limitação nutricional de solo, e esse aumento de CO2 aliviou a limitação dessas plantas que conseguiram responder a isso. O prognóstico tem sido bom”, comentou  a gerente científica do programa AmazonFACE, Sabrina Garcia.

Apesar de mudanças que podem ser positivas, os pesquisadores afirmam que o aumento de CO2 na floresta amazônica podem trazer grandes problemas. Entretanto, será necessário um acompanhamento a longo prazo para entender as reais mudanças. Segundo os pesquisadores, assim que a estrutura estiver pronta, em 2024, a ideia é que o experimento atue por dez anos. 

“A gente sabe que quando aumenta a concentração de CO2 na atmosfera da planta, ela precisará perder menos água e quando isso acontece, você está reduzindo a quantidade da água que volta para a atmosfera o que pode mudar na formação de nuvem e a quantidade de chuva que cai. Por isso, a grande importância da gente tentar entender que trajetória a Amazônia vai tomar”, finalizou Quesada. 

O que é o AmazonFACE

O AmazonFACE é um programa de pesquisa do MCTI e integra a estratégia da pasta ministerial para desenvolver ciência na Amazônia. O programa é coordenado pelos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em cooperação internacional com o governo britânico por meio do FCDO e implementado pelo Met Office - o serviço de meteorologia britânico.

O experimento utiliza a tecnologia FACE (Free Air Carbon Dioxide Enrichment), ou enriquecimento de gás carbônico ao ar livre, em português. A tecnologia FACE libera ar enriquecido com gás carbônico sobre uma vegetação e monitora suas respostas. Isso vai ajudar a entender como o aumento do CO2 modifica folhas, raízes, solo, ciclo da água e dos nutrientes da Floresta Amazônica. O impacto ao redor da área do experimento na Amazônia será mínimo e todo o carbono liberado será compensado com o plantio de árvores em áreas de fronteira com o desmatamento.

A tecnologia existe desde os anos 1990 e já foi aplicada em projetos em florestas temperadas nos Estados Unidos e na Austrália e no Reino Unido. O AmazonFACE é o único em floresta tropical.

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