Medida anunciada pelo presidente é vista como uma forma dele tentar se eximir da responsabilidade pelo aumento dos combustíveis
Presidente Jair Bolsonaro participou, no sábado (28/6), de uma motociata em Manaus e de um evento religioso no sambódromo (Foto: Phil Lima)
A proposta do presidente Jair Bolsonaro (PL) de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a diretoria da Petrobras, cuja direção foi indicada por ele, foi rechaçada por parlamentares de esquerda, do centro e até de direita. Bolsonaro relevou o plano durante um culto evangélico que participou em Manaus (AM), neste sábado (18).
“Eles não pensam no Brasil. Virou Petrobras Futebol Clube, para seu presidente, diretores, conselheiros e minoritários”, disse o presidente. E acrescentou “A Petrobras perdeu 30 bilhões. Acredito que, na segunda-feira (20), com a CPI, vai perder outros 30”, ameaçou ele, no dia em que passaram a valer os novos reajustes para gasolina (5,18%) e diesel (14,26%) impostos pela empresa.
Para o deputado estadual Serafim Corrêa (PSB), que é economista e auditor fiscal, o presidente Bolsonaro “querendo livrar o boi dos carrapatos, mata o próprio animal”. Ele criticou a abertura de uma CPI e disse que a culpa do aumento dos combustíveis é do próprio chefe do Executivo.
O deputado federal José Ricardo (PT-AM), que é da oposição, também rejeitou a ideia. “Bolsonaro é a favor da CPI da Petrobras? Mentira. É a mesma coisa que culpar o ICMS pelo aumento do preço do combustível. Quero ver ele pedir para os deputados do seu partido, seus filhos e apoiadores assinarem o requerimento de CPI”, escreveu o parlamentar no Twitter, neste domingo (19).
O deputado federal Marcelo Ramos (PSD) escreveu em seu perfil no Twitter que demagogia baixa o preço da Petrobras no mercado mas não baixa o preço da gasolina na bomba. "Só existem dois caminhos: mudar o PPI ou conformar com o aumento do combustível. Isso é uma decisão de país, baixar o lucro dos acionistas ou baixar o preço ao consumidor.Tá ficando cada dia mais claro que todo o resto é demagogia barata e os demagogos já estão passando vergonha" disse o deputado para o qual a proposta de CPI é cínica. "O governo e os apoiadores do governo fazendo oposição a política do governo e atacando o presidente da Petrobras indicado pelo governo. É um único caso na história política de oposição a si mesmo", avaliou.
Por sua vez, a deputada estadual por São Paulo, Janaína Paschoal (PRTB), que é aliada do presidente Jair Bolsonaro, também se mostrou contra a abertura da CPI. Segundo ela “salvo algum indício ainda não revelado ao público, não consigo ver elementos para CPI da Petrobras. E mais, não acho sequer conveniente no momento”, disse ela nas redes sociais.
Já o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil) ressaltou que “não vai ser com subsídio, com CPI da Petrobras, com canetada no preço ou reduzindo um pouco a alíquota do ICMS que vamos conter a alta dos combustíveis. Isso tudo é populismo em ano de eleição”, pontuou o parlamentar de direita.
A menção de Kim a subsídio é uma referência à sugestão do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda (Comsefaz), que tem colocado como melhor saída para o preço dos combustíveis a criação de um fundo amortecedor dos preços a ser pago com os lucros do governo, sócio majoritário da Petrobras. A ideia é defendida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Na semana passada, o Congresso Nacional aprovou a proposta de teto do ICMS, fazendo com que estados possam cobrar entre 17% e 18% do imposto estadual sobre os combustíveis. No Amazonas, esse percentual era de 25%, o que deve fazer com que o estado perca R$ 1,2 bilhão por ano de receita fiscal, segundo o secretário de Fazenda do Amazonas (Sefaz), Alex del Giglio. Os secretários estaduais das 26 capitais e Distrito Federal irão recorrer da medida.