WWF-Brasil e parceiros da sociedade civil e do setor privado comemoram grande resultado de engajamento com a China, maior comprador mundial de carne e soja brasileiras
O governo federal do Brasil, assim como os estados do Pará, Maranhão e Minas Gerais também participaram desses encontros (Divulgação)
A Associação Chinesa de Carnes (CMA) realizou pedido formal à Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (ABIEC) para um carregamento piloto de carnes livres de desmatamento e conversão, conforme carta enviada no mês de novembro.
Na carta, a CMA pede ainda um mecanismo de diálogo permanente para discutir as questões comerciais e a promoção de sistema de rastreabilidade individual de animais no comércio entre os dois países, o que é fundamental para garantir critérios sanitários e liberar o comércio de miúdos bovinos, mais um pedido da Associação Chinesa.
A CMA também tem atuado junto a autoridades regulatórias da China para liberar a importação de miúdos bovinos, um grande mercado potencial, que gera valor agregado e renda para a cadeia. Assim, o fornecimento de carne livre de desmatamento e conversão tem ainda o potencial de abrir este enorme mercado de miúdos bovinos ao Brasil.
A associação solicitou ao WWF-Brasil atuar como facilitador e condutor da verificação dos primeiros carregamentos, além de colaborar com a ABIEC para selecionar os primeiros exportadores capacitados para entregar carne comprovadamente livre de desmatamento e conversão.
Para fazer essa liberação da importação de miúdos, o governo chinês exige a rastreabilidade individual e completa, isto é, desde o nascimento dos animais até o abate. Sem isso, é difícil atender com precisão exigências sanitárias do mercado chinês.
O governo federal lançou, no dia 17 de dezembro de 2024, o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos, o que é um passo importante em direção da abertura e consolidação do mercado chinês aos miúdos bovinos brasileiro. Entretanto, o plano prevê sete anos de implementação. Portanto, estados, produtores e frigoríficos que desejarem se beneficiar logo da demanda chinesa precisarão se antecipar, assim como faz o estado do Pará com seu Programa de Integridade e Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Pecuária.
Nos últimos dez anos, a China se consolidou como o maior comprador de commodities agropecuárias do Brasil, como soja e carne. Portanto, a China também é o parceiro mais importante no enfrentamento conjunto do aumento do desmatamento e da conversão de vegetação nativa, que se deve em grande parte à falta de planejamento do uso da terra, regularização ambiental e fundiária.
Autoridades e o mercado chinês já compreendem a relação entre desmatamento, mudanças climáticas e segurança alimentar. Para garantir a estabilidade do fornecimento, as partes interessadas chinesas lideradas pelo WWF-China implementaram ações para promover cadeias de fornecimento livres de desmatamento e conversão desde pelo menos 2016, sendo o WWF a primeira organização a levar a questão das cadeias de fornecimento ao diálogo político.
Um dos primeiros marcos nessa parceria foi o lançamento de uma declaração sobre sustentabilidade em novembro de 2017. Entre as diversas ações, a Associação Chinesa de Carnes (CMA), associação setorial de cerca de 8 mil empresas chinesas compradoras, produtoras e processadoras de carne, e 64 empresas líderes associadas à sua governança, declaram sua intenção de “agir continuamente para conservar a natureza e os seus recursos evitando a degradação da terra, o desmatamento e a conversão da vegetação natural nas cadeias de valor da produção pecuária e da alimentação animal”. Jean François-Timmers, líder de incidência política internacional do WWF, explica que “essa declaração lançou as bases da ação do mercado chinês para eliminar o desmatamento e a conversão de suas cadeias de fornecimento do Brasil e do resto do mundo”.
Outro marco importante foi o lançamento pela CMA de uma Especificação para o Comércio Verde da Indústria de Carnes, o primeiro padrão de carne da China com foco em carne sustentável que adotou os princípios do Accountability Framework. O padrão pode desempenhar um papel orientador para empresas de carne chinesas que desejam iniciar a jornada de cadeias de suprimentos livres de desmatamento e conversão (DCF).
