Levantamento

Agropecuária expandiu terras em 659% no Amazonas, desde 1985

A área utilizada saiu de 395 mil hectares para 3 milhões, no ano passado. O número coincide com a redução, no mesmo período, de cerca de 2,7 milhões de hectares de floresta, no estado

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
24/09/2024 às 08:14.
Atualizado em 24/09/2024 às 08:14

(Foto: Bruno Kelly/Greenpeace)

Entre 1985 e 2023, as terras em uso pela agropecuária cresceram 659% no Amazonas. A área utilizada saiu de 395 mil hectares para 3 milhões, no ano passado. O número coincide com a redução, no mesmo período, de cerca de 2,7 milhões de hectares de floresta, no estado. Os dados estão disponíveis em levantamento do MapBiomas, projeto que registra a cobertura e uso do solo no Brasil desde 1985.

Em agosto, o superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, explicou que a fumaça de queimadas que invade Manaus e outras cidades do estado é proveniente de incêndios ilegais, provocados com a intenção de ‘limpar’ a área para gado.

Dentro da atividade agropecuária, o uso da terra para pastagem foi o que mais cresceu, no Amazonas, entre 1985 e 2023. No primeiro ano, a área com essa destinação era de 395 mil hectares. Passados 39 anos, a mesma terra já ultrapassa, agora, 2,9 milhões de hectares. A agricultura teve um menor impacto registrado. Saiu de 376 hectares para 7 mil hectares no período.

“A pastagem teve um crescimento considerável ao longo desses anos, no Amazonas. Avançou bastante, principalmente na parte sul do estado, na região do município de Apuí, por exemplo, e na divisa com o Acre, com Rondônia, que já tem essa cultura de pastagem”, comenta o porta-voz de Amazônia do Mapbiomas, Luis Oliveira.

A plataforma também mostra, na contramão do crescimento da área em uso pela agropecuária, a redução da floresta amazônica no estado. Em 1985, havia 148 milhões de hectares de floresta. Ao longo dos 39 anos levantados, o estado perdeu vegetação e caiu para 145 milhões de hectares de mata, em 2023. Agora, o Amazonas possui 94,79% de floresta, percentual que já foi de cerca de 97% nos anos anteriores.

Desmatamento

Segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, do MapBiomas, o Amazonas tem cinco municípios entre os 50 do país que mais registraram desflorestamento entre 2019 e 2023. São eles: Apuí (11ª posição), Lábrea (22ª), Novo Aripuanã (30ª), Canutama (33ª) e Manicoré (43ª).

Todos os municípios citados estão na região sul do estado, que concentra os piores níveis de desmatamento e queimadas do Amazonas, e onde há pressão da chamada ‘fronteira agropecuária’ dos estados vizinhos. A região também é conhecida como Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia).

“Essa é a nova fronteira do desmatamento na Amazônia”, diz Luis Oliveira, e acrescenta que as mudanças climáticas intensificam o problema. “Esse aumento das queimadas está muito relacionado a essa crise climática que vivemos. Isso influencia em todo o equilíbrio. Você pode ter a diminuição das chuvas, o que deixa a floresta mais suscetível ao fogo. Estamos vivendo um efeito dominó”.

De acordo com o Painel do Clima, do governo do Amazonas, o estado registrou 21.289 focos de calor em 2024, um aumento de 59,82% em comparação a 2023. Do total levantado, 76% (16 mil focos) estavam localizados no sul do Amazonas.

Segundo dados do IBGE, o Amazonas somava 2,3 milhões de cabeças de gado até 2023. A maior parte estava em municípios do sul do estado, onde também se concentram as queimadas e o desmatamento. Entre 2019 e 2023, houve um crescimento de 59% no número de bois e vacas.

Vítima

Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (Faea), Muni Lourenço diz que não se pode generalizar o setor em relação ao desmatamento e queimadas, e que os produtores rurais também são vítimas do problema.

“O produtor rural é a principal vítima disso tudo. A exceção não pode ser transformada em regra geral. Se alguns estão cometendo infração, que sejam punidos na forma da lei. Mas nós temos 330 mil pessoas que vivem da atividade rural no estado do Amazonas. Se há infração, isso não pode macular a maioria absoluta comprometida com o cumprimento da lei e com a produção rural dentro do regulamento”, afirma.

O representante do setor disse desconhecer o dado do MapBiomas sobre a expansão das terras utilizadas pela agricultura e pecuária. “Aqui na Faea nós damos prioridade para dados de fontes oficiais. Não nos parece que esse seja o caso. Mas que fique claro, em caso de desmatamento ilegal, nosso posicionamento é que deve prevalecer o rigor da lei”. 

O MapBiomas é composto por uma rede de instituições que inclui universidades, ONGs e empresas de tecnologia, como a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Google, entre outros parceiros.

Muni Lourenço diz que o setor agropecuário está empenhado em investir em tecnologias que reduzam o impacto da atividade no meio ambiente. “Seja por investimento em melhoramento genético, intensificação da atividade por meio de pastejo rotacionado ou adubação de pastagens. Agora mesmo na Expoagro haverá vários cursos e capacitações sobre a pecuária sustentável”, pontua.

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