Predestinado protagonismo

Ode à resistência: grafitti parintinense desce dos muros, sobe o Bumbódromo e assume novo mural

‘Vitória da Cultura Popular’ é mote de arte de 26 metros de altura que vai decorar a nova fachada da Arena para Festival de Parintins de 2022

Isabella Pina
online@acritica.com
24/05/2022 às 21:40.
Atualizado em 02/06/2022 às 13:54

(Fotos: @xpedito_ @edumelo.fotografia)


Ao sinal dos primeiros rabiscos avermelhados no alto da fachada do Bumbódromo, a notícia que corria em Parintins era: “estão pichando a arena”. Correu como se num lapso rápido tivesse falhado à memória que, em Parintins, todo rabisco é arte. Manifesto de resistência. E todo respiro, hoje, é “Vitória da Cultura Popular”. 

E foi essa vitória, dia após dia, durante os anos de pandemia, que impulsionou o movimento de street art da ilha a cruzar a fronteira dos muros, pular as grades e assumir seu tão predestinado protagonismo. Das esquinas e becos para a fachada do emblemático coliseu amazônico, agora quem receberá os visitantes na arena é o grafitti parintinense, com um gigante mural de assinatura da dupla Curumiz, em reverência a toda alma que vive - e já viveu - por arte na cidade.

“Essa arte que a gente está produzindo agora toma o espaço onde os Bois estão. É o marco máximo de se tomar na nossa cidade, como artistas locais. Pintar esse mural, para nós, é o máximo da resistência da arte parintinense. Queremos imprimir a resistência da nossa arte na pandemia. Perpetuar nossos artistas. Homenagear a vitória da nossa cultura”, traduz Kemerson Freitas, um dos artistas que encabeçam o projeto.

A partir do próximo mês, a tempo do Festival Folclórico de Parintins de 2022, a fachada do Bumbódromo contará com uma arte exclusiva de 26 metros de altura, assinada por Kemerson e Alzzy Pereira. Dois jovens parintinenses de 25 e 26 anos. 

A concepção artística, como o nome "Mural: Vitória da Cultura Popular” sugere, é 100% inspirada na resistência do movimento artístico local. De todas as cenas. Da dança ao grafitti. Uma ode à beleza de sobreviver com a alegria de ser Parintins. 

“Vivo com muito orgulhoso de ser filho dessa terra, filho da arte. Todo mundo aqui respira isso. É isso que deixa a nossa cidade mais viva. Isso que nos inspirou, e por isso que queremos ser reconhecidos como artistas. É uma população que sofreu muito nos últimos anos. Nosso projeto é para, além de valorizar a identidade dos bois, itens, valorizar a cultura indígena. o projeto inicial foi fazer uma homenagem à cultura artística e suas diferentes vertentes: a arte, dança, cultura. Tá no sangue do parintinense” articula Alzzy, que trabalha com grafitti desde 2017. 

Dá para se traçar no imaginário um pouco do que vem pela frente no mural. Da influência do Boi vem a representação das vertentes. Do marujeiro, a música. Da sinhazinha, a dança. E de resto, "sem muito spoiler", os dois riem. 

Ao falar de resistência, a dupla não deixa de fora a dor de uma comunidade que foi fortemente impactada pela pandemia de Covid-19. O tema é recorrente na conversa, levando sempre a pauta ao latente movimento de transformar dor em criação. 

“Nossa classe sofreu muito nesse período. Em mais de um ano não trabalhamos. Foi com o apoio das leis de incentivo à cultura que conseguimos voltar, nos reinventar. É um novo respiro”, diz Kemerson. 

 Os dois recebem reforço dos artistas @teo_onda e @andrehulk nos trabalhos do mural, que começou a ser pintado no dia 19 de maio e deve ser entregue dia 17 de junho, antes do sorteio da ordem das apresentações no festival, que acontece no último final de semana do próximo mês.

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