Mudanças Climáticas

Modelo atual da COP não entregará mudanças necessárias, diz Clube de Roma

Grupo é formado por 100 personalidades influentes em todo o mundo, incluindo cientistas, economistas, líderes empresariais e ex-chefes de estado

Waldick Júnior*
online@acritica.com
15/11/2024 às 15:08.
Atualizado em 15/11/2024 às 15:09

(FOTO: Divulgação/The Clube of Roma)

Baku - Em carta divulgada nesta sexta-feira (15), o Clube de Roma afirmou que o modelo atual da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) não irá entregar ao planeta as ações necessárias para barrar o aquecimento da terra em até 1,5 ºC no tempo necessário. Formado em 1968, hoje o grupo é composto por 100 personalidades influentes em todo o mundo, incluindo economistas, cientistas, líderes empresariais e ex-chefes de  estado.

A publicação do documento ocorre em meio à realização da 29º edição da COP em Baku, no Azerbaijão. O evento tem sido  marcado pela ausência de líderes importantes, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; da China, Xi Jinping; da Índia, Narendra Modi; e do Brasil, Lula da Silva. A “sombra” da eleição de Donald Trump nos EUA, um negacionista climático, também marcou o encontro.

“A ciência nos diz que as emissões globais de gases de efeito estufa devem ser reduzidas em 7,5% ao ano para termos alguma chance de permanecer dentro do limite de 1,5°C, um pré-requisito para a estabilidade do nosso planeta e um futuro habitável para grande parte da humanidade”.

“As 28 COPs anteriores nos entregaram a estrutura política para atingir isso. No entanto, sua estrutura atual simplesmente não pode entregar a mudança em velocidade e escalas exponenciais, o que é essencial para garantir um pouso climático seguro para a humanidade. É isso que nos obriga a pedir uma revisão fundamental da COP”, diz trecho da carta.

O documento pede uma mudança “da negociação para a implementação” dos compromissos acordados e sugere sete medidas para que a reforma seja realizada no principal evento do mundo sobre mudanças climáticas.

Dentre elas, está a sugestão para que haja um processo de seleção criterioso para a presidência das COPS. O objetivo, defendem, é “excluir países que não apoiam  a eliminação/transição da energia fóssil”. 

O trecho pode ser entendido como uma crítica às presidências da COPs 28 (Emirados Árabes Unidos), 29 (Azerbaijão) e 30 (Brasil). Nos três países, a exploração de petróleo é considerada essencial para a economia e há sinalizações de novos investimentos na área - não o contrário. No território brasileiro, a nova fronteira defendida é a exploração na Foz do rio Amazonas.

Outra sugestão é para que haja responsabilização aos países por suas metas e compromissos climáticos. “Embora a estrutura de Paris tenha sido concebida para operar em "modo de entrega", ela não está funcionando porque os governos não são responsabilizados para garantir que os planos de ação nacionais estejam alinhados com as evidências científicas mais recentes”, diz o clube.

O documento também defende COPs menores, onde os países apresentam seus progressos e são responsabilizados de acordo com a ciência mais recente, e discutem soluções para finanças, tecnologia e equidade. 

Outra crítica, seguida por sugestão, é que haja maior equilíbrio de representação no evento. Esse ponto está relacionado à luta histórica de populações tradicionais para serem ouvidas nas COPs, já que elas estão nos territórios primeiramente afetados pela crise climática. 

“Um número recorde de 2.456 lobistas de combustíveis fósseis tiveram acesso concedido na COP28, quase quatro vezes mais do que na COP27. O fato de haver muito mais lobistas de combustíveis fósseis do que representantes oficiais de instituições científicas, comunidades indígenas e nações vulneráveis ​​reflete um desequilíbrio sistêmico na representação da COP”, apontam.

Dentre os membros do Clube de Roma e signatários da carta, estão o cientista brasileiro Carlos Nobre; a ex-secretária executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, Christiana Figueres; e o ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

*O jornalista que assina esta reportagem viajou a Baku (Azerbaijão) a convite do Instituto Clima e Sociedade

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