Insegurança Alimentar

Faltam alimentos para mais de 2 milhões no AM

Pesquisa do IBGE aponta que o Amazonas é um dos principais estados do Norte na desigualdade em acesso aos alimentos

Lucas Motta
cidades@acritica.com
04/05/2024 às 11:22.
Atualizado em 04/05/2024 às 11:22

Falta de alimento atinge 400 mil pessoas no Amazonas (Foto: Larissa Martins/Núcleo C/ACrítica)

Aos 26 anos, Liliane Nascimento precisa de ajuda todos os dias para alimentar os cinco filhos. Eles ainda são crianças, a mais velha tem 11 anos e o mais novo ainda passa a maior parte do tempo no colo da mãe.

Liliane é mãe solo e está desempregada, ela recebe o benefício Bolsa Família, do Governo Federal, mas afirma que por muitas vezes precisa deixar de comer para poder garantir a refeição aos filhos.

“Eu estou sem gás de cozinha em casa hoje, também ‘tô’ sem comida e não ‘tô’ trabalhando. O Bolsa Família não dá para quase nada. Vou fazer o quê?” lamentou a dona de casa.

Liliane está inserida em um grupo com mais de 2 milhões de indivíduos no Amazonas: o de pessoas na faixa de insegurança alimentar. Na última quarta-feira de abril (25), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a pesquisa sobre o tema que constatou que o maior estado da região Norte é um dos principais na desigualdade em acesso aos alimentos.

Os dados do IBGE mostram que os indicativos são maiores nas áreas rurais, onde 12,7% dos domicílios particulares estão enquadrados em insegurança alimentar moderada ou grave, enquanto na região urbana há 8,9% na mesma situação.

Sem acesso regular

Segundo a nutricionista Izabela Moura, a insegurança alimentar se manifesta quando as pessoas não têm o acesso regular e diário a alimentos na quantidade e qualidade suficiente para se manter suas necessidades.

Trata-se de um problema de Saúde Pública uma vez que implica na diminuição da qualidade de vida e na saúde da população. Moura alertou que os impactos são ainda mais graves quando afetam crianças.

”Afeta principalmente a parte física, cognitivas perda de memória, anemias, desnutrição as crianças ficam vulneráveis a várias doenças” explicou.

Especialista afirma que falta de acesso a uma alimentação adequada pode reduzir expectativa de vida (Foto: Larissa Martins/Núcleo C/A Crítica)

Baixa expectativa

Outro especialista na área, o nutricionista e professor universitário David dos Reis, também destacou que a falta de acesso a uma alimentação adequada pode reduzir a expectativa de vida.

Para Reis, a longevidade está associada aos alimentos consumidos uma vez que os nutrientes consumidos, principalmente de fontes de frutas e hortaliças, contêm substâncias protetoras das células. Assim, quanto menor essas substâncias no organismo, menor são as chances de as células manterem-se por mais tempo ativas.

“No Brasil, apenas cerca de 10% da população consome a quantidade recomendada de frutas e hortaliças”, disse.

Quando o assunto é a falta de alimento, o número de pessoas atingidas no Amazonas é 400 mil, ainda segundo o IBGE. Em Manaus, a capital do estado, muitos dos afetados pela fome estão em situação de vulnerabilidade social ou de rua.

Alguns deles recebem ajuda de projetos sociais que recebem doações de alimentos ou recursos para preparar porções de sopa e distribuir em pontos específicos da cidade.

Paula Campos, organizadora de um “sopão solidário” que atua há oito anos explicou que a maior parte da população em situação de rua está no centro de Manaus.

Já a neuropedagoga Karen Leão, idealizadora de uma das ações sociais, disse que há também os que ficam nos arredores dos hospitais da cidade. Este é um público diferente, muita gente vem do interior do estado para acompanhar familiares em tratamento médico, mas não tem onde ficar.

Segundo Karen, é o que ocorre em frente a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), localizada no bairro Planalto, zona Centro-Oeste. “Lá no FCecon existem famílias que moram na frente da unidade até o familiar pegar alta ou ser destinado para outro lugar. São famílias que vêm do interior e não têm onde ficar e eles permanecem ali na frente em barracas fazendo acampamento” disse. 

Para o demonstrativo do IBGE, o Amazonas é o décimo nono estado na produção nacional de pescado (Foto: Arquivo AC/2021)

Produção de pescado

Para o demonstrativo do IBGE, o Amazonas é o décimo nono estado na produção nacional de pescado, mas possui condições de crescer no ranking e também ampliar outros setores como produção de frango, ovos, hortaliças, legumes e frutas de modo a gerar mais recursos financeiros, postos de trabalho e facilitar o acesso a alimentos.

Por outro lado, o problema da insegurança alimentar afeta todo o país, que voltou ao mapa da fome em 2022. A desigualdade econômica ainda é um entrave muito relevante no assunto. O instituto estima que um por cento dos mais ricos possuem rendimentos 40 vezes maior do que 40% da população.

Os especialistas defendem que os esforços do poder público precisam se concentrar em políticas que tratem o problema na raiz com o fortalecimento ao acesso à alimentação com qualidade.

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