Mudanças climáticas

Pesquisador do Inpa afirma que cheias e secas extremas podem continuar até 2050

Em evento no Cieam, Renato Cruz Senna avaliou que a frequência dos eventos climáticos deve se manter por mais duas décadas

Lucas dos Santos
26/01/2025 às 08:43.
Atualizado em 26/01/2025 às 08:43

Pesquisador Renato Cruz Senna, do Inpa, durante XI Fórum de Logística promovido pelo Cieam na quinta-feira para discutir os desafios esperados para a seca de 2025. (Daniel Brandão/A CRÍTICA)

O pesquisador Renato Cruz Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), avaliou que os eventos climáticos extremos que afetam os rios da região amazônica, especialmente as cheias e as secas recordes, podem continuar no patamar atual por pelo menos mais 25 anos. A informação foi dita durante o XI Fórum de Logística na  última quinta-feira (23), promovido pelo Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) para associados.

Segundo Senna, não apenas os fenômenos El Niño e La Niña, que aquecem e resfriam o oceano Pacífico, respectivamente, devem ser observados, mas também o aquecimento e esfriamento das águas do oceano Atlântico Tropical Norte, na região do Caribe, as quais possuem um ciclo mais longo e estão, atualmente, em condição de aquecimento.

Ao contrário do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), que utiliza a série história para analisar a hidrologia dos rios, o Inpa passou a usar somente um recorte dos últimos 30 anos. A razão disso é justamente pelo ciclo do Atlântico Tropical Norte ser muito longo, de ao menos 40 anos frio e 40 anos quente. Segundo Renato Senna, já estamos há 20 anos no período quente do oceano.

“Meio grau, um grau e meio, parece que é nada. Mas quando os eventos acontecem, e eles começam a acontecer no final da década de 1990, a gente tem os eventos de 2005, 2010, 2021, 2023, 2024. Então quando eventos acontecem associados ao Atlântico Tropical Norte em fase quente, se preparem, os problemas vão acontecer. O Atlântico vai ficar aquecido até quando? Pelo menos mais 25 anos”, disse.

Ele ressalta que se até 2050 os eventos climáticos continuarem ocorrendo simultaneamente, a bacia Amazônica continuará enfrentando tanto cheias quanto secas severas.

“Se a gente botar a problemática do aquecimento global, esse problema pode ser bem pior do que a gente está falando. Então, senhores, vocês que estão aqui, tem empresas aqui, esse é um assunto para preocupar vocês. Essas condições vão afetar toda condição de vida, toda a questão da indústria, toda a questão do comércio, da navegabilidade, do transporte, do ciclo de vida das populações”, alertou.

No último ano, o rio Negro atingiu a mínima histórica de 12,11 metros, provocando isolamento e declaração de emergência em todos os municípios, voltando a encher definitivamente somente no mês de novembro de 2024.

'Problema cada vez mais grave'

O pesquisador lembrou que quando chegou na região há quase 40 anos, não se imaginava trabalhar com um monitor de secas para a Amazônia, a qual ele apontou como um “paraíso de águas, nosso país de águas. Esse é um problema que tem se tornado cada vez mais grave para nós”.

Em sua apresentação, o Renato Senna destacou que, apesar da cheia forte em 2022, houve uma quebra do processo ao final do ano, fazendo com que em 2023 o nível ficasse abaixo do normal para a época. No início daquele ano, o rio Negro abriu com 19,24 metros e teve uma subida extremamente lenta ao longo dos meses de cheia.

“Em 2023 a gente começava a ter um prenúncio do que poderia acontecer em 2024. Em 2023 ocorre não só o El Niño, tão falado e mal falado. O El Niño realmente provoca a deficiência de precipitação na Amazônia, só que em 2023 ocorre um evento climático simultâneo ao El Niño, que é o aquecimento das águas do Atlântico Tropical Norte na região do mar do Caribe, onde se forma a temporada de furacões”, aponta.

Senna relembra o ano de 2005, quando o furacão Katrina devastou boa parte do litoral dos Estados Unidos. No mesmo ano, a Amazônia passou por uma seca “bastante expressiva” para a época. Segundo o pesquisador, o aquecimento das águas do Atlântico Tropical Norte desvia as nuvens que viriam para a bacia Amazônica por meio do oceano Atlântico para o hemisfério Norte, alimentando a ocorrência de furacões.

“Em ano que você tem uma temporada de furações muito ativa, se preparem, porque este vai ser um ano de deficiência de precipitação na Amazônia. Aí entra o ano de 2024 nessa condição absurda, e a gente começou a avisar bem no comecinho. Na realidade, no segundo semestre de 2023 a gente já disse: ‘vai ser uma seca importante, muito importante’. A gente não conseguia dimensionar esse processo porque até então não tinha registro de Atlântico Tropical Norte aquecido em conjuntura com o El Niño no Pacífico”, frisou.

A ocorrência dos dois eventos ao mesmo tempo, segundo o pesquisador, foi o fator determinante para as duas secas recordes de 2023 e 2024.

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