Direito das mulheres

‘É inadmissível’, diz coordenadora de gênero do CNJ sobre projetos contra aborto em casos de estupro

Ivana Pena palestrou no MPAM sobre direitos das mulheres

Emile de Souza
online@acritica.com
29/11/2024 às 11:29.
Atualizado em 29/11/2024 às 11:29

(Foto: Junio Matos)

A coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) que elaborou o protocolo com perspectiva de gênero do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ivana Farina Pena, afirmou que é “inadmissível” que o parlamento tente aprovar projetos que retiram o direito de vítimas de estupro ao aborto legal. Ivana participou de um ciclo de palestras realizado pelo Ministério Público do Amazonas (MPAM) na manhã desta sexta-feira (29), Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher.

“É um direito garantido pelo Estado, de não ser perenizado (eternizado). Eu gostaria, doutora (Leda Mara), que essa aclamação fique registrada nos anais do MPAM. É muito grave que o parlamento proponha, ao mesmo tempo, o enfrentamento da violência, mas, dessa vez, uma violência institucional”, criticou Ivana Pena.

A proposta mencionada pela procuradora do Ministério Público de Goiás (MPGO) trata-se de uma emenda à Constituição (PEC 164/2012) que altera o artigo 5º da Constituição Federal com o objetivo de proteger a vida “desde a concepção”. Na prática, a proposta veda a possibilidade de aborto em todos os casos atualmente permitidos por lei: quando a mulher é vítima de estupro, quando há risco à vida da mãe e em casos de anencefalia do feto.

A PEC foi proposta pelo ex-deputado cassado Eduardo Cunha (Republicanos-RJ) e pelo ex-deputado João Campos de Araújo (Republicanos-GO). Arquivada duas vezes, a proposta foi resgatada em 2019 e está sendo relatada pela deputada Chris Tonietto (PL-RJ), que deu parecer favorável ao projeto. Recentemente, a PEC foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por 35 votos a 15 e segue para análise de uma comissão especial.

Ivana destacou que os cenários de combate à violência contra a mulher ainda são negativos, já que a maioria dos espaços de decisão é dominada por um perfil “masculino branco”. Segundo ela, para que isso mude, as mulheres precisam ser ouvidas.

“Como que a maioria de homens brancos, que é o Congresso Nacional, delibera sobre os direitos das mulheres, violados em seus próprios corpos, sem consultar as mulheres?”, questionou.

A coordenadora do protocolo enfatizou que as múltiplas violências contra as mulheres são constantes e precisam ser faladas e mudadas.

“Ao menos uma mulher foi estuprada enquanto eu falei nesses minutos”, afirmou Ivana Farina.

Ela também destacou que o trabalho do Ministério Público deve ser guiado pela Constituição, e nenhuma forma de violência deve ser reproduzida.

“O sistema de justiça precisa se justificar e não repetir violências. Estamos aqui para combater todo e qualquer tipo de violência contra a mulher.”

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