Ibama no Amazonas afirmou estar ciente da situação e que o planejamento de operações para atuação contra o garimpo ilegal no rio Madeira continua em andamento
Balsas para garimpo flagradas no Rio Madeira pelo Greenpeace (Foto: Divulgação)
O Greenpeace Brasil denunciou, nesta segunda-feira (3), o avanço do garimpo ilegal no rio Madeira, apenas cinco meses após uma operação da Polícia Federal e do Ibama ter destruído 459 balsas na região. A organização ambiental identificou, por meio de imagens de satélite, ao menos 130 dragas entre os municípios de Novo Aripuanã e Humaitá, no sul do Amazonas.
Para A CRÍTICA, a superintendência do Ibama no Amazonas afirmou estar ciente da situação e que o planejamento de operações para atuação contra o garimpo ilegal no rio Madeira continua em andamento.
Uma draga de garimpo no rio funciona como uma embarcação equipada com bombas e mangueiras que extraem sedimentos do leito do rio. A terra e a areia retiradas são processadas em uma esteira ou mesa vibratória, onde o ouro é separado por gravidade ou por substâncias químicas, como mercúrio. Esse processo provoca assoreamento, contaminação da água e degradação ambiental, afetando ecossistemas aquáticos e populações ribeirinhas.
Pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em parceria com a Universidade de Harvard, encontraram níveis alarmantes de contaminação por mercúrio em peixes do Rio Madeira. O estudo foi divulgado em novembro do ano passado.
Espécies como branquinha, jaraqui e pacu apresentaram concentrações de mercúrio até 32 vezes acima do limite legal, especialmente na região de Humaitá. A contaminação, causada por garimpos ilegais, representa um risco significativo para a saúde das comunidades locais que dependem desses peixes como fonte de alimento.
Em agosto de 2024, a Operação Prensa não só destruiu as balsas de garimpo como também desmontou um esquema de exploração ilegal de ouro que usava indígenas da região como mão de obra escrava para trabalho pesado. Além da PF e Ibama, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) participou das diligências.
À época, a destruição das dragas chegou a gerar um conflito violento entre garimpeiros e policiais militares em Humaitá, após os indivíduos tentarem invadir a sede da prefeitura e até a casa do prefeito, Dedei Lobo (União).
Ao menos duas pessoas ficaram feridas e outras 16 foram detidas.
Meses antes, após outra diligência da Polícia Federal contra as dragas, o prefeito da cidade chegou a acusar a PF de realizar uma operação com “carta marcada”. As balsas foram queimadas na semana do aniversário do município, que teve a festa de comemoração cancelada.
“Mais uma vez as operações da Polícia Federal parecem ser carta marcada, ocorrendo sempre nos dias festivos do município. Por exemplo, a Semana da Pátria, em setembro de 2023, foi cancelada devido a uma operação contra o extrativismo mineral. Em dezembro de 2023, sofremos outra operação na festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição. Agora, no aniversário, fomos surpreendidos com outra operação truculenta”, criticou o gestor, à época. Ele foi reeleito poucos meses depois, em outubro.