Com retrocessos em plano, especialistas apontam o futuro digital do Plano Nacional de Educação PNE
Em uma pesquisa que mede a taxa de matrícula e conclusão do curso, o Amazonas está na quarta posição com maior déficit. Para se ter uma ideia, a média brasileira é de 27, e o Amazonas desponta com 20 pontos apenas. (Foto: Divulgação)
Imagine o Plano Nacional de Educação (PNE) como um pacote de dez biscoitos. Agora, pense que até hoje, provamos apenas um deles. É isso que revela um levantamento da Campanha Nacional pelo Direito à Educação: apenas 10% das metas do PNE 2014–2024 foram alcançadas.
O que é ainda mais alarmante é que, nos 90% restantes, houve retrocessos significativos. Com o prazo de validade chegando ao fim, surge uma questão urgente: o que esperar do próximo plano e como garantir que ele não falhe novamente?
Especialistas se reuniram na 26ª edição do Fórum de Ensino Superior (FNESP), o maior da América Latina, para debater soluções que evitem um novo desperdício de metas. O foco não é apenas atingir números, mas garantir mudanças reais e que contemplem a era da tecnologia, inovação e ensino a distância.
O encontro aconteceu no Centro de Convenções do Anhembi Morumbi, em São Paulo, e reuniu mais de mil professores, reitores, gestores e administradores de redes de ensino de todo o país, e contou com um time de especialistas como Pankaj Mittal, secretária Geral da Associação das Universidades Indianas e Susan D'Agostino, PhD em matemática no Dartmouth College (EUA).
Segundo Teixeira, a desigualdade no acesso a tecnologias educacionais é um obstáculo que não pode ser ignorado na construção de metas.
Lucia Teixeira também defendeu o ensino superior híbrido (uma combinação de aulas presenciais e online), além do uso de tecnologias como inteligência artificial e realidade aumentada, que personalizam o aprendizado e melhoram a formação dos estudantes.
Um dos pontos dos 10% das metas cumpridas pelo PNE, é o número de vagas no ensino superior, que cresceu, mas o foco em uma capacitação de alto nível no ensino precisa avançar. Marta Abramo, secretária de Regulação e Supervisão do Ministério da Educação (MEC), alertou que, embora o número de matrículas tenha crescido com a expansão do ensino a distância (EAD), apenas 40% dos estudantes conseguem concluir seus cursos.
Para ela, o foco agora deve ser a qualidade."A sociedade precisa se apropriar do PNE. O aprendizado com as falhas anteriores deve guiar o futuro", reforçou.
Presidente do Semesp, Lúcia Teixeira, na abertura do 26º Fórum de Ensino Superior (FNESP) (Foto: Divulgação/Gustavo Peres)
Alternativa legítima
Henrique Sartori, do Conselho Nacional de Educação (CNE), defendeu a importância do EAD como uma alternativa legítima para uma juventude cada vez mais conectada e em busca de flexibilidade. "A digitalização é uma oportunidade, e não podemos deixar isso passar", afirmou.
Outro ponto destacado no encontro foi a desconexão entre os cursos superiores e as demandas do mercado de trabalho.
Manuel Palácios, presidente do Inep, trouxe à tona que apenas 40% dos estudantes concluem a graduação, e isso levanta dúvidas sobre a relevância dos currículos. "Precisamos alinhar a formação acadêmica com as necessidades reais do mercado", pontuou.
Luciana Maia Campos Machado, membro do Grupo de Trabalho EAD do Semesp, apresentou o documento Dimensões da qualidade para cursos de EAD, que define um glossário e indicadores de qualidade aplicáveis e relevantes para diferentes contextos educacionais da educação a distância.
A crise dos 'nem-nem'
Nos últimos anos, o Brasil reduziu o número de jovens que não estudam nem trabalham- os chamados 'nem-nem'. No entanto, essa queda não foi suficiente, especialmente na Amazônia, onde o índice é o dobro da média nacional.
Em uma pesquisa que mede a taxa de matrícula e conclusão do curso, o Amazonas está na quarta posição com maior déficit. Para se ter uma ideia, a média brasileira é de 27, e o Amazonas desponta com 20 pontos apenas.
A pesquisa do Instituto Semesp e Workalve revela que 80% dos estudantes pretendem ingressar em uma universidade no próximo ano, mas as barreiras financeiras continuam sendo um grande desafio. Ainda assim, ações como feiras de profissões e bolsas de estudo estão ajudando a aumentar a participação no ENEM e nos vestibulares, criando novas oportunidades.
Por outro lado, a empregabilidade entre os formados tem mostrado sinais positivos. Dados do Índice de Empregabilidade ABMES/Symplicity 2023 indicam que 75% dos graduados conseguem emprego em até um ano, e 83% atuam em suas áreas de formação. Setores como Tecnologia da Informação (TI) e engenharia lideram a lista de melhores salários e taxas de contratação.
O futuro do ensino superior
Carla Sena, gestora da Faculdade Martha Falcão Wyden, em Manaus, enfatiza que o ensino superior deve se adaptar às novas realidades dos jovens para continuar sendo uma ferramenta de transformação. "Precisamos criar ambientes de aprendizado mais atrativos e conectados à realidade deles. O conhecimento é uma ferramenta poderosa para transformar o futuro", afirma.