FUTURO DA EDUCAÇÃO

Especialistas debatem em fórum as metas para Ensino Superior

Com retrocessos em plano, especialistas apontam o futuro digital do Plano Nacional de Educação PNE

Cley Medeiros
economia@acritica.com
28/09/2024 às 20:18.
Atualizado em 28/09/2024 às 20:34

Em uma pesquisa que mede a taxa de matrícula e conclusão do curso, o Amazonas está na quarta posição com maior déficit. Para se ter uma ideia, a média brasileira é de 27, e o Amazonas desponta com 20 pontos apenas. (Foto: Divulgação)

Imagine o Plano Nacional de Educação (PNE) como um pacote de dez biscoitos. Agora, pense que até hoje, provamos apenas um deles. É isso que revela um levantamento da Campanha Nacional pelo Direito à Educação: apenas 10% das metas do PNE 2014–2024 foram alcançadas.

O que é ainda mais alarmante é que, nos 90% restantes, houve retrocessos significativos. Com o prazo de validade chegando ao fim, surge uma questão urgente: o que esperar do próximo plano e como garantir que ele não falhe novamente?

Especialistas se reuniram na 26ª edição do Fórum de Ensino Superior (FNESP), o maior da América Latina, para debater soluções que evitem um novo desperdício de metas. O foco não é apenas atingir números, mas garantir mudanças reais e que contemplem a era da tecnologia, inovação e ensino a distância. 

O encontro aconteceu no Centro de Convenções do Anhembi Morumbi, em São Paulo, e reuniu mais de mil professores, reitores, gestores e administradores de redes de ensino de todo o país, e contou com um time de especialistas como Pankaj Mittal, secretária Geral da Associação das Universidades Indianas e Susan D'Agostino, PhD em matemática no Dartmouth College (EUA).

"O novo PNE precisa contemplar os desafios do ensino digital", afirma Lucia Teixeira, presidente do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), organizadora do encontro.

Segundo Teixeira, a desigualdade no acesso a tecnologias educacionais é um obstáculo que não pode ser ignorado na construção de metas.

"É preciso considerar as enormes diferenças de acesso à tecnologia e à internet da população brasileira, tão diversificada e desigual em termos sociais e econômicos, com a necessidade de políticas públicas que ampliem oportunidades. E que ofereça apoio às dificuldades previstas para adaptação e capacitação de professores, alunos e instituições de ensino às novas ferramentas digitais", afirma a presidente do Semesp.

Lucia Teixeira também defendeu o ensino superior híbrido (uma combinação de aulas presenciais e online), além do uso de tecnologias como inteligência artificial e realidade aumentada, que personalizam o aprendizado e melhoram a formação dos estudantes.

Um dos pontos dos 10% das metas cumpridas pelo PNE, é o número de vagas no ensino superior, que cresceu, mas o foco em uma capacitação de alto nível no ensino precisa avançar. Marta Abramo, secretária de Regulação e Supervisão do Ministério da Educação (MEC), alertou que, embora o número de matrículas tenha crescido com a expansão do ensino a distância (EAD), apenas 40% dos estudantes conseguem concluir seus cursos. 
Para ela, o foco agora deve ser a qualidade."A sociedade precisa se apropriar do PNE. O aprendizado com as falhas anteriores deve guiar o futuro", reforçou.

Presidente do Semesp, Lúcia Teixeira, na abertura do 26º Fórum de Ensino Superior (FNESP) (Foto: Divulgação/Gustavo Peres)

Alternativa legítima

Henrique Sartori, do Conselho Nacional de Educação (CNE), defendeu a importância do EAD como uma alternativa legítima para uma juventude cada vez mais conectada e em busca de flexibilidade. "A digitalização é uma oportunidade, e não podemos deixar isso passar", afirmou.

Outro ponto destacado no encontro foi a desconexão entre os cursos superiores e as demandas do mercado de trabalho

Manuel Palácios, presidente do Inep, trouxe à tona que apenas 40% dos estudantes concluem a graduação, e isso levanta dúvidas sobre a relevância dos currículos. "Precisamos alinhar a formação acadêmica com as necessidades reais do mercado", pontuou.

Luciana Maia Campos Machado, membro do Grupo de Trabalho EAD do Semesp, apresentou o documento Dimensões da qualidade para cursos de EAD, que define um glossário e indicadores de qualidade aplicáveis e relevantes para diferentes contextos educacionais da educação a distância. 

"Nosso grupo de trabalho se propôs a estudar o que é qualidade no ensino a distância a partir de uma série de reflexões e diretrizes como uma real definição do que é a modalidade EAD, quais os diferentes objetivos e perfis das IES que oferecem a modalidade e qual o real problema do EAD no Brasil. A qualidade da educação não é definida pela modalidade e isso precisa estar claro nesse momento de discussão de um novo marco regulatório para o EAD".

A crise dos 'nem-nem'

Nos últimos anos, o Brasil reduziu o número de jovens que não estudam nem trabalham- os chamados 'nem-nem'. No entanto, essa queda não foi suficiente, especialmente na Amazônia, onde o índice é o dobro da média nacional. 

Em uma pesquisa que mede a taxa de matrícula e conclusão do curso, o Amazonas está na quarta posição com maior déficit. Para se ter uma ideia, a média brasileira é de 27, e o Amazonas desponta com 20 pontos apenas. 

A pesquisa do Instituto Semesp e Workalve revela que 80% dos estudantes pretendem ingressar em uma universidade no próximo ano, mas as barreiras financeiras continuam sendo um grande desafio. Ainda assim, ações como feiras de profissões e bolsas de estudo estão ajudando a aumentar a participação no ENEM e nos vestibulares, criando novas oportunidades.

Por outro lado, a empregabilidade entre os formados tem mostrado sinais positivos. Dados do Índice de Empregabilidade ABMES/Symplicity 2023 indicam que 75% dos graduados conseguem emprego em até um ano, e 83% atuam em suas áreas de formação. Setores como Tecnologia da Informação (TI) e engenharia lideram a lista de melhores salários e taxas de contratação.

O futuro do ensino superior

Carla Sena, gestora da Faculdade Martha Falcão Wyden, em Manaus, enfatiza que o ensino superior deve se adaptar às novas realidades dos jovens para continuar sendo uma ferramenta de transformação. "Precisamos criar ambientes de aprendizado mais atrativos e conectados à realidade deles. O conhecimento é uma ferramenta poderosa para transformar o futuro", afirma.

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