Potências nortistas

Elenco de ‘Noites Alienígenas’ fala das experiências e trocas sobre a região

Grande vencedor do 50º Festival de Gramado, "Noites Alienígenas" estreia no dia 30 de março nos cinemas

Lucas Vasconcelos
bemviver@acritica.com
28/03/2023 às 11:03.
Atualizado em 28/03/2023 às 11:03

Gleici Damasceno e Gabriel Knoxx (Foto: Wesley Barros)

Grande vencedor do 50º Festival de Gramado, "Noites Alienígenas" estreia no dia 30 de março nos cinemas. Dirigido pelo cineasta Sérgio de Carvalho, o longa-metragem conquistou cinco kikitos de Melhor Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Menção Honrosa para o ator amazonense Adanilo Reis e o prêmio do Júri da Crítica. Esta é a primeira produção do Acre a conquistar tal feito.

A reportagem de A CRÍTICA foi convidada para a cabine de exibição do filme e participou da coletiva de imprensa com o diretor, produtores e elenco - além de Adanilo, o filme também contou com a ex-BBB e atriz acreana Gleici Damasceno no elenco.

O filme retrata o lado urbano da cidade de Rio Branco, trazendo personagens cujas vidas são marcadas pela mudança da rota do tráfico que começa a passar pela região. O roteiro, assinado por Carvalho, Camilo Cavalcante e Rodolfo Minari, parte de um livro homônimo escrito pelo diretor. 

Em resposta à A CRÍTICA, Sérgio de Carvalho contou o que motivou abordar a juventude periférica nortista inserida no universo do narcotráfico.

"Vivemos aqui em uma região de fronteira com países produtores. Essa realidade da dependência química me tocou muito quando cheguei no Acre. O ‘Noites Alienígenas’ aborda principalmente o mergulho nesse universo da dependência química, da perda da identidade. O Norte do Brasil foi impactado com muita violência com as mudanças das rotas do narcotráfico. Vimos o Acre de uma maneira muito rápida e muito enérgica e violenta ser tomada pelo crime organizado", contou o diretor e roteirista do longa.

"Isso impactou a sociedade de uma maneira brutal em guerras entre facções. É uma realidade da Amazônia, a gente sabe que Manaus não passou distante, Rondônia está vivenciando isso. Hoje, essa situação está chegando na floresta, nas comunidades indígenas e tradicionais. E a gente fala muito pouco sobre isso. Acho que o Brasil fala muito pouco sobre o que tem acontecido aqui, e às vezes com até uma certa distância", acrescentou Sérgio, ressaltando que Manaus também vive o mesmo cenário.

Apesar disso, o cineasta também escolheu abordar as culturas urbanas da região do Norte como o rap feito por artistas amazônidas.

"Mas, também é a força das culturas urbanas aqui no Acre que é impressionante. As culturas urbanas, como o próprio nome diz, ela é muito característica das cidades, porém sempre trabalhando com elementos da floresta, de identidade amazônica. Acho muito interessante essa pulsão que as juventudes das periferias têm e que acabam fazendo contraponto a toda essa criminalidade", destaca o cineasta.

Elenco de peso

O ator amazonense Adanilo vive um jovem que sofre com dependência química. O artista indígena ressalta que um dos elementos que impulsionou o processo da construção deste personagem foi a vivência em uma região periférica de Manaus. Adanilo nasceu e cresceu no bairro Compensa – região em que são registrados altos índices de crimes envolvendo narcotráfico.

"O que mais foi determinante foi ter conseguido chegar em Rio Branco semanas antes, visitar os lugares, conhecer as pessoas, antes das gravações. Conhecer e poder ter acesso às pessoas que passam por esse processo de dependência química. É muito diferente você poder vivenciar de perto. Inclusive não é uma realidade muito distante da minha. Sou nascido e criado no bairro da Compensa, um bairro da periferia de Manaus. Quando cheguei em Rio Branco, senti uma conexão profunda. Óbvio que cada cidade tem suas especificidades. Mas, eu me sentia muito em casa. Conhecendo as pessoas. Muitas gírias e sotaques lembram bem", descreveu Adanilo.

Questionado pela reportagem sobre qual foi a cena mais desafiadora no filme, Adanilo destaca que foram as cenas em que seu personagem tinha que contracenar com o filho e com a companheira – interpretada por Gleici

Damasceno.

"Quando eu fiz ‘Noites Alienígenas’, minha filha tinha um ano e meio. E no filme o meu personagem junto com a da Gleici Damasceno tem um filho, uma criança muito pequena. Lembro que essas cenas especificamente eram muito dolorosas de pensar sobre a situação em que aquela criança está inserida. Você ter um pai que é dependente químico que está enfrentando esse problema. Geralmente, quando essas pessoas estão envolvidas com essa questão de dependência, sempre resvala na família. Ficava muito sentido assim de  ver. E o ator que fez o nosso Paulinho, era tão dócil, tão maravilhoso. Era difícil não pensar na nossa relação de pai e filho ter que atuar. Me dava um misto de sentimentos", pontuou.

Gleici Damasceno comentou que, atuar pela primeira vez em um longa-metragem foi bastante desafiador. Porém, conseguiu ter segurança pelo fato de estar em sua terra natal, ao lado da produção e direção que já eram conhecidos seus.

"Foi um grande desafio. Mas também foi um desafio muito interessante e muito doce. Várias sensações foram muito incríveis para mim. Por estar gravando um filme no Acre, com meu povo, sabe? Com o Sérgio, que já era um cara que eu já conhecia antes, nós éramos amigos. Mas, tudo era novo para mim. Tudo foi um grande desafio", comentou Damasceno.

Desafios e aprendizados

Além disso, a atriz acreana acredita que o papel em que viveu junto com Adanilo no filme vai impactar o público que assiste, não só os espectadores que vivem na Região Norte do País.

"Primeiro acredito na minha potência como atriz. Eu e o Adanilo conversamos muito sobre isso. A gente sempre acreditou que o filme tinha algo especial ali. O que iria acontecer depois? Tudo durante o set foi muito especial. E, hoje, já participando de outros filmes, eu realmente entendo que foi algo lindo o que vivemos no Acre. Estive muito confiante no Sérgio que estava dirigindo, a Carla Martins que estava lá. Gravar com o Adanilo, um super ator, foi de muito aprendizado. Encarei esse desafio como um grande aprendizado", finalizou Gleici.

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