meio ambiente

‘Chuvas na média em 2025 ainda não tiram impacto das duas secas’, diz especialista

Segundo doutor em meteorologia José Augusto Paixão Veiga, docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), cenário para o próximo ano ainda é incerto e exige atenção

Waldick Junior
waldick@acritica.com
28/11/2024 às 19:26.
Atualizado em 30/11/2024 às 17:46

Doutor em meteorologia José Augusto Paixão Veiga, docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) (Foto: Divulgação)

Ainda que as chuvas na bacia amazônica, em 2025, fiquem na média para o período, não será o suficiente para que os principais rios da região se recuperem totalmente das últimas duas secas históricas. Essa é a avaliação do doutor em meteorologia José Augusto Paixão Veiga, docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da pós-graduação em Clima e Ambiente no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e UEA.

“Não posso generalizar, mas na minha opinião como docente do curso de meteorologia, se nós tivermos uma precipitação na média nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, ainda assim não conseguimos tirar o impacto da secas de 2023 e 2024, com relação aos rios Negro e Solimões, por exemplo”, comenta.

O especialista foi um dos palestrantes do VI Seminário Internacional de Meteorologia e Climatologia do Amazonas. A programação vai até esta sexta-feira. O evento é organizado pelo grupo de pesquisa UPEC - Unidade de Pesquisa em energia, Clima e Desenvolvimento Sustentável. 

O primeiro dia de palestras foi marcado por discussões sobre os principais problemas socioambientais da Amazônia internacional, como as queimadas, o desmatamento, e a maneira como a região tem enfrentado os eventos climáticos extremos.

“Nas ciências do clima, conseguimos fazer previsões com certa acurácia para os próximos três a seis meses, no máximo. Não posso dizer se teremos cheias ou secas muito intensas daqui a alguns anos, mas podemos afirmar, com base na ciência, que elas serão mais frequentes e mais intensas”, diz José Augusto.

A seca de 2024 foi considerada a maior que se tem registro, intensificada pelo fenômeno El Niño, que aquece as águas do oceano Pacífico e reduz a ocorrência de chuvas na Amazônia. No dia 4 de outubro, o Rio Negro, que banha Manaus, atingiu sua menor cota: 12,66 metros. 

O meteorologista explica que atualmente o que impera é um período neutro. Havia uma previsão de que iniciasse o fenômeno La Niña, que aumenta a incidência de chuvas na região, mas isso não aconteceu.

“Saímos do El Niño e agora estamos em um período neutro. Existe uma expectativa de que se houver um novo fenômeno La Niña nos próximos dois, três meses, ele será fraco ou até moderado, o que nos traria, no máximo, chuvas dentro da média para a Amazônia brasileira”, afirma.

Também nesta quinta-feira o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão do Ministério da Defesa, realizou um encontro em Porto Velho (RO) para divulgar prognósticos sobre as queimadas e a seca em 2025. Em relação à estiagem, o meteorologista e analista em ciência e tecnologia do Censipam, Luiz Alves, afirmou que o período entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025 será marcado por chuvas abaixo da média climatológica no noroeste do Pará, norte do Maranhão e no sudeste do Mato Grosso. Já na  faixa oeste do Amazonas e norte de Roraima, estão previstas chuvas acima da média até fevereiro de 2025.

Seminário

O VI Seminário Internacional de Meteorologia e Climatologia do Amazonas continua nesta sexta-feira até as 17h, no auditório Samaúma,  da Faculdade de Ciências Agrárias. O evento contará com as mesas ‘Ferramentas utilizadas no monitoramento dos extremos climáticos (9h); popularização da ciência, tempo de falar com a sociedade (10h); capacitação em energia solar fotovoltaica (13h); o papel do CREA/MUTUA na promoção da sustentabilidade e resiliência climática (15h); e apresentação do laboratório de modelagem do sistema climático terrestre (16h).  

O evento é liderado pelo professor Eron Bezerra, da Faculdade de Ciências Agrárias da UFAM. À reportagem, ele ressaltou a importância do seminário em um momento onde se discute cada vez mais os efeitos das mudanças climáticas, especialmente com os fenômenos extremos como as secas na Amazônia.

“Não há ação na fase da terra que não cause impactos ao meio ambiente. Como precisamos continuar usando recursos naturais para poder desenvolver a sociedade, qual é o nosso desafio? É desenvolver ciência e tecnologia para reduzir os impactos e mitigar os eventuais extremos que já aconteceram, esse é o papel da ciência e desse evento, propor essas discussões”, diz. 

Eron Bezerra, que é Doutor em Clima e Meio Ambiente, foi um dos palestrantes desta quinta-feira. Ele pontuou que o diagnóstico é a parte mais “fácil” do problema, e que é preciso haver prioridade na elaboração de soluções. Neste contexto, ele criticou o recém-aprovado financiamento de US$ 300 bilhões dos países historicamente ricos às nações mais pobres, na  29ª Conferência das Partes da ONU.

“Isso é um absurdo. É os países ricos assumindo que não vão parar de poluir, e eles são os maiores poluidores, enquanto vão pagar, por empréstimos, para os mais pobres pararem de fazer o que eles não querem fazer. É você achar que tudo bem um traficante fazer coisa errada só porque alguma boa ação que ele fizer”, afirma.
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