OPINIÃO

Quantas mulheres terão de ser assassinadas para a justiça funcionar?

Há uma espécie de banalização desse tipo de crime. Da pauta geradora da notícia do dia ao esquecimento a distância é pequena

Por Ivânia Vieira
27/11/2024 às 12:42.
Atualizado em 27/11/2024 às 12:42

Instituto Elas por Elas promove a "Marcha pela paz e contra o feminicídio" no Paranoá (DF) (Wilson Dias/Agência Brasil)

A cada dez minutos uma mulher é morta pelo parceiro ou familiar. São cinco mulheres ou meninas assassinadas por hora em algum lugar do mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) define a situação como “tragédia global”. No ano de 2023 foram 85 mil mulheres vítimas de feminicídio.

O Brasil está classificado como um dos países em que mais mulheres são mortas por serem mulheres. É o quinto. Nos últimos cinco anos o feminicídio cresceu 10% no pais (dados do Instituto Igarapé).

Aproximadamente 70% dos registros de violência sexual é na região da Amazônia Legal. Dados de dezembro de 2022 a dezembro de 2023 mostram aumento de 20% dos casos e, desse total, a maioria de meninas de zer0 a 14 anos (corresponde a 59%).

Os números do massacre de mulheres, em crescimento no Brasil e no mundo, não têm sido suficientes para impor medidas de enfrentamento. Há uma espécie de banalização desse tipo de crime. Da pauta geradora da notícia do dia ao esquecimento a distância é pequena. Prevalece a conduta do esquecer até a próxima vítima sucumbir.

No relatório divulgado no dia 25 deste mês, a ONU Mulheres afirma que o crime “transcende fronteiras, condições socioeconômicas e grupos etários”. Defende que os países adotem “sistemas de justiça criminal fortes que responsabilizem os perpetradores, garantindo ao mesmo tempo apoio adequado às sobreviventes”, a inclusão de mecanismos de denúncia seguros e transparentes. 

 “A epidemia de violência contra mulheres e meninas envergonha a humanidade”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. Acrescentou  que  a violência sexual é “usada como arma de guerra”  e que mulheres e meninas enfrentam uma “enxurrada de misoginia online”.

Uma das falas que deveria ser subsídio na cobrança nacional/local por medidas concretas é a da diretora executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), Ghada Waly, quando aponta a necessidade de “confrontar e desmantelar os preconceitos de gênero, os desequilíbrios de poder e normas prejudiciais que perpetuam a violência contra as mulheres”.  A Unodc é parceira da ONU Mulheres na produção do Relatório Feminicidio 2023, lançado no Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher (25 de novembro).

Os movimentos de luta contra a violência de gênero se desdobram em sacrifícios de muitas mulheres, na cidade, para denunciar as ameaças, pedir providências que impeçam a morte de mulheres e diante do descaso de governos – para os quais a pauta não tem importância, não gera engajamento por votos – e de setores da sociedade envolvidos no tecido da banalização da vida das mulheres.

Diante do esquema de banalização, faltam palavras que tenham força para mobilizar e o maior número de pessoas contra o assassinato de mulheres no Brasil e nos demais países. É na agonia daquelas que se vestem  no sangue e na dor da perda de uma mãe, uma irmã, uma filha, uma prima, uma amiga que a marcha segue e os gritos ecoam ao reivindicar justiça ainda tardia. Quantas mulheres deverão ser assassinadas para o basta acontecer?

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