LENDA

"Ousado", "revolucionário", "histórico": os adjetivos para Juarez Lima

Para a jornalista Daniela Assayag, que trabalhou com o artista parintinense, a história de Juarez se equipara a outras lendas do Festival de Parintins. Artista morreu nesta sexta-feira, vítima de um AVC

Robson Adriano
online@acritica.com
22/11/2024 às 19:01.
Atualizado em 22/11/2024 às 19:01

Daniela Assayag e Juarez Lima no galpão do Boi Caprichoso durante construção de alegoria (Foto: Arquivo Pessoal)

A jornalista Daniela Assayag lamentou a morte do artista parintinense Juarez Lima, 58 anos, ocorrida nesta sexta-feira (22), em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Assayag foi cunhã-poranga do boi Caprichoso de 1991 a 1995, e trabalhou ao lado artista que atuava no bumbá com o cenógrafo. “As alegorias dele notadamente eram muito grandes. O Juarez sempre foi uma pessoa ousada: tanto nos movimentos em que ele inovava, quanto no tamanho das esculturas que colocava na arena”, relembra.

Assayag visitou Juarez no galpão do boi Caprichoso em 2019. No lugar ele mostrou a alegoria que traria naquele ano a rainha do folclore, em uma das noites de apresentação. Se tratava da lenda indígena da serpente “Dinahí”. O artista confidenciou que o rosto de Daniela serviu de inspiração esculpir o rosto da indígena.

“O rosto esculpido de Naim teria sido baseado no meu. Não resisti: subi na ‘cadeirinha’ que levaria o item e chorei. O caminho do Juarez sempre foi de luz, o que nos dá a certeza: esta noite teremos mais uma estrela iluminando o céu da nossa constelação”, escreveu.

Para Daniela, Juarez é também um dos responsáveis pela revolução nas alegorias. “O Juarez faz parte de uma época que tudo que a gente tem hoje no Festival de Parintins se deve muito a esse momento: o fim da década de 80 e início da década de 90. No Caprichoso o Juarez está no mesmo nível proporcional ao (mestre) Jair Mendes no Garantido. Eles revolucionaram esse item alegorias. Porque passaram a fazer alegorias com movimento que tinham uma presença cênica para se contar uma história que o boi se predispunha a contar naquela noite”, disse Assayag. 

Daniela lembra que Juarez era uma grande líder. “Ele foi, quando criança, formado pelo irmão Miguel de Pascale, italiano que deu início a esse desenvolvimento das artes do parintinense. Juarez repassou esse conhecimento dele para as novas gerações. Por isso, ele era também, além de um grande artista, um líder no galpão e um mestre que ensinava às novas gerações aquela arte. E isso foi crescendo, crescendo, crescendo, e hoje a gente tem inúmeros artistas notadamente reconhecidos nacionalmente, inclusive”, pontuou a jornalista. 

Dos anos de cunhã-poranga, Daniela reconheceu a genialidade de Juarez. “Grande parte das minhas apresentações e das alegorias que eu usava na arena para representar a figura da cunhã-poranga vinha da genialidade do Juarez. Eu só podia me apresentar e dançar e causar o impacto que as pessoas dizem que causava e tudo por conta de um gênio que pensou numa alegoria, pensou numa apresentação e pensou no impacto que aquilo causaria nas pessoas e conseguiu. Eu devo também, não só ao Festival de Parintins, mas enquanto cunhã-poranga a arte, a criatividade e a genialidade do Juarez Lima”, disse.

Para ela, Lima entra para a história do Festival Folclórico de Parintins.

“É uma grande perda realmente para o festival, é uma grande perda para as artes na região amazônica e é uma grande perda para todo mundo que de certa maneira convivia mais em maior ou menor intensidade com ele. Ele deixa uma falta que não tem como ser preenchida, mas ele sem dúvida nenhuma coloca o nome dele na história do festival e na vida de tantas pessoas, como eu”, finalizou a jornalista.
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