PEDIDO ESPECIAL

Indígenas ticuna redigem carta a Lula pedindo por curso de medicina tropical no Alto Solimões

Na carta, os indígenas ticunas solicitam que o curso seja ministrado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no campus em Benjamin Constant

Amariles Gama
online@acritica.com
15/09/2023 às 18:24.
Atualizado em 15/09/2023 às 18:24

Indígenas do povo ticuna da região do Alto Solimões, no Amazonas, escreveram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo a implantação de um curso de Medicina Tropical, em Benjamin Constant (município distante 1.119 quilômetros de Manaus). O documento é assinado pelo líder indígena ticuna, Paulo Honorato Mendes, e foi entregue ao presidente Lula durante uma visita a Manaus ainda na campanha eleitoral.

Na carta, os indígenas ticunas solicitam que o curso seja ministrado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no campus em Benjamin Constant. O pedido quer incentivar a formação acadêmica e profissional de jovens de indígenas, mas o documento ressalta que a “solicitação visa alcançar não apenas os povos indígenas como também o restante da população não indígena”.

O líder indígena Paulo Honorato disse ao A CRÍTICA que a implantação do curso no município é fundamental visto que é uma região muito distante da capital. Segundo ele, muitas vezes os jovens até são aprovados no vestibular, mas o deslocamento para a capital requer recursos que eles não têm.

“O alto Solimões é um lugar muito distante, às vezes, nossos jovens são selecionados em vestibulares, mas quando chega hora viajar nós ficamos sem apoio para passagem. Aí nós tivemos a ideia de fazer esse pedido ao presidente do Brasil caso eleito. Para nós era a única solução, vindo do presidente que nós já sonhamos acompanhando o trabalho dele e confiamos nele e que ele é único”, relatou a liderança indígena. 

Na carta entregue à Lula, os indígenas destacam que o povo ticuna é o maior povo indígena do país com uma população de cerca de 60 mil pessoas, sendo a maioria na região do Alto Solimões, onde está localizado o igarapé Eware. 

“O igarapé Eware onde fomos pescados por nossos ancestrais de acordo com nossa comosvisão, e onde, vivemos e resistimos há mais de 521 anos desde a chegada dos europeus mantendo nossa língua, cultura, organização social e costumes”, descrevem.

DIFICULDADES LOGÍSTICAS

De acordo com o documento, há um crescimento populacional acelerado e por isso eles acreditam ser urgente reforçar as antigas demandas pela formação acadêmica e profissional de jovens indígenas. “Uma das demandas principais é na área de saúde, que apesar de alguns avanços nessa política pública, nossas comunidades continuam carentes de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde”, afirmam. 

O documento também cita que frequentemente os indígenas precisam se deslocar até a cidade de Manaus para tratar doenças tropicais como malária, dengue, febre amarela, doença de chagas, leishmaniose, hepatites, entre outras que afetam a população indígena. 

“Neste sentido, apelamos para vossa sensibilidade para que viabilize a instalação do Curso de Medicina Tropical na UFAM localizada em nossa região, pois isto facilitaria bastante o acesso de nossos alunos indígenas que enfrentam muitas dificuldades para conseguir se formar em áreas de saúde, pois não possuem condições financeiras de ir estudar e morar na cidade de Manaus”, diz trecho da carta. 

A demanda pela abertura do curso, segundo a liderança indígena, ultrapassa as necessidades do povo Ticuna, abrangendo também as necessidades dos demais povos indígenas. “Os Kokama, Cambeva, Kaixana, Kanamari e Witota do Alto Solimões e ainda dos povos indígenas do Vale do Javari Maubo, Mayuruna, Matis, Kulina e Kanamari que são nossos vizinhos”, destaca. 

A carta finaliza destacando que o pedido tem como objetivo beneficiar não apenas os povos indígenas como também o restante da população não indígena de Benjamin Constant e municípios vizinhos.

Confira a carta na íntegra:

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