CONEXÃO RIO-BAKU

Presidente da COP apela ao G20 para avançar negociações

Rio de Janeiro e Baku estão a mais de 11,8 mil quilômetros de distância em linha reta, mas cidades estão fortemente ligadas na agenda política global desta semana

Waldick Junior
online@acritica.com
18/11/2024 às 14:10.
Atualizado em 18/11/2024 às 14:10

Além do pedido às 20 maiores economias, foi anunciado que o Brasil, presidente da próxima COP, e o Reino Unido, último país desenvolvido a sediar o evento, foram convidados a serem “facilitadores” (Ricardo Stuckert/PR)

Baku - A mais de 11,8 mil quilômetros de distância uma da outra, as cidades do Rio de Janeiro e Baku estão fortemente ligadas na agenda política global desta semana. Enquanto a primeira recebe o G20, grupo das maiores economias do mundo, a segunda sedia a 29ª edição da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 29). A ligação ficou evidente nesta segunda-feira (18), quando o presidente da COP, Mukhtar Babayev, fez um apelo aos líderes globais.

“[Os países do G20] respondem por 85% do PIB global e 80% das emissões [de gases do efeito estufa]. A liderança deles é essencial para fazer progresso em todos os pilares do Acordo de Paris, do financiamento à mitigação e adaptação. Nós não podemos alcançar esses pontos sem eles e o mundo espera para ouvi-los”, disse em uma coletiva de imprensa.
O balanço geral da primeira semana na Conferência do Clima é de que as negociações avançaram pouco.

A ligação ficou evidente nesta segunda-feira (18), quando o presidente da COP, Mukhtar Babayev, fez um apelo aos líderes globais. (Murad Sezer/Reuters)

 A expectativa é que isso mude nos próximos dias, especialmente se houver uma sinalização de comprometimento dos países do G20 com o combate e adaptação às mudanças climáticas. 

“Nós pedimos aos líderes que usem o G20 para enviar um sinal positivo do seu compromisso de abordar a crise climática. Que eles tenham um sinal claro para enviar à COP 29. Esta é a sua oportunidade de mostrar sua liderança”, apelou o presidente da COP em Baku.

Além do pedido às 20 maiores economias, Babayev anunciou que o Brasil, presidente da próxima COP, e o Reino Unido, último país desenvolvido a sediar o evento, foram convidados a serem “facilitadores”, ajudando as nações a buscarem consenso nos acordos. A informação foi lida como um sinal de preocupação do Azerbaijão de não avançar com as negociações.

Especialista em estratégias internacionais do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Cíntya Feitosa explica que um recado do G20 pode ajudar a avançar as conversas.

“Se houver uma sinalização política de alto nível de chefes de Estado, de governo, se eles se comprometerem com mobilização de recursos, isso pode dar um sinal positivo para as negociações da COP”, diz.

O aceno pode vir, por exemplo, em discursos, mas ela destaca que o ideal seria constar na declaração de líderes, o documento de maior  peso político no encontro. A carta já está sendo discutida e há previsão de que seja divulgada nesta terça-feira (19), diz uma fonte da diplomacia brasileira.

“É claro que o discurso vale muito a depender de quem o fizer. O Brasil está presidindo esse fórum, mas ele é só um no multilateralismo. Se não tivermos países desenvolvidos demonstrando que estão comprometidos com o tema, [a sinalização perde força]”, afirma Cíntya.

“Sem teatro”
Apelidada de “COP do financiamento”, a edição deste ano ainda avançou pouco no debate sobre a necessidade de financiamento de países historicamente mais poluidores às nações em desenvolvimento. É preciso definir um valor atualizado, a forma de acesso e o quanto desse recurso será concessional, ou seja, doado ou financiado a juros muito baixos aos países.

A forma de acesso é o que está mais próxima do consenso, com um texto pré-pronto sendo ajustado neste momento. A avaliação de observadores brasileiros é que a parte técnica dos debates ficou na semana passada e agora é a hora dos termos políticos. 

Os países divergem sobre uma série de pontos. Os mais ricos, por exemplo, querem aumentar a base dos que precisam financiar a adaptação e combate à mudança do clima. Já os mais pobres defendem que nações em desenvolvimento possam até doar, mas voluntariamente. Eles também pedem por mais provisão (doação ou empréstimos baixos), enquanto os mais ricos querem contabilizar financiamento em projetos climáticos por meio de bancos de desenvolvimento, por exemplo.

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, o secretário executivo da ONU sobre Mudança do Clima, Simon Stiell, foi enfático ao pedir que os países parem de perder tempo com problemas menos contenciosos e partam para as decisões políticas que importam.

“Vamos cortar a parte teatral e chegar ao negócio real nesta semana. Sim, há desafios, nós sabemos. Mas lamentarmos isso não vai fazê-los irem embora. Agora é a hora de nos concentrarmos nas soluções. Eu sei que podemos fazer isso”, disse.

COP 30
Os resultados da conferência deste ano interessam especialmente ao Brasil, porque tudo o que será definido em Baku terá reflexo na COP 30, que acontece em Belém (PA) no próximo ano. O país defende que a próxima edição seja a “COP da implementação”. Para isso, porém, precisa vencer no tópico do financiamento.

“A gente precisa  de um resultado que ancore as decisões já tomadas anteriormente, como o GST [Balanço Global do Acordo de Paris]. Precisa ter um espaço dentro da convenção e nas negociações que discuta a implementação. Precisa ter um bom resultado do NCQD [Nova Meta Quantificada Global], de finanças e para reconstruir a confiança entre os países desenvolvidos e as nações em desenvolvimento”, afirma Cíntya Feitosa, do iCS.

“Considerando as diferentes realidades dos países, entre agora e a COP 30 a gente precisa de mais NDCs na  mesa.Os países precisam apresentar suas metas. O acordo de Paris diz que precisa ser até fevereiro de 2025, mas a realidade que se impõe é que não necessariamente vão vir muitas metas até essa data”, complementa.

Até o momento, os Emirados Árabes Unidos, o Reino Unido e o Brasil foram os únicos países a apresentarem suas novas  metas. O governo brasileiro se comprometeu a reduzir as emissões de gases entre 59% e 67% até 2035, em comparação aos níveis  de 2005. 


O repórter que assina esta matéria viajou a Baku, Azerbaijão, a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

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