Saúde

Endometriose: mulheres amazonenses fundam grupo de apoio para 'driblar' falta de assistência

Para contornar esse problema, elas criaram o Grupo de Apoio às Mulheres Portadores de Endometriose do Amazonas, com aproximadamente 150 integrantes

Amariles Gama
online@acritica.com
22/05/2022 às 13:32.
Atualizado em 22/05/2022 às 13:34

Atualmente, participam do grupo cerca de 150 mulheres. Outras acompanham o Gapeam através das redes sociais ou são acompanhadas de forma presencial (Divulgação)

“Quando casar passa”. “Toma um chá que melhora”. “Isso é frescura, cólica é coisa de mulher mesmo”. “Engravida que melhora”. Essas são algumas frases que a enfermeira Juliana Girão Freire, de 25 anos, ouviu ao longo da vida ao se queixar dos sintomas causados pela endometriose. Os sinais da doença apareceram quando ela tinha 11 anos de idade, mas o diagnóstico só veio sete anos depois, aos 18. 

Ela relata que a endometriose é uma doença com o diagnóstico ainda muito tardio no Brasil, demorando cerca de 7 a 10 anos para uma mulher ser diagnosticada. “Imagina quanto tempo essa mulher sofre sem saber o que tem, com diagnósticos errados, sem tratamento correto, sentindo muita dor. Não consegue trabalhar ou estudar, vive no pronto-socorro”, lamentou a enfermeira, que viveu na pele essas condições.

Segundo a ginecologista Liane Silva Rafael Rogério, a endometriose é uma doença crônica, provocada por células que se parecem com as células do endométrio, que deveriam existir somente na cavidade do útero, mas acabam surgindo em outros locais do organismo da mulher, causando a doença. O diagnóstico pode ser feito através de exame ginecológico clínico, exames laboratoriais e de imagem.

“O endométrio é a camada que reveste a cavidade uterina, o tecido que se desenvolve todos os meses para a chegada do embrião. Quando a mulher não engravida, esse endométrio descama na forma de sangramento menstrual. E são essas células, que se parecem com as células desse tecido endometrial, que surgem em outros locais do organismo da mulher, provocando a doença”, explica a especialista.

Segundo a médica, a doença acomete uma em cada dez pacientes, conforme estimativas mundiais. Essas pacientes podem ser sintomáticas ou assintomáticas. O sintoma mais comum da doença é a dor intensa, principalmente no período pré-menstrual e na menstruação. Conforme a ginecologista, a doença tem sintomas progressivos, ou seja, a dor tende a evoluir ao longo dos anos. 

“Às vezes, a paciente pode ter náusea e vômitos, querer desmaiar. São pacientes que podem não tolerar a menstruação se não tiverem um remédio pra dor na bolsa. Tem casos extremos que a paciente precisa buscar o pronto-socorro para receber remédio na veia por conta da intensidade da dor. Normalmente, essa dor evolui ao longo dos anos, a paciente passa a ter dor na relação sexual, dor ao urinar e dor ao evacuar”, explica a ginecologista. 

Grupo de Apoio

As dores causadas pela endometriose Juliana conhecia bem. Em casa, sua mãe também sofria com o problema há anos. Depois que recebeu o diagnóstico da doença, ela começou a fazer tratamento em um ambulatório do Sistema Único de Saúde (SUS). Lá encontrou muitas mulheres com o mesmo problema e ouviu muitos relatos de dores. Aquilo a sensibilizou e ela resolveu criar o Grupo de Apoio às Mulheres Portadores de Endometriose do Amazonas (Gapeam).

Juliana conta que o grupo começou em 2018, de início, somente pelas redes sociais, divulgando informações sobre a doença, e depois passou a promover atividades entre as portadoras. “Em março de 2019, no mês de conscientização da endometriose, o 'Março Amarelo', nós promovemos nosso primeiro encontro, com duas especialistas renomadas no Amazonas, e reunimos mulheres pra falar sobre o assunto. Foi muito emocionante!”, relatou. 

(Divulgação)

Por ser uma doença crônica, as mulheres que vivem com essa condição também podem vir a sofrer com problemas psicológicos, segundo relatou Juliana que, como coordenadora do grupo de apoio acompanha de perto os relatos das portadoras. 

“Nós nos sentimos muito sozinhas, é uma enxurrada de informações, muitos mitos em relação à doença, vários preconceitos na sociedade, muitos empregadores não entendem que muitas mulheres têm essa necessidade de se afastar por conta da dor que é terrível. Tem índice de depressão, tem suicídio no meio de mulheres com endometriose também... Então, são coisas que a gente quer que a sociedade enxergue, que nem toda cólica é frescura”, disse Juliana. 

Atualmente, participam do grupo cerca de 150 mulheres, mas muitas outras acompanham o Gapeam através das redes sociais ou são acompanhadas de forma presencial também.

Para participar do grupo basta procurar pelo perfil oficial do Gapeam no Instagram (@endometriosegapeam) e entrar em contato através do link na bio. 

Tratamento

Apesar de ser uma doença crônica, ou seja, sem cura definitiva, é possível controlar os seus sintomas. Segundo a ginecologista Liane Rogério o tratamento da doença tem dois pilares: o controle dos sintomas e o tratamento cirúrgico. A ginecologista explica que, na maioria das vezes a cirurgia não é a primeira opção, e sim o controle dos sintomas com medicamentos hormonais que bloqueiam a menstruação. Mas há casos e casos.

 “Depois que a paciente começa esse tratamento a gente tem que observar como é que ela vai responder, se ela vai ter melhora ou não, e a partir daí é que a gente indica a cirurgia. São vários casos. Mas tem casos que a gente começa com a cirurgia. E essa paciente vai continuar sendo acompanhada sempre pela equipe médica dela pra ver se a doença vai progredir ou não, e se os sintomas vão continuar progredindo ou não”, explicou.

No Amazonas, o tratamento de endometriose é ofertado na rede estadual de saúde, com o Hospital Delphina Aziz, em Manaus, sendo referência. Entre 2019 e 2021, a rede pública realizou 467 atendimentos ambulatoriais e 317 atendimentos hospitalares em todo o Amazonas, segundo informou a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM).

“Para iniciar o tratamento é necessário encaminhamento médico. A paciente pode obter o pedido em um primeiro atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), de responsabilidade das prefeituras municipais”, informou a Secretaria de Saúde.

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