Declaração

Na contramão da indústria local, Bolsonaro diz que decreto do IPI não prejudica ZFM

Ao contrário do que afirmou o presidente Jair Bolsonaro (UB), área técnica dos principais centros de indústrias da Zona Franca de Manaus vê 'ameaça a empregos'

Waldick Júnior
online@acritica.com
09/08/2022 às 19:05.
Atualizado em 09/08/2022 às 19:08

(Foto: Reprodução)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer que os decretos de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) publicados pelo governo não afetam a Zona Franca de Manaus. Na contramão dessa afirmação, as principais entidades que representam o Polo de Manaus, como o Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam) e a Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam) apontam prejuízos à principal matriz econômica do estado.

Bolsonaro participou ontem (8) do Flow Podcast. Enquanto era entrevistado ao vivo, foi informado por um assessor que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, suspendeu o mais recente decreto do governo que havia reduzido o tributo, a pedido do partido Solidariedade, por prejuízos à Zona Franca.

Após ler a manchete com a notícia, o presidente questionou “a quem cabe a política fiscal? Sou eu. Eu tô reduzindo imposto e não afeta a Zona Franca de Manaus. Tem meus inimigos políticos de lá. [Eles dizem]: tá vendo, o Bolsonaro quer acabar com a Zona Franca de Manaus”, comentou o chefe do Executivo.

Ele associa as críticas aos “inimigos” que tem no Amazonas, se referindo especialmente aos senadores Eduardo Braga (MDB), Omar Aziz (PSD) e deputado federal Marcelo Ramos (PSD), porém, o governador Wilson Lima (União) e o pré-candidato ao Senado, Coronel Menezes, ambos aliados de Bolsonaro, intercederam para que o presidente voltasse atrás com os decretos.

Logo após o decreto publicado em 29 de julho, o Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), que representa empresas da Zona Franca, afirmou em nota “identificamos pontos que podem trazer prejuízos a alguns segmentos do Polo Industrial de Manaus”. Da mesma maneira, a Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam) chegou a “repudiar” o primeiro decreto publicado pelo governo, em fevereiro.

“O governo se utilizou de sofismas para decretar uma medida que, em linhas gerais, reduz o apelo da produção local e torna mais vantajosa a produção em outras unidades da federação que não possuem dificuldades logísticas peculiares do Amazonas”, destacou a entidade. 

Faturamento

Ainda sobre o tema, o presidente Jair Bolsonaro disse na entrevista que “a Zona Franca de Manaus nunca faturou tanto como no meu governo, em especial, montagem e fabricação de motocicleta, por coincidência, depois que eu comecei a fazer motociata”. 

A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) costuma sempre divulgar o faturamento em dólar e em real. Segundo a autarquia, o faturamento em 2021 foi de R$ 158,62 bilhões, o maior da história do Polo Industrial. Porém, em dólar, o mesmo ano teve uma arrecadação de U$ 29,40 bilhões, número bem menor que em 2011 (U$ 41 bilhões) e 2012 (U$ 37,5 bilhões), por exemplo.

“O primeiro ponto é que os decretos prejudiciais à Zona Franca são deste ano, ou seja, não impactaram o faturamento de 2021. Mas, além disso, o faturamento do ano passado foi muito impactado pela escalada do dólar. Se você verificar a inflação e a dolarização [taxa de câmbio], houve anos em que o faturamento da Zona Franca foi muito maior”, afirma o ex-superintendente da Zona Franca de Manaus, Thomaz Nogueira.

Segundo ele, para além dos bilhões, “é importante ressaltar que a produção física não está crescendo na mesma proporção e os números de empregos não voltaram ao pico de 2013, quando atingiram o número de 123 mil”. Em 2021, segundo a Suframa, o Polo empregou, em média, 103.506 trabalhadores.

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