Em 2021, o WWF-Brasil e parceiros publicaram o estudo Perspectivas para a Cadeia de Carne Bovina nas Relações Brasil-China, mostrando que é possível aumentar a produtividade da pecuária no Brasil sem desmatamento, estimando algo entre 127 e 245 bilhões de reais como o investimento necessário para recuperar os mais de 100 milhões de hectares de pastagens degradadas.
Também em 2020 e 2021, três encontros online foram realizados entre empresas brasileiras e associadas do CMA para trocar experiências sobre rastreabilidade, compromissos de cadeias livres de desmatamento e conversão, questões sanitárias e comerciais. Nesses encontros, participaram BRF, Cofco, Marfrig e Carrefour, além de associados do CMA.
Em 2023, a mesma Associação Chinesa de Carnes (CMA) lançou um plano macro estabelecendo o combate ao desmatamento, rastreabilidade, monitoramento dos impactos ambientais e sociais, transparência e qualidade dos produtos como alguns dos objetivos da iniciativa. Desde então, o WWF e a associação têm planejado visitas ao Brasil para intercâmbio de conhecimento, experiências e práticas sustentáveis.
Nesses encontros, qualificados como de modalidade online, preparatórios e presenciais, grandes empresas brasileiras de soja e carne, assim como suas respectivas associações, como a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC) e a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (ABIOVE), apresentaram suas iniciativas de sustentabilidade, políticas de compras responsáveis e livres de desmatamento e conversão, além das soluções concretas de rastreabilidade e monitoramento de fornecedores diretos e indiretos, por meio dos quais as empresas implementam suas políticas e compromissos.
O governo federal do Brasil, assim como os estados do Pará, Maranhão e Minas Gerais também participaram desses encontros, apresentando sistemas de rastreabilidade e monitoramento e as oportunidades de investimento e apoio à recuperação e conversão de pastagens degradadas, por meio do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que tem uma meta ambiciosa de recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil até 2035, e necessita de apoio internacional como do governo Chinês.
A plataforma do governo federal AgroBrasil+Sustentável, os programas Selo Verde, implementados tanto em Minas Gerais como no Pará, o Programa de Integridade e Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Pecuária, do Estado do Pará, assim como o Sistema de Fiscalização e Monitoramento da Agropecuária (SIFMA), do estado do Maranhão, foram apresentados como soluções inovadoras para garantir o fornecimento de carne, couro e soja livres de desmatamento e conversão.
Para erradicar o desmatamento, aliando ciência, tecnologia, políticas públicas e crédito para aumentar a produtividade brasileira, ao mesmo tempo que alavanca a renda do produtor rural, existe uma série de oportunidades nas cadeias de soja e pecuária A adoção de práticas agropecuárias mais modernas, assistência técnica especializada, rastreabilidade individual, abertura de mercados mais exigentes e a recuperação de pastagens degradadas são passos fundamentais nesse processo.
Como a China é o maior comprador de produtos das cadeias agropecuárias brasileiras, pedidos por produtos livres de desmatamento e conversão têm o potencial de impulsionar a recuperação e utilização de pastagens degradadas ao mesmo tempo que reduz o desmatamento e a conversão de florestas nativas, aumentando a produtividade e a eficiência da agropecuária nacional.
O diretor do departamento de cooperação internacional do Ministério de Ecologia e Meio Ambiente (MEE), Zhou Jun, considera de grande relevância o tema de pastagens degradadas gerido pelo governo brasileiro e sugere fortalecer a colaboração com o WWF. “Espera-se que esta iniciativa contribua para o desmatamento zero, sequestro de carbono florestal, biodiversidade, produtividade e eficiência na agricultura e pecuária, e apoio financeiro, entre outros”, completa.
Yu Xin, coordenadora de projetos para consumo sustentável de alimentos e cadeia de fornecimento, do WWF-China, pontua que “promover o fornecimento de produtos livres de desmatamento e conversão, bem como a recuperação de pastagens degradadas, é uma solução ganha-ganha, beneficiando produtores rurais brasileiros e consumidores chineses igualmente”.