No G20, presidente diz que mesmo se o Brasil zerar o desmatamento, o bioma pode continuar em perigo
(Tomaz Silva/Agência Brasil)
Baku - Em discurso no segundo dia de reunião do G20, o presidente Lula (PT) afirmou que a Amazônia continuará ameaçada, mesmo que o desmatamento seja zerado, caso os países falhem em conter o aquecimento global. As mudanças climáticas têm sido um tópico presente no evento, que acontece simultâneo à 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29), em Baku, no Azerbaijão.
“Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não cumprir a missão de conter o aquecimento global”, afirmou o brasileiro, que tem se colocado em posição de liderança global no clima.
O aumento das temperaturas já é associado a uma série de extremos na Amazônia. Em entrevista para A CRÍTICA, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, relacionou a mudança do clima ao aumento das queimadas, afirmando que a floresta está mais seca.
Já um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e parceiros apontou que o aquecimento global tornou a seca de 2023, na Amazônia, 30 vezes mais provável de acontecer.
Metas
Em seu discurso, Lula lembrou que o Brasil apresentou a sua nova meta climática (NDC) em Baku, na semana passada, aumentando a meta de reduzir emissões de gases do efeito estufa de 59% a 67% até 2035, comparado a 2005.
“Já temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 90% de eletricidade proveniente de fontes renováveis. Somos campeões em biocombustíveis, avançamos na geração eólica e solar e em hidrogênio verde. A maior parte da redução das nossas emissões virá da queda no desmatamento, que diminuiu 45% nos últimos dois anos”, afirmou.
O Acordo de Paris prevê que os membros precisam apresentar suas novas metas climáticas até fevereiro de 2025. O Brasil foi o segundo país a fazer isso antes do prazo, atrás dos Emirados Árabes Unidos, que sediaram a última COP. O terceiro foi o Reino Unido.
“Peço o engajamento do G20 na Mobilização Global Conjunta Brasil-ONU para elevar o nível de ambição da próxima rodada das NDCs [metas]. É fundamental que as novas NDCs estejam alinhadas à meta de limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”, defendeu.
O presidente também fez uma sinalização discreta para que os países considerem, em suas novas metas, a transição energética. A redução do uso dos combustíveis fósseis é um dos temas espinhosos no debate, inclusive para o Brasil, que ainda prospecta explorar petróleo na Foz do rio Amazonas.
“Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa. É essencial que considerem adotar metas absolutas de redução de emissões. O Brasil apresentou em Baku sua nova NDC, que abrange todos os gases de efeito estufa e setores econômicos”, disse o presidente.
No Azerbaijão, as negociações para barrar e se adaptar à mudança do clima continuam, mas os olhares seguem atentos para as sinalizações das maiores economias do mundo nas reuniões do G20, no Rio de Janeiro. A maior delas se concretizou na Declaração de Líderes, carta divulgada nesta terça-feira pelos membros do grupo.
*O repórter que assina esta matéria viajou a Baku, Azerbaijão, a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)