Região continuará sob influência dos extremos do clima, que pioram problemas de logística e afetam a qualidade de vida
Mesmo com início do período chuvoso na Amazônia, os rios não têm expectativa para atingirem os níveis normais observados no primeiro trimestre de cada ano (Fotos: Michael Dantas/AFP)
Após um ano que caminha para ser o mais quente da história e duas secas recordes na Amazônia, a região continuará vulnerável aos extremos climáticos em 2025. Para o primeiro trimestre, a previsão é de chuvas na média em grande parte do bioma, mas sem força suficiente para normalizar o nível dos rios.
O cenário preocupa, porque intensifica os problemas de logística da região, aumenta a potência das queimadas, põe em risco a fauna e a flora, e piora a qualidade de vida das populações urbanas e da floresta. Tudo isto no ano em que o Brasil sedia, em novembro, no Pará, a 30ª Edição da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.
Segundo boletim produzido pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a expectativa para o primeiro trimestre de 2025 é de temperaturas próximas à média histórica em todos os estados da Amazônia Legal. A exceção é no sudeste do Mato Grosso, onde o calor deve superar a média histórica.
As chuvas devem ser mais intensas no Amapá, no norte do Pará e Maranhão, enquanto nas outras áreas da Amazônia Legal a precipitação deve ficar dentro do esperado. Porém, devido aos longos períodos de seca recentes, mesmo com o início das chuvas e os rios voltando a ter um comportamento mais estável, não se espera que eles atinjam os níveis normais para essa época do ano.
O serviço Copernicus de Monitoramento Climático da União Europeia afirmou que 2024 tem grandes chances de se tornar o ano mais quente da história, superando 2023, que já havia registrado recordes de temperatura global.
O Acordo de Paris, firmado em 2015 por 196 países, visa combater as mudanças climáticas com o objetivo de limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, preferencialmente a 1,5°C.
Para alcançar essa meta, os países comprometeram-se a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e a adotar medidas de adaptação e financiamento para mitigar os impactos climáticos. A meta de 1,5°C busca evitar os efeitos mais catastróficos do aquecimento global, como eventos climáticos extremos e o aumento do nível do mar.
No entanto, quase dez anos após a assinatura do acordo, hoje o país já enfrenta uma maior frequência dos extremos do clima e o fim dos combustíveis fósseis ainda parece um objetivo difícil de alcançar.
Se a expectativa é de um ano com mais extremos do clima, outro fator que deve deixar todos alertas é a imprevisibilidade, uma característica deste novo momento mundial. É o que explica o doutor em física atmosférica (USP) Paulo Artaxo, um dos principais pesquisadores brasileiros sobre mudança do clima.
O La Niña, fenômeno caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, altera o regime de chuvas e temperaturas. Na região amazônica, um de seus principais efeitos é o aumento das precipitações, o que poderia aliviar o calor extremo e ajudar na recuperação dos níveis dos rios - a depender da intensidade e duração.
Até agora, não há registros de La Niña. Segundo o Censipam, uma análise do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration ) aponta uma probabilidade de 72% de que o fenômeno ocorra entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. No entanto, essa chance tende a diminuir com o tempo, o que sugere uma transição para condições neutras no trimestre de março a maio de 2025.
Solução passa pelo fim do uso de combustíveis fósseis
No próximo ano, o Brasil sediará a 30ª edição da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O evento é tratado com forte expectativa, porque marcará os dez anos do Acordo de Paris. São esperados balanços das ações realizadas pelos países, a revisão das metas internas das nações (chamadas ‘NDCs’) e novas decisões para barrar a mudança climática e em busca da adaptação aos extremos.
A estimativa é que ao menos 70 mil pessoas, dentre chefes de Estado, diplomatas, ativistas climáticos e imprensa estejam na COP 30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
O evento é precedido pela edição 29, do Azerbaijão, que encerrou com uma meta de financiamento climático de US$ 300 bilhões anuais para os países emergentes, quatro vezes menos que o reivindicado, de US$ 1,3 trilhão anual.
O tema dos combustíveis fósseis, crucial para mitigar os impactos extremos das mudanças climáticas, mas considerado espinhoso pelos negociadores, também deve estar presente na COP 30. O sucesso do evento, segundo especialistas, depende de avanços significativos nesta temática.
Embora vá ocorrer em Belém (PA), na Amazônia, o pesquisador Paulo Artaxo ressalta que o evento é de escala mundial, portanto, deve ser visto como um espaço para pensar soluções de nível global.