Segurança fluvial

Pirataria nos rios do AM volta a ser pauta de deputados: ‘questão de segurança nacional’

Empresas já se queixam de aumento nos custos de transportes e risco de vida

Lucas dos Santos
politica@acritica.com
25/06/2024 às 15:39.
Atualizado em 25/06/2024 às 15:41

(Foto: Reprodução)

Os ataques de piratas nos rios do interior do estado voltaram a ser tema de discussão na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM). O deputado estadual Wilker Barreto (Mobiliza) exibiu vídeo que circula nas redes sociais que mostra um tiroteio entre a polícia e os piratas no município de Alvarães (a 530 km de Manaus).

“Nós precisamos de uma ação urgente. O deputado Rozenha (PMB) fez um comparativo que eu uso sempre, daqui a pouco nós vamos virar a costa da Somália, os rios do nosso estado. Isso precisa ser enfrentado com bastante urgência e até agora o secretário [de Segurança Pública] sequer informou a possibilidade de vir a esta casa”, disse.

O deputado Rozenha comparou as imagens vistas em Alvarães com a costa da Faixa de Gaza, da Somália, “de algum morro carioca tomado pelas milícias e pelo tráfico” e com os rios da Colômbia na época da disputa entre o estado e as FARCs. O parlamentar afirmou que o vídeo reflete a atual situação dos rios do estado e alertou para “um futuro sombrio se a mão de ferro das forças de segurança nacionais não intervirem”.

“O que está em curso no Amazonas é um problema de segurança nacional. Digo isso porque quem incentiva, quem treina, quem recruta jovens nessas comunidades são estrangeiros oriundos do Peru e da Colômbia que querem manter o corredor internacional do tráfico pesado de entorpecentes livre para que o mundo seja abastecido com a cocaína que corre por aí. Ora eles praticam assaltos para manter a estrutura interna, com o objetivo principal de fazer a guarda, de fazer a escola do tráfico de entorpecentes”, criticou.

Rozenha afirmou que o governo do Amazonas não deve fechar os olhos diante da problemática, sob o risco de os moradores do interior viverem sob constante ameaça e perderem os únicos meios de locomoção por meio dos rios.

“Ninguém vai querer mais fazer negócios com o Alto e Médio Solimões porque sabe que vai ser assaltado. Observem o calibre desses tiros, observem o potencial bélico desse pessoal. E existem dezenas de núcleos de piratas, de malfeitores, ao redor dessas cidades, sobretudo no curso dos mais de 6 mil km do rio Amazonas”, disse.

O deputado também defendeu que o Amazonas acionasse o Ministério da Justiça e mapeasse as localizações dos grupos armados, como se comportam e quem é a inteligência por trás da atuação deles.

Na semana passada, o vice-presidente da ALE-AM, deputado Carlinhos Bessa (PV), já havia alertado para a situação no curso do rio Solimões.

“A situação é alarmante. Na última semana um agricultor foi assassinado enquanto fazia a travessia de seus produtos. Ontem (19 de junho), outras pessoas foram atacadas e uma delas ficou gravemente ferida. Famílias inteiras estão com medo de navegar, os trabalhadores do transporte fluvial estão sendo ameaçados e o comércio local está sofrendo com a insegurança”, disse.

Fundo Amazônia

A questão dos piratas também foi levada ao plenário da Câmara dos Deputados pelo deputado federal Átila Lins (PSD) na última quarta-feira (19). O parlamentar ressaltou que os principais ataques dos piratas dos rios têm ocorrido nos municípios do rio Solimões – como Tabatinga, Fonte Boa e Tefé – e do rio Japurá.

“As pessoas, que utilizam os rios da Amazônia, como se fossem estradas naturais, estão sofrendo uma perseguição implacável dos piratas dos rios com assaltos diários. Recentemente, houve uma morte em Tefé. Os piratas dos rios assaltaram um dos barcos que faziam o transporte de material [e passageiro] e uma pessoa acabou vindo a óbito”, disse.

Átila defendeu que os recursos do Fundo Amazônia possam ser investidos no combate à pirataria no Amazonas e relembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em conjunto com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), assinaram um acordo com diretores-gerais das polícias Federal e Rodoviária Federal para que cerca de R$ 315 milhões do fundo fosse direcionado para a segurança pública.

O deputado também informou que faria uma indicação para que o Ministério da Justiça usasse esses recursos na repressão aos piratas.

“Então, já que teremos R$ 315 milhões para serem aplicados na segurança das fronteiras da região amazônica, vou pedir ao ministro Lewandowski que esses recursos sejam também utilizados para enfrentar os piratas dos rios, que estão fazendo verdadeiro estrago no Amazonas e em toda a região”, destacou.

Custos

O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Navegação do Amazonas (Sindarma), Madson Nóbrega, afirmou à reportagem da A CRÍTICA no sábado (22) que as empresas de transporte naval têm precisado contratar profissionais de segurança privada para conseguirem navegar pelos rios e que o custo, consequentemente, estaria sendo repassado aos consumidores.

“Uma segurança privada dessa é cerca de R$ 40 mil para uma viagem de dez dias entre Manaus e Porto Velho, por exemplo. Esse é um alto custo que as empresas não conseguem absorver, então está sendo repassado”, disse.

Além do custo econômico, há a questão do perigo de vida dos trabalhadores, segundo disse o presidente do Sindicato dos Fluviários da Seção de Convés do Amazonas (Sindflu-AM), Joe Bastos.

“A gente recebe relatos, trabalhadores que procuram o sindicato para saber o que pode ser feito. É algo que está aumentando muito. Os trabalhadores deveriam receber um adicional, inclusive, porque eles colocam suas vidas em risco a cada viagem”, defendeu.

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