OPINIÃO

Afinal, onde estavam os negros na Globo?

Difícil lembrar de um único apresentador negro que tenha se tornado um fenômeno da publicidade por desfrutar do horário nobre da emissora

André Alves
20/11/2023 às 16:39.
Atualizado em 20/11/2023 às 16:39

Há oito anos, esta foi a primeira formação do É de Casa (Foto: Divulgação)

*Por André Alves, jornalista.

Pense comigo: onde estavam os negros na programação da maior emissora de TV do país, nas últimas décadas? A começar pelo entretenimento, qual é a figura que vem à memória do brasileiro no comando dos programas de auditório? Xuxa, Angélica, Faustão…e? 

Alguma voz negra na narração do futebol da Globo? E no Big Brother Brasil, fenômeno de audiência e publicidade há mais de 20 anos, algum apresentador negro? E nas “Super Manhãs” da emissora? 

Como é perceptível, a Rede Globo vem acelerando mudanças para, finalmente, colorir sua programação com a cara do Brasil real, que não tem apenas uma mistura de cores, mas de vozes e de sotaques. Só agora, a emissora parece encaixar negros em espaços que naturalmente já deveriam estar ocupados, mas que foram dominados por homens e mulheres com aspecto europeu, durante décadas.     

Por conta disso, fica difícil lembrar o nome de um único apresentador negro que, ao desfrutar da fama, do horário nobre da Globo e da audiência, tenha se tornado um fenômeno da publicidade, como é o caso de Luciano Huck, Marcos Mion, Fátima Bernardes, Ana Maria Braga, Thiago Laifert (que ainda goza dessa fama mesmo fora da emissora), Patrícia Poeta, entre outros – todos muito competentes, aliás.

No jornalismo, a posição de destaque para negros sempre foi uma exceção. Glória Maria, Heraldo Pereira, Maju Coutinho e quem mais mesmo? No Jornal Nacional, líder de audiência, a bancada é ocupada por negros quando, aos sábados e feriados, brancos estão de folga. Aliás, algum correspondente internacional negro lhe vem à memória?  

Até aqui, nem falamos da posição ocupada por negros em novelas, durante décadas. Algum “galã” negro? Mais fácil lembrar de Fábio Assunção, Cauã Reymond e Tarcísio Meira. Das nove “Helenas” do autor Manoel Carlos, uma foi negra: Taís Araújo. Os personagens de porteiros, babás e bandidos, porém, foram quase sempre interpretados por negros.        

Como todo mundo sabe, televisão é uma vitrine para artistas, jornalistas e apresentadores. Em se tratando de consumo audiovisual em todas as suas formas, a TV segue firme e forte - 84,8% do consumo audiovisual no Brasil ainda se dá pela TV aberta ou fechada.

Nesse quesito, não é de hoje que a Globo lidera a audiência. E não é de hoje que negros são maioria no Brasil. Logo, as mudanças na programação da emissora atendem a uma lógica (e é fruto de pressão), mas o atraso de quase meio século denuncia um olhar que contribuiu com o preconceito e estigmatizou negros e negras.

Como fez a revista National Geographic um dia, ao reconhecer que durante décadas manteve uma cobertura racista, a Globo deveria fazer o mesmo, pelos espaços não ocupados por negros, durante décadas. Além de pedir desculpas, ampliar esses espaços seria uma boa medida - para dizer o mínimo.

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