CHEIA

Cheia do rio Negro em Manaus deve atingir o nível de 27,14 metros, prevê CPRM

Segundo a pesquisadora em geociências do SGB-CPRM, Jussara Cury, a previsão é que o rio Negro atinja a cota com um intervalo variando entre 26,58 e 27,70 m

Lucas Vasconcelos
online@acritica.com
02/05/2024 às 18:47.
Atualizado em 02/05/2024 às 18:47

(Foto: Paulo Bindá)

O nível máximo que o rio Negro deve atingir em Manaus é de aproximadamente 27,14 metros, segundo previsões do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). A previsão foi anunciada pelo órgão nesta quinta-feira (2) durante o 2º Alerta Cheias Amazonas.

Segundo a pesquisadora em geociências do SGB-CPRM, Jussara Cury, a previsão é que o rio Negro atinja a cota com um intervalo variando entre 26,58 e 27,70 m (considerando 80% de intervalo de
confiança). Este nível está abaixo da cota de inundação - nível em que as ruas do Centro de Manaus começam a ser atingidas pelo rio Negro, por exemplo.

“A previsão para Manaus, utilizando a cota do dia 30 de abril deste ano que foi 25,34 m, chegamos a uma média de 27,14 metros. A máxima vai chegar em 27,79 metros. Ou seja, se compararmos com a régua, o que nós temos é que vai estar acima da cota de alerta, porém abaixo da cota de inundação. A probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação em Manaus (de 27,50 m) é de 20%. Para a cota de inundação severa (29,00 m) essa probabilidade é de 1,0%, e para a cota máxima (30,02 m em 2021) é de 0,01%”, descreveu a pesquisadora.

Jussara Curry ressaltou que a subida do rio Negro em Manaus está dentro da normalidade e que isso implica diretamente que o cenário das enchentes dos últimos dez anos pode não se repetir em 2024.

“Em um mês antes do evento acontecer, estamos 1 metro e meio abaixo da cota de alerta. Estamos bem distantes da cota de inundação e na cota de inundação severa mais distante ainda. Que é quando o centro de Manaus começa a ter o processo de remanso, quando a drenagem não consegue escoar e fica retida em algumas ruas do Centro, rua dos Barés, próximo ao Mercado. Para esse ano [uma grande cheia] parece distante devido o processo que estamos vivenciando agora”, acrescentou Cury.

Navegação no interior em alerta

Para Itacoatiara, a primeira previsão é que o rio Amazonas atinja um valor aproximado de 12,93 m, com um intervalo provável variando entre 12,59 e 13,28 m. A probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação (de 14,00 m) é de 1% e é muito baixa probabilidade de atingir cota de
inundação severa (14,20 m) em Itacoatiara.

Já Parintins, a previsão é que o rio Amazonas atinja um valor aproximado de 7,15 m, com um intervalo provável variando entre 6,85 e 7,45. A probabilidade de que o rio venha atingir a cota de inundação em Parintins (de 8,43 m) é de 0,01% e é muito baixa a probabilidade de superar a cota de inundação severa (9,30 m) e a cota máxima (9,47 m em 2021).

A pesquisadora em geociências alerta que estes níveis podem indicar uma intensa vazante nestas estações. Com o nível dos rios abaixo do normal, as embarcoes podem enfrentar problemas de navegação durante o segundo semestre do ano.

“O que preocupa a gente é se observamos bem Itacoatiara, Parintins e Óbidos não atingiram a faixa da normalidade. Elas estão em processo de enchente com subidas regulares na ordem de 5 centímetros. Mas, mesmo assim, não chegaram no intervalo da normalize. É provável que a cheia fique abaixo deste intervalo. E por que é preocupante? O pessoal da navegação utiliza muito ali o Porto de Itacoatiara. Se não chegar em um nível característico da cheia, eles se preocupam que na época da vazante o nível não ficar seguro para essa passagem”, alertou Cury.

Estiagem histórica ainda preocupa

O pesquisador do Censipam, Gustavo Ribeiro, que também estava presente no 2° Alerta Cheias Amazonas, explicou que os efeitos da estiagem severa que resultou em uma seca história no Estado ainda reflete no acumulado de chuvas deste ano.

“Mesmo com a neutralidade, as chuvas devem aumentar. Porém, esse aumento das chuvas será no período onde chove menos aqui na região. Temos que pensar e analisar é que para o saldo tão negativo da vazante do ano passado chegue no zero a zero, isso demora um bom tempo. É preocupante. Devemos ficar bem atentos. Mesmo que as chuvas voltem, a resposta deve demorar acontecer. Isso para os níveis dos rios se aproximarem da normalidade. As chuvas podem até entrar na normalidade, segundo as previsões. Porém a resposta no nível dos rios é mais lenta”, ressaltou o pesquisador.

Novas ferramentas

Durante o encontro, a diretora de hidrologia e gestão territorial do Serviço Geológico do Brasil, Alice Castilho também anunciou as novas tecnologias incorporadas pelo órgão que devem ajudar pesquisadores e outros órgãos de monitoramento como os da Defesa Civil do Amazonas.

A primeira novidade foi classificada pelo SGB-CPRM de “mancha de inundação”, após análises da grande cheia histórica de 2021.A ferramenta visa auxiliar no monitoramento de regiões que sofrem com inundações nos períodos de cheia.

“A primeira novidade é a mancha de inundação da cheia de 2021 de 30,29 metros em Manaus. É importante que a Defesa Civil tome conhecimento deste produto e analise. Pois há áreas de refluxo, de drenagem e de esgotamento sanitário que a nossa metodologia pode não ter conseguido mapear”, descreveu a diretora.

A segunda tecnologia anunciada no evento foi a “altimetria por satélites”. Agora, o órgão consegue catalogar o nível dos rios em áreas onde não há estações por meio de imagens de satélites.

“A outra novidade é o sistema de divulgação de dados de monitoramento de nível dos rios por sensoriamento remoto. São dados de vários satélites. Alguns deles desde 2008. Ou seja, 15 anos de monitoramento as bacias da Amazônia e Pantanal. Onde há cruzamento da órbita do satélite com o nível dos rios. E, por meio deste monitoramento, é possível acompanhar o comportamento dos rios em vários outros pontos que não são monitorados dentro e fora do Brasil. Já que para a Bacia Amazônica isso é muito importante”, explicou Castilo.

A diretora destaca que estes dados, apesar de terem um erro de margem, podem servir para análises de pesquisadores e auxiliar os trabalhos desenvolvidos pela Defesa Civil do Estado e municípios.

“O que recomendamos é o uso desses dados de forma qualitativa. É um monitoramento indireto através do satélite recebendo o sinal da reflexão da luz e deduzindo que aquilo é água. Obviamente há uma incerteza maior nesse monitoramento e ele é embasado no monitoramento que é feito no solo. Isso é uma ferramenta complementar e pode ser muito útil para o enfrentamento da cheia e também para o enfrentamento da vazante”, finalizou.
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