Marubo lutava contra uma hepatite crônica decorrente de diversas epidemias
(Foto: Reprodução)
Morreu na manhã deste sábado (3), Paulo Marubo, uma das principais lideranças indígenas da Terra Indígena Vale do Javari (TIVJ). Marubo lutava contra uma hepatite crônica decorrente de diversas epidemias e surtos epidemiológicos e falência múltiplas de órgãos.
Paulo Dollis Barbosa da Silva foi professor no TIVJ e coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) por três vezes, além de ter sido um dos responsáveis por estruturar a Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), que surgiu com a função de ampliar a segurança dos povos originários que habitam a Terra Indígena do Vale do Javari.
Em nota, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), lamentou a morte do líder indígena e ressaltou que Paulo Marubo em sua atuação estava “criando condições para que a floresta e as vidas que ali habitam sigam em pé.”
A Coordenação da Organização Indígena Univaja emitiu uma nota de pesar afirmando que “deixou como legado uma escola de líderes diferenciados que tem atuado em favor dos povos indígenas do Vale do Javari.”
“Paulo Marubo sempre será uma figura de extrema importância para todos nós, e acreditamos que um dia nos encontraremos em outros planos celestiais. Seguiremos firmes na condução de seus ensinamentos”, finalizou a nota.
Em suas redes sociais, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, lamentou a morte do líder indígena, informando que conviveu com Paulo Marubo no movimento indígena.
“Recebi com enorme tristeza a notícia da sua morte, liderança que fez um importante trabalho no Vale do Javari em defesa dos povos indígenas da região. Minha solidariedade à família, amigos e ao povo Marubo por essa grande perda”, disse em sua publicação.
O Ministério dos Povos Indígenas também emitiu uma nota de pesar a respeito da morte de Paulo Marubo também em suas redes sociais. Em trecho, o ministério declarou que Paulo “deixa um grande legado e uma inspiração na defesa incansável dos povos do Vale do Javari.”
Pedido de ajuda
No áudio divulgado, Eliésio Marubo pede ajuda para realizar a retirada do corpo de Paulo Marubo, para devolvê-lo à família. “Peço a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) e se for possível da Funai para que a gente possa fazer esse último gesto em nome do Paulo devolvendo o corpo dele a família.
Ameaças
Paulo Marubo era uma das lideranças indígenas ameaçadas de morte por grupos criminosos que operam na região onde foram mortos o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips. Um dos casos foi em dezembro de 2018, quando a Base da Fundação Nacional dos Povos Originários (Funai) no rio Ituí e Itacoaí foram atacada a tiros por invasores e pescadores, onde Paulo Marubo já havia alertado para o avanço da violência dentro do território.
Em 2019, o líder Marubo relatou através de denúncia, a presença de missionários nas áreas isoladas indígenas. Segundo a denúncia, dois missionários norte-americanos estariam pressionando membros da organização, cuja sede se localizava em Atalaia do Norte, há 1137 km da capital do Amazonas, Manaus, para conseguir uma autorização de entrada, exigida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) naquela época.
Campanha de doação
Há dois dias, Univaja realizou uma campanha de doações para auxiliar no tratamento de saúde do líder indígena e usou as redes sociais como meio de divulgação. Uma vaquinha online chegou a ser realizada para, segundo a organização, ser destinadas ao pagamento de exames, cirurgia, remédios, deslocamentos e alimentação.
O Procurador Jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e sobrinho de Paulo, Eliésio Marubo, destacou em áudio divulgado à imprensa que "Foi uma importante liderança para conduzir os interesses da nossa região e muito contribuiu com o modelo da Univaja atualmente".
“Nossa região está de luto, a nossa região perde muito com alguém que teve muita importância na condução dos interesses coletivos da nossa região”, disse ele, em áudio divulgado em rede social”, disse.