A decisão exige firmeza e mudança de atitude

A revelação em nível mundial da produção da tragédia do povo yanomami remete à necessidade de posicionamento firme por parte do governo federal e das demais instâncias de governo nos estados e nos municípios. Ao mesmo tempo pede da sociedade brasileira um gesto concreto na recepção, com dignidade e respeito, aos povos indígenas, até hoje tratados como subcidadãos da cidadania brasileira.

O que ocorre com o povo yanomami é a realização de um projeto de extermínio, com participação direta de autoridades, de empresários e de criminosos. E indireta de expressivos segmentos sociais que foram levados a perceber os indígenas como seres do atraso que devem ser civilizados e integrados. Essa noção, ensinada fortemente, permanece e está na raiz de uma série de manifestações racistas que ora se espalha por redes sociais e culpabiliza os yanomami pela desgraça a que foram submetidos.

Essa é uma chave fundamental que precisa ser virada. E para que aconteça faz-se urgente a formulação de um pacto nacional potente que envolva todos os setores da sociedade e possa ampliar o conhecimento e a compreensão sobre as culturas indígenas e o valor delas para o dia seguinte do Brasil e do mundo. Os povos indígenas são os primeiros habitantes desta terra e, historicamente, enfrentam uma ação sistemática que atenta contra a existência deles, muitos foram mortos, alguns povos, como os waimiri-atroari, conseguiram sair da lista de extinção e seguirem adiante enquanto nação. Em 2021, foram assassinados 176 indígenas e, no ano anterior, 182. Não é possível considerar que essas mortes sejam naturalizadas.

No povo yanomami, os dados são de 570 mortes de crianças nos últimos quatro anos, é como se a cada ano aproximadamente 142 crianças indígenas fossem mortas. Os números agora já são outros, em ordem crescente, com as mortes mais recentes de crianças por quadro grave de desnutrição, pneumonia, malária e outras doenças. O Brasil não pode aceitar o silenciamento sobre essas mortes e sobre a grave condição em que se encontra esse povo.

Outros povos, se medidas adequadas e de longa duração não forem tomadas, poderão em curto tempo ser os próximos nessa realidade. No Vale do Javari, no Amazonas, é preocupante a situação dos indígenas que ali habitam, principalmente os isolados. A truculência ali instalada permanece como palavra de ordem.  

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