Potencial

Cultivo de cafezais do Amazonas rende bons frutos

Com mercado garantido e sem necessidade de desmatar, cultura é opção para diversificar, já que a região tem solo e clima favoráveis

Luana Carvalho
luanacarvalho@acritica.com
14/05/2022 às 18:01.
Atualizado em 16/05/2022 às 16:25

O produtor de café Roque Lins é pioneiro na plantação do grão no Amazonas. Ele contou que teve a ideia de plantar café após ver na televisão que o grão era uma commodity e decidiu investir nisso. (Divulgação/Idam)

Roque Lins, 60, é morador de Silves, interior do Amazonas, e trabalha no campo, tirando seu próprio sustento desde os 10 anos. Presidente da Associação Solidariedade Amazonas (ASA), ele cultivava no passado tomate e pimentões em suas terras, mas foi por meio de um uma reportagem num telejornal que ele teve uma ideia um tanto quanto audaciosa e visionária: a de plantar café na Amazônia.

“Antes eu plantava em estufa, pimentão e tomate. Jamais imaginava que um dia me tornaria produtor de café. E foi vendo na televisão que o café é uma commodity brasileira, que quis investir nessa cultura. Tentamos fazer a plantação a primeira vez e não deu certo. Então, procurei a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e todo o processo até iniciarmos de fato a produção durou um ano. Hoje estamos muito empenhados, está dando muito certo e indo de vento em popa”, revela Roque.

O agricultor é proprietário do sítio onde funciona a primeira Unidade de Referência Tecnológica da Embrapa (RO). No local, ele realiza experimentos com diferentes cultivares de café desde 2016.

Parcerias

 A associação foi implantada em 2015 em uma parceria com a Embrapa Rondônia e Amazonas, Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam) e Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror). Os clones foram levados para as terras de Roque e a primeira unidade de observação foi montada.

O potencial do café plantado na Amazônia pode ser demonstrado em números. A primeira colheita foi em 2017: 70 sacas de café por hectare. A segunda, no ano seguinte, gerou 90 sacas. Em 2019, a colheita rendeu 106 sacas de café clonal BRS Ouro Preto.

 Para fazer uma comparação, Roque lembrou que nos dois primeiros anos que tentou a plantação de café sem apoio técnico, conseguiu colher na primeira safra apenas sete sacas, já na segunda foram nove.

“Não dava certo. Nossa finalidade sempre foi ajudar na agricultura familiar, gerando renda na colheita e venda do café. Mas isso só foi possível depois do apoio da Embrapa, Idam e Sepror, que nos auxiliaram. Hoje temos produção financiadas pelo próprio banco e contamos até com apoio de emendas parlamentares”. 

Novo ciclo

Em abril de 2020, um novo ciclo se iniciou e começaram as experiências com o Café Robusta Amazônico, um cruzamento de cafés da espécie canéfora, variedades conilon e robusta, conforme explica Marcelo Curitiba, pesquisador da Empraba e coordenador das ações de pesquisa com a cultura do café no Amazonas.

“Durante os anos, as pesquisas nos mostraram o desempenho produtivo e a validação dessa cultivar de variedades de café clonal no estado do Amazonas. No meio do processo Embrapa continuou desenvolvendo e lançou um novo grupo de cultivares, os Robustos Amazônicos. Foi  lançado em Rondônia e começamos a levar pro Amazonas para ser feito teste”.

No primeiro ciclo da nova espécie, apenas o município de Silves foi beneficiado. No segundo ciclo, com apoio do Governo do Estado criando as cadeiras prioritárias do município, foi possível implementar os testes em mais cinco cidades do  Amazonas: Humaitá, Manaus, Itacoatiara, Urucará e  Lábrea.

“Quando a gente fala de café na Amazônia, muitas vezes pode até assustar, as pessoas podem achar que estamos derrubando a floresta para plantar café. Mas não funciona dessa forma. Diferente de Rondônia, que por natureza é um estado agrícola, o Amazonas não tem aptidão grande para agricultura. Não é nosso objetivo transformar num grande produtor a nível nacional, mas o principal objetivo desse estudo é levar oportunidade e diversificação para os agricultores do estado do Amazonas. O café é adaptado para as condições da Amazônia, tem potencial nas condições de solo e clima da Amazônia e existe mercado”.

“Já existe a demanda e ainda tem o fato de que é um café com apelo de ‘café da Amazônia’”, complementa Marcelo.

Mais pesquisas

Dentre as ações de parceria para estimular o desenvolvimento de pesquisas para apoiar a cafeicultura no Amazonas, está sendo realizado o projeto “Seleção de clones de Coffea canephora para o Estado do Amazonas, desenvolvido pela Ufam e Embrapa, apoiado com recursos da Fapeam, por meio do edital Amazonas Estratégico/2018.

Maria Teresa Lopes, professora da Ufam e coordenadora deste projeto, destaca que ele está permitindo o desenvolvimento de pesquisas de doutorado assim como o treinamento de estudantes em iniciação científica.

A professora conta que neste mês, em 9 de maio, foi defendida a primeira tese de doutorado do projeto, dentro do Programa de Pós-Graduação da Agronomia Tropical da Ufam, em que os resultados mostram a adaptabilidade dos clones avaliados e que eles são promissores para a cafeicultura do estado. Outras duas defesas de doutorado previstas irão trazer resultados mais aprofundados da qualidade do café e da produtividade do cultivo.

“O resultado para o Amazonas não foi somente científico, pois o projeto foi relevante para fortalecimento de parcerias das instituições envolvidas, difusão de uma cultura com possibilidade para o agricultor, treinamento de recursos humanos e certamente terá impacto não somente a curto prazo, mas para a evolução da cafeicultura no Amazonas”, ressalta Teresa.

 Sobre projeto iniciado em 2018 e que vai até agosto de 2022. A professora acrescenta que um novo projeto foi aprovado na Fapeam, para dar continuidade às pesquisas  nos experimentos instalados, uma vez que o cafeeiro é cultura perene e continuam as colheitas. O novo projeto será coordenado pelo professor da Ufam, Fabio Medeiros, que atua em Itacoatiara.

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